O bolsonarismo que arma e explode: entre pornografia infantil e atentados terroristas
Um plano terrorista para explodir uma bomba durante o show da cantora Lady Gaga, realizado neste sábado (3/5), em Copacabana (RJ), foi frustrado pela Polícia Civil em uma operação conjunta com o Ministério da Justiça. O atentado, motivado por ódio ideológico, tinha como alvo o público LGBTQIA+ e menores de idade, justamente por representar os valores combatidos pelo grupo terrorista. A ação foi desarticulada por meio da Operação Fake Monster, conduzida pela Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV), Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), 19ª DP (Tijuca) e o Ciberlab — Laboratório de Operações Cibernéticas. De acordo com as investigações, os autores formavam uma rede de ódio em fóruns e redes sociais, onde pregavam violência como forma de “resistência”. Entre as práticas utilizadas pelo grupo estavam xenofobia, homofobia, apologia à pedofilia, incentivo à automutilação e ataques contra crianças e adolescentes — tudo mascarado como um “desafio coletivo”. O plano previa o uso de explosivos improvisados e coquetéis molotov no show gratuito, que reuniu mais de 1 milhão de pessoas em Copacabana. Lady Gaga, artista declaradamente engajada na causa LGBTQIA+, foi escolhida como alvo simbólico. A ideia era produzir pânico, mortes e visibilidade online. Durante a operação, um dos líderes do grupo foi preso em flagrante no Rio Grande do Sul por porte ilegal de arma de fogo, enquanto um adolescente no Rio de Janeiro foi apreendido por armazenar pornografia infantil. Em Macaé, outro investigado foi alvo de mandado após ameaçar assassinar uma criança ao vivo nas redes sociais. A “Fake Monster” cumpriu 15 mandados de busca e apreensão em nove cidades, espalhadas pelos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso e Rio Grande do Sul. Celulares, computadores e outros materiais foram recolhidos e passarão por perícia. Apesar da gravidade dos fatos, o caso foi mantido em sigilo até a execução da operação, para evitar pânico no público. A segurança do evento foi reforçada, e o show ocorreu sem incidentes aparentes. O nome da operação — Fake Monster — faz referência aos “Little Monsters”, como são conhecidos os fãs de Lady Gaga, e à prática dos criminosos de se esconderem por trás de perfis falsos para propagar discursos de ódio. O HISTÓRICO Enquanto crimes digitais e violência armada continuam em ascensão, os episódios de terrorismo interno também voltaram a chamar a atenção das autoridades brasileiras. Em 2024, Francisco Wanderley Luiz, bolsonarista filiado ao PL (Partido Liberal), foi responsável por duas explosões próximas ao Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília. Ele morreu durante o próprio ataque. Francisco era apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro, que atualmente responde como réu no inquérito que investiga uma tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022 — e pode vir a ser preso. Os atentados de motivação ideológica não são isolados. Em dezembro de 2022, George Washington de Oliveira Sousa e Alan Diego dos Santos Rodrigues foram condenados após planejarem uma explosão com um caminhão-tanque nas imediações do Aeroporto de Brasília. O crime foi frustrado, mas revelou um nível perigoso de organização entre extremistas. George foi preso em 24 de dezembro de 2022, dia da tentativa de ataque. A pena dele foi aumentada para 9 anos, 8 meses e 7 dias de reclusão, em regime fechado, além de multa, conforme sentença da 8ª Vara Criminal de Brasília. Alan teve a pena fixada em 5 anos de prisão, também com pagamento de multa, após revisão judicial. Apesar da gravidade, setores conservadores seguem minimizando os ataques, tratando atos terroristas como "excessos isolados". Os vínculos políticos e ideológicos desses autores com o bolsonarismo e o PL colocam em xeque o discurso oficial de que a democracia brasileira está segura.