DESOBEDIÊNCIA CIVIL
Henry David Thoreau
Prefácio Sobre Thoreau
e a Desobediência Civil
Em uma noite no final de julho de 1846, possivelmente nos dias 23 ou 24, Thoreau deixou Walden Pond e foi ao vilarejo de Concord buscar um sapato que havia deixado no sapateiro. No caminho, foi abordado por Sam Staples, o policial local, que também acumulava as funções de coletor de impostos e carcereiro. Staples pediu que Thoreau quitasse o poll tax acumulado nos últimos anos.
"Eu pago seu imposto, Henry, se você estiver sem dinheiro", ofereceu Staples. Ele também se dispôs a interceder junto aos vereadores para tentar reduzir o valor, caso Thoreau considerasse o imposto excessivo. No entanto, Thoreau explicou que sua recusa em pagar era uma questão de princípios e que não pretendia ceder agora.
Quando Staples perguntou como deveria proceder diante da situação, Thoreau sugeriu, com ironia, que ele poderia renunciar ao cargo se estivesse insatisfeito. A sugestão não foi bem recebida. "Henry, se você não pagar, terei que prendê-lo em breve", retrucou Staples. "A qualquer momento, Sam", respondeu Thoreau com calma. "Muito bem, então venha", disse Staples, conduzindo-o à prisão.
Thoreau não foi o primeiro a enfrentar prisão em Concord por inadimplência do poll tax. Mais de três anos antes, em 17 de janeiro de 1843, seu amigo Benson Alcott foi detido por Sam Staples pela mesma razão. O poll tax de Massachusetts — uma taxa fixa cobrada de todos os homens entre 20 e 70 anos, e não um imposto eleitoral — já era há muito tempo impopular. Abolicionistas viam a recusa ao pagamento dessa taxa como uma forma dramática de protestar contra um governo que legitimava a escravidão.
Embora Alcott tenha sido detido, não chegou a ser encarcerado, pois o influente cidadão de Concord, Squire Hoar, pagou o imposto em seu lugar, evitando o que considerava uma mancha para a reputação da cidade. Nos anos seguintes, a família da esposa de Alcott passou a pagar antecipadamente os impostos dele, prevenindo qualquer risco de prisão e o constrangimento de ter um parente na cadeia. Em dezembro de 1843, o amigo inglês de Alcott, Charles Lane, também recusou pagar o poll tax e foi preso. Mais uma vez, Squire Hoar saldou a dívida, e Lane foi libertado.
Esses episódios deixaram Thoreau reflexivo. Naquele período, a luta contra a escravidão ganhava força, alimentada pelo trabalho de indivíduos excepcionais que estavam moldando as bases de um movimento de massa. Figuras como William Lloyd Garrison começavam a ser reconhecidas. Já o ex-presidente John Quincy Adams, com sua constante enxurrada de petições e discursos na Câmara dos Representantes, tornava evidente a discrepância entre os ideais democráticos que o país declarava e a realidade da escravidão no Sul. O movimento abolicionista, no entanto, ainda não gozava de respeitabilidade — um status que ironicamente só alcançou após a Guerra Civil, quando sua necessidade prática já havia desaparecido. Garrison, por exemplo, ainda podia ser publicamente humilhado, como quando foi arrastado pelas ruas de Boston com correntes ao redor do pescoço. Apesar disso, o movimento começava a provocar incômodos na consciência nacional.
Thoreau, por sua vez, foi influenciado pelas atividades antiescravidão realizadas por sua mãe e irmãs, pelos jornais abolicionistas que circulavam em sua casa e pelas visitas frequentes de ativistas abolicionistas à pensão administrada por sua mãe. É provável que Thoreau tenha se encontrado com quase todos os principais abolicionistas da Nova Inglaterra à mesa de jantar da família.
Naquele período, os abolicionistas estavam divididos em dois grupos filosóficos. O primeiro, liderado por William Lloyd Garrison, adotava uma postura ativista. Eles denunciavam vigorosamente instituições como a igreja, o Estado e a imprensa, que consideravam os principais sustentáculos do status quo escravocrata. Acreditando que sua arma mais eficaz era a mobilização em massa, esse grupo priorizava o fortalecimento de sociedades abolicionistas cada vez maiores e mais combativas.
O outro grupo, liderado por Nathaniel P. Rogers, acreditava que a única solução possível para os males da sociedade estava na reforma da própria humanidade. Temiam que o plano de Garrison, ao priorizar a ação coletiva, acabasse institucionalizando as sociedades antiescravidão, transformando-as em estruturas rígidas. Para esses reformistas, uma sociedade utópica só poderia ser alcançada por meio da autorreforma individual, onde cada pessoa assumisse a responsabilidade por transformar a si mesma.
Essa filosofia tinha um apelo natural para os transcendentalistas, como Thoreau. Ele já havia demonstrado seu apoio aos princípios de Rogers nas páginas do The Dial. Agora, ao sentir-se pessoalmente chamado à ação, Thoreau naturalmente abraçou a abordagem individualista em detrimento da organizacional. Inspirado pelas ideias de Lane e Alcott, decidiu recusar o pagamento de seu próprio poll tax.
Infelizmente, os princípios de Thoreau enfrentaram a indiferença prática de Sam Staples, que por anos simplesmente ignorou sua resistência fiscal. Staples, como muitos outros cidadãos de Concord, via o "grupo transcendentalista" com ceticismo. Ele costumava comentar sobre Emerson: “Suponho que há muitas coisas que o Sr. Emerson sabe e que eu jamais entenderia; mas eu sei que há uma visão do mundo que eu conheço e ele nada sabe sobre isso.” No entanto, Staples tinha uma alta opinião de Thoreau, e sua relutância em agir contra ele refletia essa estima. Assim, enquanto Thoreau escolheu ignorar os impostos, Staples escolheu ignorar a inadimplência.
Por que Staples mudou de atitude no verão de 1846 não se sabe ao certo. Ele estava prestes a deixar seu cargo como coletor de impostos, o que pode ter implicado na responsabilidade de quitar os débitos de Thoreau para regularizar os registros.
Alternativamente, a declaração de guerra contra o México pode ter despertado um senso de dever patriótico, pressionando Staples a cobrar os impostos pendentes. De qualquer forma, ele advertiu Thoreau diversas vezes antes de finalmente prendê-lo, garantindo, no entanto, que não estava preocupado com a possibilidade de fuga: sabia que poderia encontrá-lo a qualquer momento.
A cadeia de Concord, era bem mais robusta do que se poderia esperar de uma pequena cidade. Como sede do condado de Middlesex, Concord abrigava a prisão do condado. Localizada próximo ao moinho Dim, atrás das lojas e onde atualmente fica a reitoria católica romana, a prisão era uma estrutura imponente, construída de granito, com três andares, vinte metros de comprimento e dez metros de largura, cercada por um muro de pedra de aproximadamente três metros de altura. Cada cela tinha duas janelas, conferindo à prisão um aspecto austero e formidável.
Quando Thoreau chegou, os prisioneiros estavam no pátio, aproveitando a brisa noturna e conversando. Staples pediu que todos retornassem às suas celas e apresentou Thoreau ao colega com quem dividiria o espaço. Após trancar a porta, Staples mostrou a Thoreau onde pendurar o chapéu e como se organizar na cela. O colega de cela explicou que estava preso sob acusação de incendiar um celeiro e aguardava julgamento havia três meses. Apesar disso, estava satisfeito, pois recebia alimentação e acomodação gratuitas e podia sair durante o dia para trabalhar ceifando campos. Para ele, as condições eram bastante aceitáveis.
Thoreau aproveitou ao máximo o que considerava uma oportunidade rara, extraindo de seu colega de cela toda a história da prisão, os perfis dos ocupantes e as fofocas internas, que raramente circulavam fora dali. Contudo, seu interlocutor, exausto pela enxurrada de perguntas, logo foi dormir, deixando Thoreau encarregado de apagar a lanterna. Apesar disso, Thoreau estava inquieto demais para descansar. Permaneceu algum tempo observando pela janela gradeada e ouvindo os ruídos vindos do hotel próximo. Mais tarde naquela noite, um prisioneiro em uma cela adjacente começou a gritar repetidamente, de forma quase hipnótica: “O que é a vida? Então isso é vida!”. Cansado da monotonia, Thoreau colocou a cabeça entre as barras da janela e, em voz alta, respondeu: “Bem, então o que é vida?”. A única resposta foi o silêncio, e sua recompensa, uma noite tranquila de sono.
Enquanto isso, a notícia da prisão de Thoreau rapidamente se espalhou pela vila. Ao ouvir o rumor, sua mãe correu até a cadeia para confirmar a informação e, em seguida, voltou para casa para contar à família. Naquela noite, Sam Staples havia saído por um tempo. Quando retornou, sua filha Ellen relatou que alguém batera à porta durante sua ausência, entregara um pacote e dissera: “Aqui está o dinheiro para pagar o imposto do Sr. Thoreau.” Sem se incomodar em calçar as botas novamente, Staples declarou que Thoreau poderia muito bem passar a noite na prisão e ser liberado na manhã seguinte.
A identidade da pessoa que deixou o pacote permanece envolta em mistério. Alguns acreditam que foi Emerson; outros sugerem nomes como tia Jane Thoreau, Elizabeth Hoar, Rockwood Hoar ou Samuel Hoar. Staples, por sua vez, contou tantas versões diferentes – ora um homem, ora uma jovem mulher, ora uma velha senhora, ora duas mulheres – que ele mesmo admitiu não ser uma fonte confiável. Segundo a tradição, a pessoa estava fortemente velada, e nem Staples nem sua filha puderam identificar quem era. Contudo, a maioria das evidências aponta para tia Maria Thoreau. Eben J. Loomis, um velho amigo da família, declarou em sua velhice que tinha quase certeza de que tia Maria uma vez admitiu a ele ter sido a responsável.
É provável que, ao saber das notícias trazidas pela mãe de Thoreau, tia Maria tenha ficado profundamente incomodada com a situação do sobrinho. Parece que Thoreau extraíra uma promessa de sua mãe para que ela não interferisse em seus planos, mas tia Maria, não vinculada a essa promessa, decidiu agir e pagou o imposto. Após o incidente, é possível que ela ou outros membros da família tenham pago os impostos dele antecipadamente para evitar que algo semelhante acontecesse novamente.
Na manhã seguinte, os prisioneiros receberam um café da manhã simples: pão e um quartilho de chocolate. O colega de cela de Thoreau, ao sair para seu trabalho nos campos, despediu-se dizendo que duvidava que voltaria a vê-lo. Mais tarde, Thoreau descobriu que esse colega fora absolvido em julgamento e libertado. Aparentemente, ele adormecera enquanto fumava no celeiro, provocando o incêndio de forma acidental.
Quando Staples foi libertar Thoreau, ficou surpreso ao descobrir que ele não queria sair da prisão, sendo o único prisioneiro a recusar a liberdade assim que lhe foi oferecida. Na verdade, Staples afirmou que Thoreau ficou “furioso como o diabo” ao ser solto. A recusa de Thoreau em pagar os impostos tinha como objetivo ser preso, para assim chamar a atenção de seus conterrâneos para a causa abolicionista que ele abraçava. Quando tia Maria pagou seus impostos, ela havia desfeito todo o propósito de sua ação, e, para dizer o mínimo, Thoreau não ficou contente. Como ele próprio não havia quitado os impostos, sentia que tinha o direito de permanecer na prisão, o que expressou claramente.
Staples, então, disse: “Henry, se você não sair por vontade própria, eu o expulso, pois você não pode mais ficar aqui.” Com isso, Thoreau capitulou, pegou seus sapatos no sapateiro e, meia hora depois, estava colhendo murtas em uma colina a três quilômetros de distância, onde, como ele disse com alegria, “o Estado não estava nem à vista”.
A notícia de sua prisão e libertação logo se espalhou pela cidade. Muitos o observaram, e até o pequeno Georgie Bartlett comentou que, pela agitação, parecia que ele estava vendo um livro da Sibéria ou o próprio John Bunyan. Muitos de seus concidadãos não concordaram com a ação de Thoreau. James Garty, que reconheceu que Thoreau “era um bom tipo de homem” e que “pagaria cada centavo que deve a qualquer um”, reclamou na época que “não seria possível fazer ninguém gostar dele ou de sua forma de pensar”.
Emerson, por sua vez, expressou sua desaprovação para Bronson Alcott, dizendo que a ação de Thoreau fora “má, sorrateira e de mau gosto”; mas Alcott, em resposta, defendeu a atitude de Thoreau como um exemplo digno de “desobediência civil contra os poderes estabelecidos”. Emerson, então, registrou em seu diário: “O Estado é uma besta pobre e boa, que quer o melhor. Ele é amigável, uma vaca pobre que faz o bem por você — não inveje seu feno... Enquanto o Estado desejar seu bem, não recuse seus xelins. Você tem uma causa instável: noventa partes do xelim serão gastas com o que você considera bom; dez partes para a injúria... Particularmente, é válido notar que recusar o pagamento de impostos do Estado não é de perto tão ruim quanto outros métodos ao seu alcance... A prisão é um passo para o suicídio.”
Quando Emerson encontrou Thoreau, perguntou por que ele havia ido para a cadeia, e Thoreau, de forma apropriada, respondeu: “Por que você não foi?”. Com o tempo, Emerson, refletindo sobre o ocorrido, admitiu em seu diário que a posição de Thoreau era pelo menos mais firme do que a dos abolicionistas que criticam a guerra, mas ainda assim pagam seus impostos.
Quanto a Sam Staples, suas relações com Thoreau permaneceram mais amigáveis do que nunca. Há uma história de que, certa vez, quando importunado por Staples devido aos impostos, Alcott teria recolhido todos os vermes de batata de suas próprias videiras e os jogado no jardim de Staples como forma de retaliação. No entanto, Thoreau não guardou rancor. Nos anos seguintes, ele frequentemente contratava Staples como assistente em suas tarefas de agrimensura. E Staples, por sua vez, costumava se vangloriar de que Thoreau havia sido seu prisioneiro mais notável.
A curiosidade de tantos conterrâneos de Thoreau sobre sua ação e sobre os motivos que o levaram a tentar ir para a prisão foi tamanha que ele decidiu escrever uma explicação e entregá-la como uma dissertação sobre "a relação do indivíduo com o Estado", apresentada no Liceu de Concord, em 26 de janeiro de 1848. A palestra encontrou uma audiência atenta, e, ao menos, Alcott “aproveitou muito” o discurso. Três semanas depois, por solicitação de outros cidadãos, ele repetiu a palestra para que mais pessoas pudessem ouvi-la.
Na primavera de 1849, Elizabeth Peabody, de forma inesperada, escreveu a Thoreau pedindo permissão para publicar sua dissertação. Ela estava criando um novo jornal, intitulado Aesthetic Papers, com o objetivo de continuar a mensagem transcendentalista que o The Dial havia interrompido, e desejava incluir a dissertação de Thoreau na primeira (e, como se veria, única) edição. Na época, Thoreau estava ocupado revisando as provas de seu primeiro livro e respondeu que mal tinha tempo para atividades físicas, quanto mais para copiar uma velha dissertação. No entanto, ele prometeu enviar o manuscrito em uma semana, mas avisou que o oferecia apenas para a primeira edição do jornal.
Thoreau já havia se cansado das ações procrastinatórias dos editores. Contudo, a Srta. Peabody manteve sua palavra. Seis semanas depois, no dia 14 de maio de 1849, ela publicou a revista contendo artigos de Emerson e Hawthorne, junto com a dissertação de Thoreau, agora intitulada “Resistência ao Governo Civil”[1].
Na época de sua publicação, a dissertação gerou pouca repercussão. Embora o Aesthetic Papers fosse notado aqui e ali, os críticos geralmente ignoraram a contribuição de Thoreau, concentrando-se mais nos textos de Emerson e Hawthorne na mesma edição. A única exceção foi a crítica de Sophia Dobson Collet na People's Review, de Londres, que citou vários dos parágrafos mais substanciais, precedidos pelo comentário: “Como é improvável que seja conhecido na Inglaterra, oferecemos os seguintes extratos, com a ressalva de que deve ser lido por completo para ser apreciado em sua totalidade”. Mas, com exceção dessa observação, a dissertação foi ignorada.
ON THE DUTY OF CIVIL DISOBEDIENCE[2]
BY HENRY DAVID THOREAU
1849, original: Resistance to Civil Government
Aceito de bom grado o lema: "O melhor governo é aquele que governa menos"; e gostaria de vê-lo aplicado de maneira mais rápida e sistemática. Levado ao extremo, isso equivale, no final das contas, a este princípio, no qual também acredito: "O melhor governo é aquele que não governa de forma alguma"; e, quando os homens estiverem preparados para isso, esse será o tipo de governo que terão. O governo é, na melhor das hipóteses, apenas um expediente; mas a maioria dos governos é geralmente, e todos os governos são, em alguns momentos, inconvenientes. As objeções que foram levantadas contra um exército permanente – que são muitas e de grande peso, e que merecem prevalecer – podem, afinal, também ser aplicadas contra um governo permanente. O exército permanente é apenas um braço do governo permanente. O próprio governo, que é apenas o meio escolhido pelo povo para executar sua vontade, está igualmente sujeito a ser abusado e pervertido antes que o povo consiga agir por meio dele. Tome-se como exemplo a atual guerra contra o México[3], obra de relativamente poucos indivíduos usando o governo permanente como sua ferramenta; pois, no início, o povo não teria consentido com essa medida.
Este governo americano – o que é senão uma tradição, embora recente, tentando se transmitir inalterado à posteridade, mas a cada instante perdendo parte de sua integridade? Ele não possui a vitalidade e a força de um único homem vivo; pois um único homem pode dobrá-lo à sua vontade. É uma espécie de arma de madeira para o próprio povo; e, se algum dia for usada com seriedade como uma arma real uns contra os outros, certamente se partirá. No entanto, não é menos necessária por causa disso; pois o povo precisa de alguma máquina complicada, e de ouvir seu barulho, para satisfazer a ideia de governo que possui. Os governos mostram assim como os homens podem ser enganados com sucesso, até mesmo por si mesmos, em benefício próprio. É excelente, devemos admitir; no entanto, este governo nunca promoveu por si só qualquer empreendimento, exceto pela prontidão com que saiu do caminho. Ele não mantém o país livre. Ele não coloniza o Oeste. Ele não educa. O caráter inerente ao povo americano realizou tudo o que foi conquistado; e teria feito um pouco mais, se o governo não tivesse, às vezes, atrapalhado. Pois o governo é um expediente, pelo qual os homens tentam, de boa vontade, deixar uns aos outros em paz; e, como já foi dito, quando é mais eficiente, os governados são mais deixados em paz por ele. Comércio e negócios, se não fossem feitos de borracha, nunca conseguiriam saltar sobre os obstáculos que os legisladores continuamente colocam em seu caminho; e, se alguém julgasse esses homens apenas pelos efeitos de suas ações, e não em parte por suas intenções, eles mereceriam ser classificados e punidos junto com aquelas pessoas perniciosas que colocam obstruções nos trilhos das ferrovias.
Mas, para falar de maneira prática e como cidadão, ao contrário daqueles que se dizem contrários a qualquer governo[4], eu peço, não de imediato, a abolição do governo, mas sim um governo melhor. Que cada homem declare que tipo de governo ganharia seu respeito, e esse será um passo para obtê-lo.
Afinal, a razão prática pela qual, uma vez que o poder está nas mãos do povo, uma maioria é permitida, e por muito tempo continua, a governar, não é porque eles têm mais probabilidade de estarem certos, nem porque isso parece mais justo para a minoria, mas porque eles são fisicamente mais fortes. Mas um governo em que a maioria governa em todos os casos não pode ser baseado na justiça, mesmo dentro dos limites do entendimento humano. Não pode haver um governo em que as maiorias não decidam o que é certo e errado, mas sim a consciência? – em que as maiorias decidam apenas aquelas questões às quais a regra da conveniência é aplicável? Deve o cidadão, em algum momento ou grau, resignar sua consciência ao legislador? Por que cada homem possui uma consciência, então? Penso que devemos ser homens primeiro e súditos depois. Não é desejável cultivar tanto respeito pela lei quanto pelo que é justo. A única obrigação que tenho o direito de assumir é fazer, a qualquer momento, aquilo que considero correto. É verdade que uma corporação não tem consciência[5]; mas uma corporação de homens conscienciosos é uma corporação com consciência. A lei nunca tornou os homens nem um pouco mais justos; e, por meio do respeito por ela, até os bem-intencionados tornam-se diariamente agentes da injustiça. Um resultado comum e natural de um respeito exagerado pela lei é que você pode ver uma fileira de soldados – coronel, capitão, cabo, soldados rasos, carregadores de pólvora e todos – marchando em admirável ordem por colinas e vales rumo à guerra, contra sua vontade, sim, contra o bom senso e a consciência, o que torna a marcha extremamente penosa e provoca uma palpitação no coração. Eles não têm dúvida de que estão envolvidos em um negócio condenável; todos eles têm inclinação pacífica. Agora, o que são eles? Homens, de fato? Ou pequenos fortes e depósitos móveis, à disposição de algum homem inescrupuloso no poder? Visite o Arsenal da Marinha e contemple um fuzileiro naval, um homem como o governo americano pode fazer, ou como ele pode transformar um homem com suas artes sombrias, uma mera sombra e reminiscência da humanidade, um homem de pé, mas já, pode-se dizer, enterrado em vida sob armas com acompanhamento fúnebre, embora talvez seja assim:
"Nem um tambor foi ouvido, nem uma nota fúnebre,
Enquanto levávamos seu corpo às muralhas apressados;
Nem um soldado disparou seu tiro de despedida
Sobre o túmulo onde nosso herói foi enterrado."[6]
A maioria dos homens serve ao Estado não como homens propriamente ditos, mas como máquinas, com seus corpos. Eles são o exército permanente, a milícia, os carcereiros, os policiais, os membros do posse comitatus[7]etc. Na maioria dos casos, não há qualquer exercício livre do julgamento ou do senso moral; colocam-se no mesmo nível da madeira, da terra e das pedras; e talvez se possam fabricar homens de madeira que sirvam ao propósito igualmente bem. Esses não merecem mais respeito do que homens de palha ou um punhado de sujeira. Têm o mesmo tipo de valor que cavalos e cães. No entanto, mesmo esses são comumente considerados bons cidadãos.
Outros, como a maioria dos legisladores, políticos, advogados, ministros e ocupantes de cargos públicos, servem ao Estado principalmente com suas mentes; e, como raramente fazem distinções morais, são tão propensos a servir ao diabo, sem querer, quanto a Deus. Muito poucos, como heróis, patriotas, mártires, reformadores em um sentido elevado, e homens, servem ao Estado também com suas consciências e, portanto, necessariamente resistem a ele na maior parte das vezes; e são comumente tratados por ele como inimigos. Um homem sábio será útil apenas como homem e não se submeterá a ser "argila" ou a "preencher um buraco para impedir que o vento passe"[8], mas deixará esse ofício, no mínimo, ao seu pó:
"Sou nobre demais para ser propriedade,
Para ser um subordinado sob controle,
Ou um servo útil e instrumento
De qualquer estado soberano pelo mundo."[9]
Aquele que se entrega inteiramente aos seus semelhantes parece-lhes inútil e egoísta; mas aquele que se entrega parcialmente a eles é considerado um benfeitor e filantropo.
Como deve um homem comportar-se em relação ao governo americano hoje? Respondo que ele não pode se associar a ele sem desonra. Não posso, nem por um instante, reconhecer como meu governo aquela organização política que também é o governo do escravo.
Todos os homens reconhecem o direito à revolução; isto é, o direito de recusar a obediência e resistir ao governo quando sua tirania ou ineficácia são grandes e insuportáveis. Mas quase todos dizem que esse não é o caso agora. Contudo, acreditam que foi o caso na Revolução de 1775[10]. Se alguém me dissesse que este é um governo ruim porque tributa certas mercadorias estrangeiras trazidas aos seus portos, é muito provável que eu não faria grande alarde, pois posso viver sem elas: todas as máquinas têm seu atrito; e talvez isso faça bem o suficiente para contrabalançar o mal. De qualquer forma, é um grande mal fazer alarde sobre isso. Mas, quando o atrito se transforma na própria máquina, e a opressão e o roubo são organizados, eu digo: não devemos mais ter essa máquina. Em outras palavras, quando um sexto da população de uma nação que se propôs a ser o refúgio da liberdade são escravos, e um país inteiro é injustamente invadido e conquistado por um exército estrangeiro, sendo submetido à lei marcial, penso que não é cedo demais para homens honestos rebelarem-se e promoverem uma revolução. O que torna este dever ainda mais urgente é o fato de que o país assim invadido não é o nosso, mas o exército invasor é nosso.
Paley[11], uma autoridade comum para muitos em questões morais, em seu capítulo sobre o “Dever de Submissão ao Governo Civil”, reduz toda obrigação civil à conveniência; e ele prossegue dizendo “que, enquanto o interesse de toda a sociedade exigir, ou seja, enquanto o governo estabelecido não puder ser resistido ou alterado sem inconveniência pública, é a vontade de Deus que o governo estabelecido seja obedecido, e não mais do que isso.” – “Este princípio sendo admitido, a justiça de cada caso particular de resistência é reduzida a um cálculo da quantidade de perigo e agravo de um lado, e da probabilidade e custo de resolvê-lo do outro.” Sobre isso, diz ele, cada homem deve julgar por si mesmo. Mas Paley parece nunca ter contemplado aqueles casos em que a regra da conveniência não se aplica, em que um povo, assim como um indivíduo, deve fazer justiça, custe o que custar. Se eu injustamente arrebatei uma tábua de um homem que se afogava, devo devolvê-la a ele, mesmo que isso me custe a vida[12]. Isso, de acordo com Paley, seria inconveniente. Mas aquele que salvar sua vida, em tal caso, a perderá. Este povo deve deixar de possuir escravos e de fazer guerra ao México, mesmo que isso lhes custe sua existência como nação.
Na prática, as nações concordam com Paley; mas alguém acredita que Massachusetts está fazendo exatamente o que é certo na crise atual?
“Uma prostituta do estado, uma meretriz de prata,
Que tenha sua comitiva levantando sua cauda,
enquanto sua alma arrasta-se na sujeira.”[13]
Falando praticamente, os opositores a uma reforma em Massachusetts não são cem mil políticos do sul, mas cem mil comerciantes e agricultores daqui[14], que estão mais interessados no comércio e na agricultura do que na humanidade, e não estão dispostos a fazer justiça ao escravo e ao México, custe o que custar. Não me desentendo com inimigos distantes, mas com aqueles que, próximos de casa, cooperam com e cumprem as ordens dos que estão longe, e sem os quais estes últimos seriam inofensivos. Estamos acostumados a dizer que a massa dos homens não está preparada; mas o progresso é lento porque os poucos não são materialmente mais sábios ou melhores que os muitos[15].
Não é tão importante que muitos sejam tão bons quanto você, mas que haja alguma bondade absoluta em algum lugar; pois isso fermentará toda a massa. Existem milhares que, em opinião, são contrários à escravidão e à guerra, mas que, na prática, não fazem nada para acabar com elas; que, considerando-se filhos de Washington e Franklin, sentam-se com as mãos nos bolsos e dizem que não sabem o que fazer, e não fazem nada; que até mesmo adiam a questão da liberdade em favor da questão do livre comércio, e leem tranquilamente os preços de mercado junto com as últimas notícias do México, após o jantar, e, talvez, adormeçam sobre ambos.
Qual é o preço de um homem honesto e patriota hoje? Eles hesitam, lamentam e, às vezes, fazem petições; mas não fazem nada com seriedade e eficácia. Eles esperam, bem intencionados, que outros resolvam o mal, para que não tenham mais do que se lamentar. No máximo, dão apenas um voto barato, um apoio fraco e votos de sucesso ao que é certo, enquanto isso passa por eles. Há novecentos e noventa e nove patronos da virtude para um homem virtuoso; mas é mais fácil lidar com o verdadeiro possuidor de algo do que com seu guardião temporário.
Todo voto é uma espécie de jogo, como damas ou gamão, com uma leve tonalidade moral, um brincar com o certo e o errado, com questões morais; e naturalmente o ato de apostar o acompanha. O caráter dos eleitores não está em jogo. Eu lanço meu voto, talvez, como acho certo; mas não estou profundamente envolvido para que esse certo prevaleça. Estou disposto a deixar isso para a maioria. Sua obrigação, portanto, nunca excede a da conveniência. Mesmo votar pelo certo é nada fazer por ele. É apenas expressar, de forma fraca, seu desejo de que ele prevaleça. Um homem sábio não deixará o certo à mercê do acaso, nem desejará que ele prevaleça pelo poder da maioria. Há pouca virtude na ação das massas de homens. Quando a maioria finalmente votar pela abolição da escravidão, será porque são indiferentes à escravidão, ou porque resta pouca escravidão para ser abolida pelo seu voto. Eles serão então os únicos escravos. Apenas aquele que afirma sua própria liberdade com seu voto pode apressar a abolição da escravidão.
Ouvi falar de uma convenção a ser realizada em Baltimore[16], ou em outro lugar, para a escolha de um candidato à Presidência, composta principalmente de editores e homens que são políticos por profissão; mas penso: o que importa a um homem independente, inteligente e respeitável a decisão a que eles possam chegar? Não teremos, ainda assim, a vantagem de sua sabedoria e honestidade? Não podemos contar com alguns votos independentes? Não existem muitos indivíduos no país que não participam de convenções? Mas não: descubro que o homem respeitável, assim chamado, imediatamente abandona sua posição e perde a esperança em seu país, quando seu país tem mais motivos para perder a esperança nele. Ele prontamente adota um dos candidatos assim selecionados como o único viável, provando assim que ele mesmo é viável para qualquer propósito do demagogo. Seu voto não vale mais do que o de qualquer estrangeiro sem princípios ou nativo mercenário que possa ter sido comprado. Ah, por um homem que seja um homem e, como meu vizinho diz, tenha uma espinha dorsal sólida que você não possa atravessar com a mão! Nossas estatísticas estão erradas: a população foi contada como maior do que é. Quantos homens existem por mil milhas quadradas no país? Quase nenhum.
A América não oferece nenhum incentivo para que homens se estabeleçam aqui?
O americano se tornou um "Companheiro Ímpar"[17]– alguém reconhecido pelo desenvolvimento de seu órgão de gregaridade e pela manifesta falta de intelecto e autoconfiança[18]alegre; cuja primeira e principal preocupação, ao entrar no mundo, é garantir que as casas de caridade estejam em bom estado; e, antes mesmo de vestir legitimamente a vestimenta viril[19], arrecadar um fundo para sustentar as viúvas e os órfãos que possam existir; que, em resumo, ousa viver apenas com a ajuda da Mutual Insurance Company[20], que prometeu enterrá-lo com decência.
Não é dever de um homem, naturalmente, devotar-se à erradicação de qualquer mal, mesmo o mais enorme; ele pode, de forma adequada, ter outras preocupações que o ocupem; mas é seu dever, pelo menos, lavar as mãos disso e, se não mais pensar no assunto, não dar a ele, na prática, seu apoio. Se eu me dedicar a outras atividades e contemplações, devo primeiro garantir que não as persiga sentado nos ombros de outro homem. Devo descer primeiro, para que ele também possa perseguir suas contemplações. Veja quanta inconsistência grosseira é tolerada.
Ouvi alguns dos meus citadinos[21]dizerem: “Gostaria que me ordenassem ajudar a reprimir uma insurreição dos escravos ou marchar para o México – veja se eu iria”; e ainda assim esses mesmos homens, diretamente por sua lealdade e, indiretamente, pelo menos, por seu dinheiro, forneceram um substituto.
O soldado que se recusa a servir em uma guerra injusta é aplaudido por aqueles que não se recusam a sustentar o governo injusto que faz a guerra; é aplaudido por aqueles cujo próprio ato e autoridade ele desconsidera e desdenha; como se o Estado fosse penitente a ponto de contratar alguém para puni-lo enquanto peca, mas não a ponto de parar de pecar por um momento. Assim, sob o nome de Ordem e Governo Civil, somos todos, no final, obrigados a prestar homenagem e sustentar nossa própria mesquinhez. Após o primeiro rubor do pecado, vem a indiferença; e de imoral, ele se torna, por assim dizer, amoral, e quase necessário para a vida que construímos.
O erro mais amplo e prevalente exige a virtude mais desinteressada para sustentá-lo. O leve reproche ao qual a virtude do patriotismo comumente está sujeita é o que os nobres são mais propensos a incorrer. Aqueles que, ao mesmo tempo em que desaprovam o caráter e as medidas de um governo, lhe prestam sua lealdade e apoio, são, sem dúvida, seus apoiadores mais conscientes e, assim, frequentemente os obstáculos mais sérios à reforma. Alguns estão implorando[22]ao Estado para dissolver a União, para ignorar as exigências do Presidente. Por que eles mesmos não dissolvem a união – a união entre eles e o Estado – e se recusam a pagar sua cota ao tesouro? Eles não estão na mesma relação com o Estado que o Estado está com a União? E não foram as mesmas razões que impediram o Estado de resistir à União as que os impediram de resistir ao Estado?
Como pode um homem se satisfazer em apenas manter uma opinião e desfrutá-la? Há algum prazer nisso, se sua opinião é de que ele está sendo prejudicado? Se você é enganado em um único dólar por seu vizinho, não se contente em apenas saber que foi enganado, ou dizer que foi enganado, ou mesmo em peticionar para que ele lhe pague o que é devido; mas você toma medidas efetivas imediatamente para obter o valor total e garantir que nunca será enganado novamente. Ação a partir de um princípio – a percepção e a realização do que é certo – muda coisas e relações; é essencialmente revolucionária e não é compatível com o que já foi. Ela não apenas divide estados e igrejas, mas divide famílias; sim, divide o indivíduo, separando o diabólico no homem do divino.
Leis injustas existem: devemos nos contentar em obedecê-las, ou devemos nos esforçar para emendá-las e obedecê-las até termos sucesso, ou devemos transgredi-las de imediato? Geralmente, sob um governo como este, os homens pensam que devem esperar até persuadir a maioria a alterá-las. Eles acham que, se resistirem, o remédio será pior do que o mal. Mas é culpa do próprio governo que o remédio seja pior do que o mal. Ele o torna pior. Por que não é mais apto a antecipar e providenciar a reforma? Por que não valoriza sua sábia minoria? Por que grita e resiste antes de ser ferido? Por que não encoraja seus cidadãos a estarem atentos para apontar suas falhas e fazer melhor do que ele faria? Por que sempre crucifica Cristo, excomunga Copérnico[23]e Lutero[24], e declara Washington e Franklin rebeldes[25]?
Pode-se pensar que uma negação deliberada e prática de sua autoridade é o único delito nunca contemplado pelo governo; caso contrário, por que ele não estabeleceu uma penalidade definida, adequada e proporcional? Se um homem que não possui propriedade se recusar, uma única vez, a ganhar nove xelins para o Estado, ele é preso por um período ilimitado por qualquer lei que eu conheça, determinado apenas pela discricionariedade daqueles que o colocaram lá; mas, se ele roubar noventa vezes nove xelins do Estado, logo é permitido que volte a circular livremente.
Se a injustiça for parte da fricção necessária da máquina do governo, deixe-a seguir, deixe-a seguir: talvez ela se desgaste e suavize – certamente a máquina se desgastará. Se a injustiça possui uma mola, ou uma polia, ou uma corda, ou uma manivela exclusivamente para si, então talvez você possa considerar se o remédio não será pior do que o mal; mas, se for de tal natureza que exija que você seja o agente da injustiça contra outra pessoa, então, eu digo, quebre a lei. Deixe que sua vida seja uma contra fricção para parar a máquina. O que tenho a fazer é garantir, de qualquer forma, que não me empresto ao erro que condeno.
Quanto a adotar os caminhos que o Estado forneceu para remediar o mal, não conheço tais caminhos. Eles levam tempo demais, e a vida de um homem se esvairá. Tenho outras coisas para cuidar. Vim a este mundo, não principalmente para torná-lo um bom lugar para viver, mas para viver nele, seja ele bom ou ruim. Um homem não tem que fazer tudo, mas algo; e, porque não pode fazer tudo, não é necessário que faça algo errado. Não é meu papel ficar peticionando ao Governador ou à Legislatura mais do que é o deles peticionarem a mim; e, se eles não ouvirem minha petição, o que devo fazer então? Mas, nesse caso, o Estado não forneceu nenhum caminho: sua própria Constituição é o mal. Isso pode parecer duro, teimoso e pouco conciliador; mas é tratar com a maior gentileza e consideração o único espírito que pode apreciar ou merece isso. Assim é toda mudança para melhor, como o nascimento e a morte que convulsionam o corpo.
Não hesito em dizer que aqueles que se autodenominam abolicionistas deveriam imediatamente retirar efetivamente seu apoio, tanto em pessoa quanto em propriedade, do governo de Massachusetts, e não esperar até que constituam uma maioria de um antes de permitirem que o certo prevaleça por meio deles. Acho que basta que tenham Deus ao seu lado, sem esperar por aquele outro. Além disso, qualquer homem mais correto do que seus vizinhos já constitui uma maioria[26].
Eu encontro este governo americano, ou seu representante, o governo do Estado, diretamente, face a face, uma vez por ano, e apenas uma vez, na pessoa de seu coletor de impostos; essa é a única maneira pela qual um homem na minha posição necessariamente encontra o governo; e ele então diz claramente: Reconheça-me; e a forma mais simples, mais eficaz e, na situação atual das coisas, a mais indispensável de lidar com isso, de expressar sua pouca satisfação e amor por ele, é negá-lo então. Meu vizinho civil, o coletor de impostos, é o homem com quem tenho que lidar – pois, afinal, é com homens e não com pergaminho que me confronto – e ele escolheu voluntariamente ser um agente do governo. Como ele saberá o que é e o que faz como oficial do governo, ou como homem, até ser obrigado a considerar se ele deve me tratar, seu vizinho, por quem ele tem respeito, como um vizinho e homem bem-disposto, ou como um maníaco e perturbador da paz, e ver se pode superar esse obstáculo à sua vizinhança sem um pensamento ou discurso mais rude e impetuoso correspondente à sua ação? Eu sei bem, que se mil, se cem, se dez homens que eu poderia nomear – se dez homens honestos apenas – sim, se um HOMEM HONESTO, neste Estado de Massachusetts, deixasse de manter escravos, se realmente se afastassem dessa parceria e fossem trancados na cadeia do condado por isso, isso seria a abolição da escravidão na América. Pois não importa quão pequeno o começo possa parecer: o que é bem feito uma vez, é feito para sempre. Mas preferimos falar sobre isso: dizemos que essa é nossa missão. A reforma mantém muitos jornais a seu serviço, mas nenhum homem. Se meu estimado vizinho, o embaixador do Estado[27], que dedicaria seus dias à resolução da questão dos direitos humanos no Conselho, em vez de ser ameaçado com as prisões da Carolina, se sentasse como prisioneiro de Massachusetts, aquele Estado tão ansioso para impor o pecado da escravidão à sua irmã – embora no momento ela só possa descobrir um ato de hostilidade como motivo para uma briga com ela – a Legislatura não deixaria de abordar o tema no próximo inverno.
Sob um governo que aprisiona injustamente qualquer um, o lugar verdadeiro para um homem justo também é uma prisão. O lugar adequado hoje, o único lugar que Massachusetts tem para seus espíritos mais livres e menos desanimados, é em suas prisões, para serem postos para fora e trancados fora do Estado por seu próprio ato, como já se colocaram fora por seus princípios. É lá que o escravo fugitivo, o prisioneiro mexicano sob liberdade condicional e o índio[28]que vem pleitear as injustiças de sua raça deveriam encontrá-los; nesse terreno separado, mas mais livre e honroso, onde o Estado coloca aqueles que não estão com ela, mas contra ela – a única casa em um Estado escravocrata onde um homem livre pode habitar com honra. Se alguém pensar que sua influência se perderia lá, e suas vozes não mais afligiriam o ouvido do Estado, que não seriam como um inimigo dentro de seus muros, não sabe o quanto a verdade é mais forte que o erro, nem o quanto mais eloquente e eficaz pode ser aquele que combate a injustiça após ter experimentado um pouco em sua própria pessoa. Lança seu voto inteiro, não apenas um pedaço de papel, mas toda sua influência. Uma minoria é impotente enquanto se conforma à maioria; ela nem é uma minoria, então; mas é irresistível quando bloqueia com todo seu peso. Se a alternativa é manter todos os homens justos na prisão, ou renunciar à guerra e da escravidão, o Estado não hesitará na escolha. Se mil homens não pagassem seus impostos este ano, isso não seria uma medida violenta e sangrenta, como seria pagá-los, permitindo que o Estado cometa violência e derrame sangue inocente. Isso é, de fato, a definição de uma revolução pacífica, se tal for possível.
Se o coletor de impostos, ou qualquer outro funcionário público, me perguntar, como um já fez, "Mas o que eu devo fazer?", minha resposta é: "Se você realmente deseja fazer algo, renuncie ao seu cargo." Quando o sujeito se recusa a prestar fidelidade, e o oficial renuncia ao seu cargo, então a revolução está concluída. Mas até supondo que o sangue deva ser derramado. Não há uma espécie de sangue derramado quando a consciência é ferida? Através dessa ferida, a verdadeira humanidade e imortalidade de um homem fluem para fora, e ele sangra para uma morte eterna. Vejo esse sangue fluindo agora.
Eu contemplei o aprisionamento do infrator, em vez da apreensão de seus bens – embora ambos sirvam ao mesmo propósito – porque aqueles que afirmam o direito mais puro, e consequentemente são mais perigosos para um Estado corrupto, geralmente não passaram muito tempo acumulando propriedades. Para esses, o Estado presta serviço comparativamente pequeno, e um imposto leve costuma parecer exorbitante, especialmente se forem obrigados a ganhá-lo com trabalho especial manual. Se houvesse alguém que vivesse totalmente sem o uso de dinheiro, o próprio Estado hesitaria em exigi-lo dele. Mas o homem rico – sem fazer nenhuma comparação invejosa – está sempre vendido à instituição que o faz rico. Falando de forma absoluta, quanto mais dinheiro, menos virtude; pois o dinheiro se coloca entre o homem e seus objetos, e os obtém para ele; certamente não foi grande virtude obtê-lo. Ele resolve muitas questões que, de outra forma, ele seria taxado para responder; enquanto a única nova questão que ele coloca é a difícil, mas supérflua, de como gastá-lo. Assim, seu terreno moral é tirado de sob seus pés.
As oportunidades de viver diminuem na proporção em que os chamados “meios” aumentam. A melhor coisa que um homem pode fazer para sua cultura quando é rico é tentar levar a cabo os projetos que ele tinha quando era pobre. Cristo respondeu aos herodianos[29]conforme sua condição. “Mostrem-me o tributo,” disse ele; – e alguém tirou um centavo de seu bolso; – se você usa o dinheiro que tem a imagem de César[30]nele, e que ele fez corrente e valioso, ou seja, se você é homem do Estado, e desfruta alegremente das vantagens do governo de César, então pague-lhe de volta um pouco do que é dele quando ele o exigir; “Dai, portanto, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus,”[31]– deixando-os não mais sábios do que antes sobre o que é o quê; pois eles não queriam saber.
Quando converso com os mais livres dos meus vizinhos, percebo que, seja o que for que eles digam sobre a magnitude e seriedade da questão, e seu respeito pela tranquilidade pública, o resumo da questão é que eles não podem dispensar a proteção do governo existente, e temem as consequências da desobediência a ele para suas propriedades e famílias[32]. Por minha parte, eu não gostaria de pensar que algum dia confiei na proteção do Estado. Mas, se eu negar a autoridade do Estado quando ele apresentar sua conta de impostos, logo ele tomará e desperdiçará toda minha propriedade, e me importunará e aos meus filhos sem fim. Isso é difícil. Isso torna impossível para um homem viver honestamente e ao mesmo tempo confortavelmente no que diz respeito às aparências externas. Não valerá a pena acumular propriedades; isso certamente seria perdido novamente. Você terá que alugar ou se estabelecer em algum lugar, e levantar uma pequena colheita, e comer isso logo. Você deverá viver dentro de si mesmo, e depender de si mesmo, sempre pronto para partir, e não ter muitos negócios. Um homem pode ficar rico na Turquia, se for em todos os aspectos um bom súdito do governo turco. Confúcio disse: “Se um Estado for governado pelos princípios da razão, a pobreza e a miséria são assuntos de vergonha; se um Estado não for governado pelos princípios da razão, a riqueza e as honras são assuntos de vergonha.” Não: até que eu queira que a proteção de Massachusetts seja estendida a mim em algum porto distante do sul, onde minha liberdade esteja em risco, ou até que eu esteja totalmente empenhado em construir uma propriedade em casa por meio de um empreendimento pacífico, posso me dar ao luxo de recusar lealdade a Massachusetts e seu direito sobre minha propriedade e vida. Custa-me menos, em todos os sentidos, incorrer na penalidade da desobediência ao Estado do que obedecer. Eu me sentiria como se fosse menos valioso nesse caso.
Há alguns anos, o Estado me confrontou em nome da igreja[33]e me ordenou pagar uma certa quantia para o sustento de um clérigo cujos sermões meu pai frequentava, mas eu nunca. "Pague," disse ele, "ou será trancado na prisão." Eu me recusei a pagar. Mas, infelizmente, outro homem achou por bem pagá-lo. Eu não via por que o mestre-escola deveria ser taxado para sustentar o padre, e não o padre sustentar o mestre-escola; pois eu não era o mestre-escola do Estado, mas me sustentava por subscrição voluntária.
Eu não via por que o liceu[34]não deveria apresentar sua conta de impostos, e ter o Estado para apoiar sua demanda, assim como a igreja. No entanto, a pedido dos administradores, eu acedi a fazer uma declaração como esta por escrito: – “Saibam todos os homens por estas presentes, que eu, Henry Thoreau, não desejo ser considerado membro de qualquer sociedade incorporada à qual eu não tenha aderido.” Isso eu entreguei ao secretário da cidade; e ele o tem. O Estado, tendo assim aprendido que eu não desejava ser considerado membro daquela igreja, nunca mais fez uma demanda semelhante em meu nome desde então; embora tenha dito que devia aderir à sua presunção original naquela época. Se eu soubesse como nomeá-las, teria assinado então detalhadamente minha saída de todas as sociedades nas quais nunca entrei; mas não sabia onde encontrar uma lista tão completa.
Não paguei o poll tax[35] por seis anos. Fui colocado na prisão uma vez por causa disso, por uma noite[36]; e, enquanto estava ali, observando as paredes de pedra sólida[37], de dois ou três metros de espessura, a porta de madeira e ferro, com um metro de espessura, e a grade de ferro que restringia a luz, não pude deixar de me surpreender com a tolice daquela instituição que me tratava como se eu fosse mero carne e osso, para ser trancado. Perguntei-me como ela havia concluído que esta era a melhor utilização que poderia fazer de mim, e nunca pensou em aproveitar meus serviços de alguma forma. Vi que, se havia uma parede de pedra entre mim e meus conterrâneos, havia uma ainda mais difícil de escalar ou quebrar, antes que eles pudessem alcançar a liberdade que eu tinha. Eu não me senti por um momento confinado, e as paredes pareciam um grande desperdício de pedra e cimento. Senti como se fosse o único de todos os meus conterrâneos a ter pago meu imposto. Eles claramente não sabiam como me tratar, mas se comportaram como pessoas mal educadas. Em toda ameaça e em todo elogio havia uma confusão; pois pensavam que meu maior desejo era ficar do outro lado daquela parede de pedra. Não pude deixar de sorrir ao ver como eles trancaram a porta dos meus pensamentos, que os seguiam para fora novamente, sem restrição ou impedimento, e eram, de fato, tudo o que era perigoso. Como não podiam me alcançar, haviam decidido punir meu corpo; assim como meninos, se não podem alcançar alguém contra quem têm rancor, maltratam seu cachorro. Vi que o Estado era de inteligência limitada, que era tímido como uma mulher solitária com suas colheres de prata, e que não sabia distinguir seus amigos de seus inimigos, e perdi todo o meu respeito restante por ele, e o senti.
Assim, o Estado nunca confronta intencionalmente o senso intelectual ou moral de um homem, mas apenas seu corpo, seus sentidos. Não está armado com superior inteligência ou honestidade, mas com superior força física. Eu não nasci para ser forçado. Eu respirarei do meu próprio jeito. Vejamos quem é o mais forte. Que força tem uma multidão? Só podem me forçar aqueles que obedecem a uma lei superior[38]à minha. Eles me forçam a me tornar como eles. Não ouço falar de homens sendo forçados a viver de uma maneira ou de outra por multidões de homens. Que tipo de vida seria essa para viver? Quando encontro um governo que me diz, "Seu dinheiro ou sua vida," por que eu deveria me apressar em dar-lhe meu dinheiro? Ele pode estar em grande apuro, e não saber o que fazer: não posso fazer nada sobre isso. Ele deve ajudar a si mesmo; fazer como eu faço. Não vale a pena se lamentar por isso. Não sou responsável pelo bom funcionamento da máquina da sociedade. Não sou filho do engenheiro. Percebo que, quando uma bolota e uma castanha caem lado a lado, uma não permanece inerte para abrir caminho para a outra, mas ambas obedecem a suas próprias leis, e saltam, crescem e florescem da melhor maneira que podem, até que uma, por acaso, sobreponha e destrua a outra. Se uma planta não pode viver de acordo com sua natureza, ela morre; e assim um homem.
A noite na prisão foi suficientemente nova e interessante. Os prisioneiros, de mangas de camisa, estavam conversando e aproveitando o ar da noite na porta, quando entrei. Mas o carcereiro[39]disse: "Vamos, rapazes, é hora de trancar;" e assim se dispersaram, e ouvi o som de seus passos voltando para os aposentos vazios. Meu colega de cela foi apresentado a mim pelo carcereiro como "um sujeito de primeira linha e um homem inteligente." Quando a porta foi trancada, ele me mostrou onde pendurar meu chapéu e como ele administrava as coisas ali. As salas eram pintadas de branco uma vez por mês; e esta, pelo menos, era a mais branca, a mais simples e provavelmente a mais limpa da cidade. Naturalmente, ele queria saber de onde eu vinha e o que me trouxe ali; e, quando lhe contei, perguntei, por minha vez, como ele foi parar ali, presumindo que fosse um homem honesto, claro; e, como o mundo funciona, acredito que ele fosse. "Por que," disse ele, "me acusam de ter incendiado um celeiro; mas eu nunca fiz isso." Pelo que consegui descobrir, provavelmente ele tinha ido dormir em um celeiro quando estava bêbado e fumado seu cachimbo lá; e assim o celeiro foi incendiado. Ele tinha a reputação de ser um homem inteligente, estava lá há uns três meses aguardando o julgamento[40], e teria que esperar ainda mais; mas estava bastante doméstico e contente, já que sua alimentação era gratuita e ele achava que estava sendo bem tratado.
Ele ocupava uma janela, e eu a outra; e vi que, se alguém ficasse ali por muito tempo, seu principal negócio seria olhar pela janela. Logo tinha lido todos os folhetos que estavam lá e examinado onde os prisioneiros anteriores haviam quebrado a prisão, e onde uma grade tinha sido serrada, e ouvi a história dos vários ocupantes daquela sala; pois descobri que até ali havia uma história e uma fofoca que nunca circulavam além das paredes da prisão. Provavelmente, esta é a única casa na cidade onde versos são compostos, que depois são impressos em forma de circular, mas não publicados. Fui mostrado uma longa lista de versos compostos por alguns jovens que haviam sido pegos em uma tentativa de fuga, e que se vingaram cantando-os.
Eu perguntei o máximo que pude ao meu colega de cela, com medo de que talvez nunca o visse novamente; mas, por fim, ele me mostrou qual era minha cama e me deixou para apagar a lâmpada.
Foi como viajar para um país distante, como nunca tinha esperado ver, deitar-me ali por uma noite. Parecia que nunca havia ouvido o relógio da cidade bater antes, nem os sons da noite da aldeia; pois dormíamos com as janelas abertas, que estavam dentro da grade. Era como ver minha vila natal sob a luz da Idade Média, e nossa Concord se transformava em um rio do Reno[41], com visões de cavaleiros e castelos passando diante de mim. Eram as vozes de antigos burgueses que eu ouvia nas ruas. Eu era um espectador e ouvinte involuntário de tudo o que acontecia e era dito na cozinha da pousada da aldeia vizinha[42]– uma experiência totalmente nova e rara para mim. Era uma visão mais próxima da minha cidade natal.
Eu estava realmente dentro dela. Nunca havia visto suas instituições antes. Esta é uma de suas instituições peculiares; pois é uma cidade do condado[43]. Comecei a compreender o que seus habitantes estavam fazendo.
De manhã, nossos cafés da manhã eram passados pela abertura na porta, em pequenas bandejas de lata retangulares, feitas sob medida, contendo uma pinta de chocolate, com pão escuro e uma colher de ferro. Quando pediram os utensílios novamente, eu era ingênuo o suficiente para devolver o pão que havia sobrado; mas meu companheiro o pegou e disse que eu deveria guardar aquilo para o almoço ou o jantar. Logo depois, ele foi liberado para trabalhar na colheita de feno em um campo vizinho, para o qual ele ia todos os dias, e só voltaria ao meio-dia; então ele me desejou um bom dia, dizendo que duvidava que me visse novamente.
Quando saí da prisão – pois alguém[44]interferiu e pagou o imposto – não percebi que grandes mudanças haviam ocorrido no campo, como aquele que entra jovem e sai com os cabelos grisalhos; e, ainda assim, uma mudança, aos meus olhos, havia ocorrido na cena – na cidade, no estado, no país – maior do que qualquer mudança que o mero tempo poderia ter causado.
Eu via com mais clareza o Estado em que vivia. Via até que ponto as pessoas entre as quais eu vivia podiam ser confiadas como bons vizinhos e amigos; que sua amizade era só para o clima de verão[45]; que não tinham grande intenção de fazer o que era certo; que eram uma raça distinta de mim, com seus preconceitos e superstições, assim como os chineses e malaios o são; que, em seus sacrifícios pela humanidade, não corriam riscos, nem mesmo com seus bens; que, afinal, não eram tão nobres assim, pois tratavam o ladrão como ele os havia tratado, e esperavam, por uma certa observância externa, algumas orações, e por andar em um caminho reto e inútil[46]de tempos em tempos, salvar suas almas. Isso pode ser um julgamento severo sobre meus vizinhos; pois acredito que a maioria deles não está ciente de que possuem uma instituição como a prisão em sua aldeia.
Antigamente, era costume em nossa aldeia, quando um pobre devedor saía da prisão, que seus conhecidos o cumprimentassem, olhando através dos dedos, que estavam cruzados para representar as grades de uma janela de prisão: “Como vai?” Meus vizinhos não me cumprimentaram assim, mas primeiro olharam para mim, e depois um para o outro, como se eu tivesse voltado de uma longa viagem[47]. Fui colocado na prisão enquanto ia ao sapateiro buscar um sapato que estava sendo consertado. Quando me soltaram na manhã seguinte, continuei minha tarefa, e, tendo colocado o sapato consertado, me juntei a um grupo de pessoas que iam colher mirtilos, que estavam impacientes para que eu os conduzisse; e, em meia hora – pois o cavalo logo foi preparado – estava no meio de um campo de mirtilos, em uma das nossas colinas mais altas, a dois quilômetros de distância; e então o Estado não estava mais à vista.
Esta é toda a história de “Minhas Prisões.” [48]
Nunca recusei pagar o imposto de estrada, porque sou tão desejoso de ser um bom vizinho quanto sou de ser um mau súdito; e, no que diz respeito ao apoio às escolas, estou fazendo minha parte para educar meus compatriotas agora. Não é por nenhum item específico na conta de impostos que me recuso a pagá-la. Simplesmente desejo recusar a lealdade ao Estado, me afastar e ficar à parte dele de maneira eficaz. Não me importo em rastrear o curso do meu dólar, se pudesse, até ele comprar um homem, ou um mosquete para matar um com ele – o dólar é inocente – mas estou preocupado em rastrear os efeitos da minha lealdade. Na verdade, declaro silenciosamente guerra ao Estado, à minha maneira, embora ainda faça uso dele e obtenha as vantagens que puder, como é comum em tais casos.
Se outros pagam o imposto que me é exigido, por simpatia com o Estado, eles fazem apenas o que já fizeram em seu próprio caso, ou melhor, eles auxiliam a injustiça em uma medida maior do que o Estado exige. Se pagam o imposto por um interesse equivocado no indivíduo taxado, para salvar sua propriedade ou evitar que ele vá para a prisão, é porque não consideraram sabiamente até que ponto permitem que seus sentimentos privados interfiram no bem público.
Esta, então, é minha posição no momento. Mas não se pode estar alerta demais em tal caso, para que suas ações não sejam influenciadas pela obstinação ou por uma consideração indevida pela opinião dos homens. Que ele veja que faz apenas o que lhe pertence e o que é devido ao momento.
Às vezes penso: “Bem, este povo tem boas intenções; eles são apenas ignorantes; fariam melhor se soubessem como: por que dar aos seus vizinhos essa dor de tratá-lo da maneira que não estão inclinados a tratar?” Mas penso novamente, isso não é razão para eu fazer o que eles fazem, ou permitir que outros sofram uma dor muito maior de outro tipo. Novamente, às vezes digo a mim mesmo: “Quando milhões de homens, sem ira, sem rancor, sem sentimentos pessoais de qualquer tipo, exigem de você apenas algumas moedas, sem a possibilidade, tal é a sua constituição, de retratar ou alterar sua demanda atual, e sem a possibilidade, de sua parte, de apelar a outros milhões, por que se expor a essa força bruta esmagadora?” Você não resiste ao frio e à fome, aos ventos e às ondas, de forma tão obstinada; você se submete tranquilamente a mil necessidades semelhantes. Você não coloca a cabeça no fogo. Mas, à medida que vejo isso não como uma força puramente bruta, mas parcialmente uma força humana, e considero que tenho relações com esses milhões como se fossem tantos milhões de homens, e não apenas coisas brutas ou inanimadas, vejo que o apelo é possível, primeiro e instantaneamente, deles para o Criador deles, e, segundo, deles para si mesmos. Mas, se eu coloco deliberadamente minha cabeça no fogo, não há apelo ao fogo ou ao Criador do fogo, e só tenho a mim mesmo para culpar. Se eu pudesse me convencer de que tenho algum direito de estar satisfeito com os homens como eles são, e tratá-los de acordo com isso, e não de acordo com, em alguns aspectos, minhas exigências e expectativas de como eles e eu deveríamos ser, então, como um bom muçulmano e fatalista, eu deveria tentar me satisfazer com as coisas como são, e dizer que é a vontade de Deus. E, acima de tudo, há essa diferença entre resistir a isso e a uma força puramente bruta ou natural, que posso resistir a isso com algum efeito; mas não posso esperar, como Orfeu[49], mudar a natureza das pedras, das árvores e das bestas.
Não desejo brigar com nenhum homem ou nação. Não desejo dividir cabelos, fazer distinções sutis ou me colocar como melhor do que meus vizinhos. Busco, ao invés disso, eu poderia dizer, até mesmo uma desculpa para me conformar às leis do país. Estou mais do que disposto a me conformar a elas. Na verdade, tenho razão para desconfiar de mim mesmo nesse aspecto; e a cada ano, quando o coletor de impostos vem, me vejo disposto a revisar os atos e a posição dos governos federal e estadual, e o espírito do povo, para descobrir um pretexto para a conformidade.
"Devemos afetar nosso país como nossos pais,
E se em algum momento alienarmos
Nosso amor pelo trabalho de fazê-lo honrado,
Devemos respeitar os efeitos e ensinar à alma
A matéria de consciência e religião,
E não o desejo de poder ou benefício."[50]
Acredito que o Estado em breve será capaz de tirar todo o meu trabalho desse tipo das minhas mãos, e então eu não serei um patriota melhor do que meus compatriotas. Visto de um ponto de vista mais baixo, a Constituição, com todos os seus defeitos, é muito boa; a lei e os tribunais são muito respeitáveis; até mesmo este Estado e este governo americano são, em muitos aspectos, muito admiráveis e raros, coisas pelas quais devemos ser gratos, como muitos os descreveram; visto de um ponto de vista mais alto ainda, e o mais alto, quem dirá o que são, ou se vale a pena olhar para eles ou pensar neles, ou sequer considerá-los?
No entanto, o governo não me preocupa muito, e vou dedicar o mínimo possível de pensamentos a ele. Não são muitos os momentos que vivo sob um governo, mesmo neste mundo. Se um homem está livre de pensamentos, livre de fantasias, livre de imaginação, aquilo que não é nunca aparecerá para ele por muito tempo; governantes ou reformadores imprudentes não podem interrompê-lo fatalmente.
Sei que a maioria dos homens pensa de forma diferente de mim; mas aqueles cujas vidas são, por profissão, dedicadas ao estudo desses ou assuntos semelhantes me satisfazem tão pouco quanto qualquer outro. Estadistas e legisladores, estando tão completamente dentro da instituição, nunca a veem de forma distinta e nua. Falam em mover a sociedade, mas não têm ponto de repouso fora dela. Podem ser homens de certa experiência e discernimento, e não há dúvida de que inventaram sistemas engenhosos e até úteis, pelos quais sinceramente os agradecemos; mas toda a sua inteligência e utilidade estão dentro de certos limites, não muito amplos.
Costumam esquecer que o mundo não é governado pela política e pela conveniência. Webster[51]nunca vai além do governo, e por isso não pode falar com autoridade sobre ele. Suas palavras são sabedoria para aqueles legisladores que não contemplam nenhuma reforma essencial no governo existente; mas para pensadores, e aqueles que legislam para todo o tempo, ele nunca sequer menciona o assunto.
Conheço aqueles cujas serenas e sábias especulações sobre esse tema logo revelariam os limites do alcance e da hospitalidade de sua mente. Ainda assim, comparado com as falsas profissões de muitos reformadores e a sabedoria e eloquência ainda mais baratas dos políticos em geral, suas palavras são quase as únicas sensatas e valiosas, e agradecemos ao Céu por ele.
Comparativamente, ele é sempre forte, original e, acima de tudo, prático. Ainda assim, sua qualidade não é sabedoria, mas prudência. A verdade do advogado não é a Verdade, mas consistência ou uma conveniência consistente. A verdade está sempre em harmonia consigo mesma, e não se preocupa principalmente em revelar a justiça que pode coexistir com o erro. Ele bem merece ser chamado, como foi chamado, o Defensor da Constituição. Na verdade, não há golpes a serem dados por ele, exceto defensivos.
Ele não é um líder, mas um seguidor. Seus líderes são os homens de 87. “Nunca fiz um esforço,” diz ele, “e nunca proponho fazer um esforço; nunca apoiei um esforço, e nunca pretendo apoiar um esforço, para perturbar o arranjo como foi originalmente feito, pelo qual os vários Estados entraram na União.”[52]Ainda pensando sobre a sanção que a Constituição dá à escravidão, ele diz, “Porque era parte do pacto original, – deixe assim.”
Não obstante sua acuidade e habilidade especiais, ele é incapaz de tirar um fato de suas meras relações políticas e vê-lo como ele é, absolutamente, a ser disposto pela inteligência, – o que, por exemplo, um homem deve fazer aqui na América hoje com relação à escravidão, mas se aventura, ou é levado, a fazer uma resposta desesperada como a seguinte, enquanto professa falar de forma absoluta, e como um homem particular, – de onde qual novo e singular código de deveres sociais poderia ser inferido? – “A maneira,” diz ele, “em que os governos daqueles Estados onde a escravidão existe devem regulá-la, é para sua própria consideração, sob a responsabilidade para com seus constituintes, as leis gerais da decência, humanidade e justiça, e para com Deus. Associações formadas em outro lugar, surgidas de um sentimento de humanidade, ou qualquer outra causa, não têm nada a ver com isso. Nunca receberam nenhum incentivo de minha parte e nunca o receberão.”[53]
Aqueles que não conhecem fontes mais puras de verdade, que a têm seguido até um ponto mais alto, permanecem, e com sabedoria permanecem, pela Bíblia e pela Constituição, e bebem dela com reverência e humanidade; mas aqueles que percebem de onde ela vem, fluindo para este lago ou para aquele poço, cingem mais uma vez os seus lombos[54]e continuam sua peregrinação em direção à sua fonte.
Nenhum homem com um gênio para a legislação apareceu na América. Eles são raros na história do mundo. Existem oradores, políticos e homens eloquentes, aos milhares; mas o orador que ainda não abriu sua boca para falar e é capaz de resolver as questões tão debatidas do dia ainda não apareceu. Amamos a eloquência por si mesma, e não por qualquer verdade que ela possa expressar, ou qualquer heroísmo que ela possa inspirar. Nossos legisladores ainda não aprenderam o valor comparativo do livre comércio e da liberdade, da união e da retidão, para uma nação. Eles não têm gênio ou talento para questões relativamente humildes como tributação e finanças, comércio, manufaturas e agricultura. Se fôssemos deixados apenas à sagacidade verbal dos legisladores no Congresso para nossa orientação, sem a correção pela experiência oportuna e pelas queixas eficazes do povo, a América não manteria por muito tempo sua posição entre as nações. Por dezoito séculos, embora talvez eu não tenha o direito de dizê-lo, o Novo Testamento foi escrito; ainda assim, onde está o legislador que tem sabedoria e talento prático suficientes para aproveitar a luz que ele lança sobre a ciência da legislação?
A autoridade do governo, mesmo a que estou disposto a submeter-me – pois obedecerei alegremente àqueles que sabem e podem fazer melhor do que eu, e em muitas coisas até àqueles que nem sabem nem podem fazer tão bem – é ainda uma autoridade impura: para ser estritamente justa, ela deve ter a sanção e o consentimento dos governados.
Não pode ter nenhum direito puro sobre minha pessoa e propriedade além daquele que eu concedo a ela. O progresso de uma monarquia absoluta para uma monarquia limitada, de uma monarquia limitada para uma democracia, é um progresso em direção a um verdadeiro respeito pelo indivíduo. Mesmo o filósofo chinês foi sábio o suficiente para considerar o indivíduo como a base do império[55].
Uma democracia, como a conhecemos, é a última melhoria possível no governo? Não seria possível dar um passo adiante no reconhecimento e na organização dos direitos do homem? Nunca haverá um Estado realmente livre e esclarecido até que o Estado venha a reconhecer o indivíduo como um poder superior e independente, do qual todo o seu próprio poder e autoridade derivam, e tratá-lo em conformidade.
Gosto de imaginar um Estado que finalmente possa se dar ao luxo de ser justo para com todos os homens, e tratar o indivíduo com respeito como vizinho; que mesmo não consideraria inconsistente com seu próprio repouso, se alguns vivessem afastados dele, não se intrometendo com ele, nem sendo abraçados por ele, mas cumprindo todos os deveres de vizinhos e semelhantes. Um Estado que desse esse tipo de fruto e o deixasse cair à medida que amadurecesse prepararia o caminho para um Estado ainda mais perfeito e glorioso, que também imaginei, mas ainda não vi em lugar algum.
Este livro, "Desobediência Civil", de Thoreau, exerce uma influência profunda sobre líderes e ativistas ao redor do mundo. Mohandas Gandhi, por exemplo, citou a obra diversas vezes em seus discursos, inclusive no livro "Somos Todos Irmãos", também disponível em www.jornalclandestino.org/editora. Acesse o site e confira este e muitos outros títulos que inspiram a transformação e a resistência!
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NOTAS
[1]A dissertação não recebeu seu título mais conhecido de "Desobediência Civil" até ser coletada em Yankee in Canada, with Anti-Slavery and Reform Papers em 1866, quatro anos após sua morte.
[2]Quando Thoreau entregou pela primeira vez a dissertação como uma palestra perante o Liceu de Concord (uma cidade do Massachusetts) em 26 de janeiro de 1848, ele a intitulou de “Sobre a relação do indivíduo com o Estado”. Quando foi impressa pela primeira vez, no Aesthetic Papers de Elizabeth Peabody em maio de 1849, era intitulada de “Resistência ao Governo Civil”. Ela não recebeu seu título atual de “Desobediência Civil” até que foi publicada no A Yankee In Canada, with Anti-Slavery and Reform Papers em 1866, quatro anos após sua morte. O professor Tokihiko Yamasaki da Universidade de Osaka City apontou para mim o trocadilho no título – ele não apenas implica desobediência de uma autoridade civil, mas também um jeito civil (isto é, cortês) de desobediência.
[3]Quando Thoreau entregou pela primeira vez a dissertação como uma palestra perante o Liceu de Concord (uma cidade do Massachusetts) em 26 de janeiro de 1848, ele a intitulou de “Sobre a relação do indivíduo com o Estado”. Quando foi impressa pela primeira vez, no Aesthetic Papers de Elizabeth Peabody em maio de 1849, era intitulada de “Resistência ao Governo Civil”. Ela não recebeu seu título atual de “Desobediência Civil” até que foi publicada no A Yankee In Canada, with Anti-Slavery and Reform Papers em 1866, quatro anos após sua morte. O professor Tokihiko Yamasaki da Universidade de Osaka City apontou para mim o trocadilho no título – ele não apenas implica desobediência de uma autoridade civil, mas também um jeito civil (isto é, cortês) de desobediência.
[4]A década de 1940, quando “Desobediência Civil” foi escrito, foi um período de intenso interesse por reforma social nos Estados Unidos, que incluiu muitos anarquistas filosóficos que advogaram a dissolução de todos os governos.
[5]Thoreau está aparentemente pensando sobre “Corporações... sem almas”, de Sir Edward Coke de seu Case of Sutton's Hospital.
[6]Charles Wolfe (1791 – 1823), “Burial of Sir John Moore at Corunna”.
[7]Todo o corpo de habitantes que possam ser convocados pela polícia em um eventual motim.
[8]“Imperioso Caesar, morto e transformado em barro, pode tapar um buraco para manter o vento longe.” Shakespeare, Hamlet, V. i, 236-37.
[9] Shakespeare, King John, V. ii, 79-82.
[10]A Revolução Americana, que começou em Concord, Massachusetts, em 19 de abril de 1775.
[11]William Paley (1743-1805), Moral and Political Philosophy, VI. Ii.
[12]“Se um tolo fosse apanhar uma tábua de destroços, deve um homem sábio tirá-lo dele se ele for capaz?” - Cícero, De officis, III. xxiii.
[13]“Quem achar a sua vida perdê-la-á;” – Mateus 10:39.
[14]A maior parte da resistência contra a abolição da escravatura na época era oriunda de Nortistas que temiam que tal movimento danificaria a economia da nação e cortaria seus próprios lucros.
[15] “Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar todaa massa?” Coríntios 5:6
[16]O Partido Democrata fez sua convenção de 1848 em Baltimore. Tentando derrubar andar entre o Norte e o Sul, eles evitaram qualquer discussão sobre escravidão.
[17]A Independent Order of Odd Fellows (Ordem independente de Companheiros Ímpares) é uma ordem fraternal secreta que ainda existe por todo o EUA.
[18]Uma alusão à dissertação Self Reliance (autoconfiança) de Ralph Waldo Emerson.
[19]Os meninos romanos assumiam a toga virilis ao atingir a puberdade.
[20]É uma companhia de seguros.
[21]Que faz referência a cidade; que é habitante da cidade.
[22]Alguns dos Abolicionistas mais radicais, acreditando que seria impossível jamais forçar a abolição da escravatura através do Congresso, advocaram a retirada dos estados Nortistas da União do que a obediência a leis que endossavam a escravidão.
[23]Nicolau Copérnico (1473-1543) escapou da excomungarão pela dissertação sobre o sistema solar apenas porque ele estava em seu leito de morte quando ela foi publicada.
[24]Martinho Lutero (1483-1546) foi excomungado pelo Papa Leão X, em 1520.
[25]Washington e Franklin foram, líderes da Revolução Americana contra a autoridade britânica.
[26]“Um homem com Deus está sempre na maioria” – John Knox (1505-1572).
[27]Samuel Hoar (1778-1856), vizinho de Thoreau e pai de seu amigo íntimo Edward Hoar, foi mandado para a Carolina do Sul pela Comunidade de Massachusetts em 1844 para protestar contra a prisão de marinheiros negro em navios de Massachusetts nas águas da Carolina do Sul. Ele foi forçadamente despejado do estado pela ação de sua legislatura.
[28]Thoreau era um dos poucos em sua época que protestava contra o tratamento impiedoso contra os índios americanos.
[29]Uma seita/partido mencionada no Novo Testamento como tendo, por duas vezes, manifestado oposição a Jesus, primeiro na Galileia depois em Jerusalém.
[30]Júlio César, patrício, líder militar e político romano.36 Mateus 22:21.
[31]A ordem e as palavras nesta sentença foram levemente alteradas da versão do Aesthetic Papers.
[32]Os Analectos de Confúcio, também conhecidos como Diálogos de Confúcio.
[33]Na época de Thoreau, a igreja taxava cada membro de sua congregação, e as taxas eram cobradas e coletadas pelos oficiais da cidade. A First Parish in Concord assumiu que se os pais de Thoreau frequentavam a igreja, ele também desejava ser considerado um membro e, assim, mandaram a ele uma conta com os impostos cobrados em 1840. Por conta do protesto dele a conta nunca mais foi enviada.
[34]O movimento do Liceu patrocinou uma série de aulas em várias cidades americanas no período de 1830 até a Guerra Civil. Thoreau não apenas palestrava frequentemente pela plataforma deles tanto em Concord quanto em outros lugares, mas foi por um tempo curador do Liceu de Concord.
[35]Um imposto que incide sobre todos os adultos, sem referência a renda ou recursos.
[36]Não é certo, porém, qual noite Thoreau passou na cadeia de Concord, mas é provável que tenha sido 23 ou 24 de julho de 1846.
[37]A cadeia de Concord não era um presídio de cidade pequena, mas a cadeia de Middlesex County, uma estrutura de granito maciço com três andares de altura.
[38]Uma frase favorita dos Transcendentalistas, fazendo referência à consciência de alguém ou à “voz interior de Deus”. Thoreau tem um capítulo com este nome em Walden.
[39]O carcereiro local, policial e coletor de impostos da época era Sam Staples, uma pessoa amiga de Thoreau. Nos anos posteriores, frequentemente Thoreau contratou Staples como assistente quando ele fazia agrimensuras.
[40]Thoreau mais tarde descobriu que seu colega de cela fora absolvido quando foi a julgamento.
[41]É um rio com 1233km de comprimento, que atravessa a Europa de norte a sul.
[42]O Middlesex Hotel, que não existe mais.
[43]Naquela época, Concord dividia com Cambridge a honra de ser sede de conselho do Condado de Middlesex.
[44]Embora a pessoa que tenha pagado a fiança de Thoreau não tenha sido positivamente identificada, é geralmente acordado que provavelmente foi sua tia Maria Thoreau.
[45]“Como amigos de verão, Arquivos de propriedade e raios de sol” - George Herbert, The Answer.
[46]Thoreau obviamente estava pensando nas muitas referências bíblicas a um “caminho reto” pela vida.
[47]O jovem Georgie barlett de Concord disse que ele pensava que pela excitação sobre a prisão de Thoreau ele estaria lendo um livros da Sibéria ou o próprio John Bunyan. (Walter Harding, The Days of Henry Thoreau, New York: Knopf, 1965, página 205)
[48]Silvio Pellico (1789-1854), o revolucionário italiano, escreveu uma autobiografia com este nome que foi popular na década de 1840.
[49]Orfeu, filho da Musa Calíope, de acordo com a mitologia grega, tocava sua lira com tanta maestria que rios paravam de correr, bestas esqueciam de sua selvageria e até as montanhas se moviam para ouvir.
[50]George Peele, The Battle of Alcazar (1588-89), II. ii.Thoreau reformulou e modernizou levemente o texto e, como John T. Onuska, Jr. apontou (New York Times Book Review, 6 de fevereiro de 1966, página 47), distorceu seu significado do contexto original. Estes versos não estavam inclusos na versão do Aesthetic Papers.
[51]Daniel Webster (1782-1852), famoso senador de Massachusetts.
[52]Discurso sobre a conta de excluir a escravidão dos territórios, feito por Webster em 12 de 12 de agosto de 1848. Writings, X., 38.
[53]Estes extratos foram adicionados desde que a dissertação foi lida (nota de rodapé de Thoreau).
[54]“Estejam cingidos os vossos lombos.” - Lucas 12:35
[55]Confúcio. Esta frase não estava inclusa na versão do Aesthetic Papers.
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