A última linha de defesa na liberdade de imprensa dos jornalistas palestinos
A disputa de narrativas, ou melhor, a inserção de narrativas falsas, obscurece o discernimento dos receptores. Como já observamos, a criação de desinformação, por mais absurda que seja, constrói um simulacro da realidade. Esses simulacros são para a “democracia” israelense o que falsos colares de pérolas são para alguém que busca criar ilusões de si – mesmo que sejam falsos, servem para autoengano. Em Israel, esse colar de pérolas é fabricado na forma de construções que apresentam um discurso como fato, mesmo quando está longe de sê-lo.
Ao examinarmos a história mundial, percebemos que as estratégias de construção de simulacros discursivos e a disseminação de desinformação direcionada aos receptores não são algo recente. Essas práticas, sendo uma das mais antigas e com a capacidade de gerar caos social, utilizam discursos que tendem a instigar incerteza na sociedade, deixando as pessoas com pouca alternativa além de aceitar as narrativas propostas. No nazismo, o mal a ser temido eram os judeus, com Hitler sendo retratado como o herói. Nos Estados Unidos, a ameaça comunista era o mal a ser combatido em prol do capitalismo. Para o Estado de Israel, os terroristas são o mal a ser combatido, e aquele que ocupa o cargo de primeiro-ministro assume o papel de herói.
Estar informado permite que o receptor tenha conhecimento dos eventos, das violações dos direitos humanos e das condições em que a população palestina vive. Isso possibilita uma compreensão mais precisa e contextualizada do conflito e dos desafios enfrentados pelas pessoas envolvidas. Só assim é possível compreender quais são as verdadeiras mazelas sociais que devemos combater e, da mesma forma nos livrar daqueles falsos que se apresentam como heróis da pátria.
No século XIX, Karl Marx afirmou em discurso que “o orador censura a imprensa belga; mas ele não está censurando a imprensa, ele está censurando a Bélgica” [112]. Esta citação mantém sua relevância no século XXI, uma vez que um mais um sempre será igual a dois. Aplicando esse argumento às relações de poder entre as elites políticas e econômicas e o Estado de Israel, considerando como elas influenciam e controlam o fluxo de informações, restringindo a liberdade de imprensa, inclusive em ambientes digitais. Portanto, quando Israel censura a imprensa palestina, não está censurando apenas a imprensa, mas também a toda Palestina.
O Estado de Israel utiliza uma premissa falsa de caráter etnocêntrico e teocrático para promover discursos hegemônicos, como o da “identidade nacional” “histórica”, que assegura seu “direito divino” à “Terra Prometida”. Tais discursos são usados para manipular a opinião pública e restringir a diversidade de vozes e perspectivas na mídia local e internacional. Assim, perpetua-se um ciclo de censura, repressão e violações dos direitos humanos. A garantia do controle ideológico da mídia, a interrupção do processo de comunicação dos jornalistas palestinos e a promoção de discursos sectários fazem parte da estratégia para assegurar a soberania sobre o território e impedir a emancipação de todo o povo e terra Palestina.
Concordando novamente com Karl Marx, “na ausência de liberdade de imprensa, todas as outras liberdades são ilusórias” [112]. Nesse contexto, os ataques sistemáticos direcionados a jornalistas palestinos, claramente identificados como profissionais de imprensa, caracterizam-se como uma emergência. Isso se deve ao fato de que esses profissionais são civis não combatentes, protegidos pelas leis internacionais, e não representam ameaça aos soldados israelenses ou ao Estado de Israel. Esses ataques, incluindo o uso de munição real e mira acima da linha da cintura, revelam a intenção de impedir a cobertura de outros crimes e silenciar a imprensa, tornando a liberdade uma ilusão, conforme afirmado por Marx e Berlin.
Ao longo desta pesquisa, tanto em campo quanto nas fontes bibliográficas, trago à tona uma denúncia que tem sido reiterada por muitos autores e organizações desde 1948, qual posso afirmar que as violações à Liberdade de Imprensa impedem a emancipação da Palestina. Destaco que esta é uma perspectiva que visa conscientizar sobre um problema e apontar possíveis soluções. Reconheço que existem outras perspectivas e opiniões sobre o assunto, além de muitos outros estudos e pesquisas mais aptos sobre o tema. Dito isso, incentivo que outros pesquisadores se dediquem ao estudo dessa problemática, mesmo que seja para refutá-la. Acredito que, por meio de debates embasados na literatura existente e em novas perspectivas, podemos manter os canais da comunicação sempre abertos.
Somente por meio de um engajamento contínuo e da conscientização sobre essas questões poderemos almejar um futuro em que a imprensa desempenhe seu papel fundamental como guardiã da verdade e da justiça. E só assim, poderemos buscar soluções que interrompam um processo histórico do qual poderemos nos arrepender futuramente por não participarmos.
Diante de todo o exposto, a manipulação da opinião pública e a censura da imprensa por parte do Estado de Israel revelam a fragilidade da comunidade internacional e órgãos responsáveis em garantir e proteger a liberdade de imprensa como um direito humano universal. Assumirmos a postura ativa e coletiva na busca por mudanças significativas é vital para o cenário da liberdade de imprensa na Palestina. Ações como promover a educação midiática, fortalecer organizações independentes, exercer pressão internacional e exigir responsabilização das autoridades são passos importantes nesse processo. Somente por meio de esforços conjuntos e uma postura crítica poderemos contribuir para a construção de um ambiente midiático mais justo e plural, onde a liberdade de imprensa seja verdadeiramente respeitada conforme o artigo.19. Se um conjunto de leis, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, já existe, e o Estado de Israel comete diariamente crimes contra essa e outras leis internacionais, por que não vemos ninguém ser criminalizado e responsabilizados por esses crimes e violações? – Minha recomendação final é que, como seres humanos livres, lutemos pela aplicação dessas leis em benefício de nossos irmãos palestinos e de todos que enfrentam genocídios, regimes de apartheid, colonização, limpeza étnica e qualquer outra forma de preconceito. É imperativo que a Comunidade Internacional e a Organização das Nações Unidas cumpram com suas obrigações históricas, atuando para transformar os direitos humanos em realidade, retirando-os do papel.