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Foto do escritorSiqka

Facebook e a censura seletiva: violações e manipulação na supressão de vozes palestinas

Feito uma breve explicação dos termos, voltemos as violações contra o “Código”. No ano de 2022, o Facebook, da empresa Meta Platforms Inc, foi o meio de comunicação social que mais registrou práticas repressivas contra profissionais e mídias pales­tinas [6]; houve casos de censura, restrição e exclusão de contas de jornalis­tas e outros usuários que reportaram os crimes da ocupa­ção. A justificativa para censura foi a mesma em todos os casos: o combate ao “discurso de ódio”. No ano referente, o conteúdo com maior rejeição pelo Facebook e também Whatsapp, foram as publi­cações sobre a execução do combatente da resistência Ibrahim Nablusi. Morto aos 18 anos, Nablusi foi tipificado como terrorista enquanto lutava por sua emancipação, uma abordagem que só é utilizada quando convém aos censores.

Defensores dos direitos humanos e internautas engajaram-se em um debate acalorado nas redes sociais, questionando o direito dos palestinos à autodefesa, um direito equiparado ao dos ucranianos em face da invasão russa. Mas há uma diferença substancial que precisa ser levada em consideração ao se tratar a relação entre os dois casos que ocorreram simultaneamente. Enquanto os ucranianos que se defenderam foram elogiados como patriotas e até heróis, aqueles palestinos que resistem à ocupação sionista são frequentemente rotulados como terroristas. [89] 

Legalmente, as leis internacionais estipulam que tanto os ucra­nia­nos quanto os palestinos têm o direito de se defender armados contra a agressão de outro estado; isso se aplica a todas as nações. De acordo com a Carta das Nações Unidas, os Estados têm o direito inerente à legítima defesa individual ou coletiva se um ataque armado ocorrer contra eles. O Artigo 51 da Carta da ONU estabelece o direito à legítima defesa: “Nada na presente Carta prejudicará o direito inerente de legítima defesa, individual ou coletiva, no caso de ocorrer um ataque armado contra um Membro das Nações Unidas, até que o Conselho de Segurança tenha tomado medidas necessárias para manter a paz e a segurança internacio­nais.” Dessa forma, o mesmo direito que Israel tem de se defender de outros estados, os palestinos também possuem, mesmo que estejam armados.

Mesmo com respaldo internacional ao direito à legítima defesa reconhecido, a META optou por manter as postagens ucranianas e censurar as posta­gens palestinas, sob justificativa de apologia ao terrorismo e propagação de discurso de ódio. Uma investigação conduzida pela empresa de consultoria Business for Social Responsibility consta­tou que os procedimentos da META tiveram impacto negativo e significativo nos direitos dos palesti­nos de se expressa­rem livremente, bem como em seus direitos à assembleia, à participação política e à não discriminação, com­prometendo, portanto, seu direito de partilhar informações e ideias.

A META, que possui a WhatsApp Inc como uma de suas subsidiárias, estabeleceu sua primeira sede nos territórios ocupa­dos em 2012. Nesse mesmo período, também adquiriu diversas startups israelenses, incluindo a Snap Two e a Facecom, em um negócio estimado entre US$ 120-130 milhões. Estimativas indicam que a publicidade direcionada ao mercado israelense gera uma receita anual de aproximadamente 300 milhões de dólares, o que mais que duplica o investimento inicial. Enquanto o mercado israelense demonstra um grande potencial, o mercado palestino não tem qualquer relevância financeira para a empresa; assim fica fácil compreender a intenção em proteger o seu mercado.

Apesar de os israelenses terem prioridade na promoção de conteúdo, a ênfase está na remoção de conteúdo palestino. Em 2017, o American Israel Public Affairs Committee (AIPAC), um grupo de lobby pró-Israel – com histórico de difamação contra organizações em defesa dos direitos humanos –, estabeleceu um centro de comando no Vale do Silício. Seu objetivo era monitorar as publicações em defesa do direito palestino. A AIPAC iniciou uma campanha massiva contra todo conteúdo digital pró-Palestina, afirmando serem ataques antissemitas e discurso de ódio online. No mesmo ano, o YouTube o designou a AIPAC como uma “organização confiável de denúncias”, dessa maneira, o lobby monopolizou os pedidos de remoção de conteúdo online.

A conspiração nas mídias sociais contra o conteúdo palestino em 2022 ultrapassou 1.200 violações, afetando diversas platafor­mas, como Facebook, YouTube, Instagram, Twitter, WhatsApp, Tik Tok e Zoom. No entanto, outro método de violação ao código tem causado impactos ainda mais devastadores. Em 2017, foi lançado o aplicativo chamado ACT.IL, com o propósito de mobilizar apoiadores pró-Israel. A estratégia por trás era invadir e desativar sites críticos a Israel ou que apoiavam a causa palestina. A iniciativa, apoiada pelo Ministério dos Assuntos Estratégicos de Israel, foi desenvolvida por ex-oficiais de inteligência israelenses.

Sima Vaknin Gil, ex-censor israelense que posteriormente assumiu posição no Ministério de Assuntos Estratégicos de Israel, explicou que o objetivo era “construir uma comunidade de ativistas com a missão de inundar a Internet com propaganda pró-israelense. Segundo The Forward, uma revista judaica semanal dos Estados Unidos, o ACT.IL demonstrou logo após seu lançamento a habilidade de moldar as discussões online sobre Israel de maneira aparentemente independente.

 

“A mídia e sua narrativa são apoiadas e propagadas pelos Estados Unidos e mídias ocidentais. E essa narrativa chega ao Brasil também, desde sempre. Nós vimos os esforços midiáticos e diplomáticos dos EUA em 1948 para persuadir Osvaldo Aranha, que era o Presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas a levar os países do mundo a votarem a favor da criação do Estado de Israel. Assim como vimos como Netanyahu, que promoveu o apoio à eleição de Bolsonaro, um amigo de Israel, na eleição e presidente e na tentativa fracassada de reeleição.  Além disso, manifestações em favor da Palestina nas redes são alvo de ataques sionistas, como podemos lembrar do caso do ex-parlamentar Milton Temer, processado por criticar Israel.” Ahmad Alzoubi, Diretor do Monitor do Oriente, 2023. [90]

 

A influência da internet como uma ferramenta pró-Israel e contra a emancipação do povo palestino não se limita apenas à censura praticada contra jornalistas palestinos; ela é uma prática comum em todo o Ocidente. Durante o primeiro genocídio televisionado em Gaza em 2023, os internautas se envolveram em uma guerra cibernética para expor e denunciar os crimes de extermínio do povo palestino. Muitas contas foram banidas das redes sociais, e conteúdos foram removidos. Ao mesmo tempo, a grande Indústria da Desinformação perpetuava incessantemente uma série de discursos absurdos sobre o assunto.

 

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