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A era dos Pogroms, o massacre de judeus na Europa que proporcionou o surgimento do sionismo

  • Foto do escritor: Siqka
    Siqka
  • 2 de mar. de 2024
  • 3 min de leitura

No século XIX, a maioria da população judaica se concentrava no Império Russo. De acordo com o censo de 1897, aproximadamente 5,2 milhões de judeus residiam na região conhecida como Pale of Jewish Settlement, que abrangia partes da atual Letônia, Lituânia, Polônia, Rússia, Ucrânia, Bielorrússia e Moldávia. Apesar de constituírem uma minoria de 11,3% da população total, os judeus dominavam as profissões intermediárias do mercado, incluindo comércio, artesanato, indústria, transporte e agiotagem[1], uma vez que eram proibidos de se estabelecer fora desses territórios e de se envolver na agricultura ou possuir terras aráveis.[2]

Após o assassinato do Czar Alexandre II em 1881, o governo dos sucessores Alexandre III (de 1881 a 1894) e Nicolau II (de 1894 a 1917) enfrentaram ondas de piores safras de grãos da história e uma sucessão de derrotas militares. Nicolau II absorveu muitos dos pontos de vista extremistas de seu pai e de Konstantin Pobedonostsev, que foi seu tutor. Ele culpava os judeus, a quem chamava de "assassinos de Cristo", pela violência e agitação social na Rússia. O governo tentou impor o uso da língua russa em todas as escolas e eliminar traços de culturas estrangeiras. O czar procurava fazer com que as pessoas não russas adotassem a religião, língua e cultura dos "Grandes Russos", que eram a maioria étnica do país, mas em relação à população total do império. Esses esforços causaram ressentimento e resistência em áreas como a Polônia, Ucrânia e Cáucaso.[3]

Com a fome e a miséria generalizada, eclodiram greves e revoltas populares por todo o império. Famintos e incapazes de comprar grãos dos comerciantes judeus e de pagar suas dívidas com os credores judeus, os camponeses passaram a culpar a comunidade judaica pelos problemas econômicos. Assim, iniciou-se a era dos pogroms, palavra em russo para "causar estragos, destruir violentamente".[4]

Em abril de 1903, Kishinev um grave surto antijudaico resultou na morte de 47 judeus, com 92 gravemente e 500 levemente feridos. A violência causou enormes perdas materiais à comunidade judaica, incluindo a destruição de 700 casas e o saque de 600 lojas. O episódio, planejado previamente, foi instigado pelo editor moldavo Pavolachi Krushevan, que, ao longo de seis anos, disseminou falsas acusações e incitou ódio antissemita na população.[5]

Incitados por líderes políticos, religiosos e até pelo próprio Czar, os episódios de violência contra os judeus rapidamente se espalharam por todo o território do império. As autoridades czaristas, quando não estavam envolvidas, fechavam os olhos para os ataques, que incluíam estupro e assassinato de vítimas judias, bem como o saque de suas propriedades.

Segundo Colin Tatz, que foi diretor do Instituto Australiano de Estudos do Holocausto e Genocídio, entre 1881 e 1920, a Ucrânia testemunhou 1.326 pogroms, resultando na morte de 70.000 a 250.000 judeus civis e deixando meio milhão de desabrigados. A violência dos pogroms na Europa Oriental desencadeou uma migração judaica, totalizando cerca de 2,5 milhões de pessoas.


 

[1] Os judeus constituíam 84% de todos os comerciantes de produtos agrícolas e não agrícolas, 92% de todos os comerciantes de grãos e, 45% no setor de artesanato e indústria, 30% nos serviços de transporte, e 37% de todos os agiotas. Essas profissões juntas absorviam 11% do emprego total de Pale. GROSFELD, I.; SAKALLI, S. O.; ZHURAVSKAYA. Middleman Minorities and Ethnic Violence: Anti-Jewish Pogroms in the Russian Empire. The Review of Economic Studies. London. 2017.

[2] Essas restrições territoriais e ocupacionais duraram até a Revolução de Fevereiro de 1917.

[3] NOVA CULTURA. Nicolau II. São Paulo. 1988.

[4] UNITED STATES HOLOCAUST MEMORIAL MUSEUM. Introduction to the Holocaust, Pogrom. Washington, DC.

[5] ROSENTHAL, H.; ROSENTHAL. KISHINEF. Jewish Encyclopedia.

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