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O terrorista que destronou o governo Assad na Síria: Quem é Abu Muhammad al-Julani, cuja cabeça vale US$ 10 milhões?

Abu Muhammad al-Julani, cujo nome verdadeiro é Ahmed Hussein al-Shar'a, é uma figura central no conflito sírio e o líder do grupo jihadista Hayʼat Tahrir al-Sham (HTS). Sua trajetória, marcada por alianças, separações e reformulações políticas, reflete não apenas a evolução do movimento jihadista na Síria, mas também os complexos jogos de poder no Oriente Médio.



Início de sua Trajetória

Al-Julani nasceu na cidade de Daraa, no sul da Síria, em uma família sunita originária da região de Idlib. Iniciou seus estudos na Faculdade de Medicina da Universidade de Damasco, mas sua trajetória tomou outro rumo em 2003, quando, em meio à Guerra do Iraque, se juntou à Al-Qaeda no Iraque. Ali, tornou-se um dos aliados mais próximos de Abu Musab al-Zarqawi, o infame líder da organização até sua morte, em 2006, durante um ataque aéreo dos Estados Unidos. Após o falecimento de Zarqawi, al-Julani se deslocou para o Líbano e, posteriormente, retornou ao Iraque, onde foi preso e detido no Campo Bucca, administrado pelos EUA.

Durante sua estadia no campo, al-Julani estabeleceu uma rede de relações que mais tarde seria fundamental para a criação da Frente al-Nusra, braço da Al-Qaeda na Síria. Ao ser libertado, seu nome começou a surgir como uma figura-chave na luta contra o regime de Bashar al-Assad durante a Guerra Civil Síria.


Liderança da Frente al-Nusra

Em janeiro de 2012, al-Julani foi designado por Abu Bakr al-Baghdadi, então líder da Al-Qaeda, para estabelecer uma célula jihadista na Síria. Assim nasceu a Frente al-Nusra. Sob seu comando, o grupo se destacou rapidamente como um dos principais opositores do regime sírio e se tornou um dos grupos mais poderosos da oposição armada.

Em abril de 2013, al-Julani anunciou que a Frente al-Nusra se separaria do recém-criado Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS), reafirmando sua lealdade à Al-Qaeda e a seu líder, Ayman al-Zawahiri. Essa decisão, embora fortalecesse a aliança com a Al-Qaeda, também colocou a Frente al-Nusra em confronto com o ISIS, que à época começava a expandir sua própria agenda radical.


Mudança Estratégica: A Dissolução da Al-Nusra e a Formação da Jabhat Fateh al-Sham

Em 2016, após anos de intensos confrontos com as forças sírias e a crescente pressão externa, al-Julani anunciou uma mudança em sua estratégia. Em 28 de julho de 2016, em um vídeo, ele afirmou que a Frente al-Nusra seria dissolvida e que surgiria, em seu lugar, a Jabhat Fateh al-Sham (JFS), uma nova organização sem laços formais com a Al-Qaeda. Este movimento visava aumentar a flexibilidade política e facilitar o apoio de países do Ocidente e do Oriente Médio. Embora a separação fosse motivada principalmente por questões estratégicas e logísticas, al-Julani continuou comprometido com a jihad contra o regime de Assad e outras forças que considerava inimigas do Islã.


A Formação de Hayʼat Tahrir al-Sham (HTS)

Em janeiro de 2017, a Jabhat Fateh al-Sham se uniu à aliança de grupos armados conhecidos como Hayʼat Tahrir al-Sham (HTS), e al-Julani se tornou o líder militar da coalizão. A partir daí, HTS tornou-se a principal facção jihadista na província de Idlib, no noroeste da Síria, região que continua sendo um reduto de oposição ao regime de Bashar al-Assad.

Apesar de suas tentativas de distanciar-se da Al-Qaeda e de reformular sua imagem como um líder local e regional mais pragmático, al-Julani permaneceu uma figura polêmica. Sob sua liderança, HTS se fortaleceu e passou a controlar uma grande parte da província de Idlib, onde milhões de sírios ainda vivem em condições extremas devido à guerra.


Novembro de 2024: A Continuação da Influência de Al-Julani

Em novembro de 2024, al-Julani continua a ser uma figura central na luta contra o regime sírio. Embora tenha sido designado como terrorista pelas autoridades dos Estados Unidos e pela ONU, e com uma recompensa de US$ 10 milhões oferecida por informações sobre seu paradeiro, ele tem se apresentado como um líder pragmático, buscando, sempre que possível, melhorar a sua imagem internacional. O controle de Idlib por HTS, sob sua liderança, permanece um dos maiores desafios para as forças do regime sírio, apoiadas por Rússia, Irã e outros aliados. Enquanto isso, suas alianças, como com a Turquia, têm sido essenciais para sua sobrevivência, embora a relação seja, muitas vezes, ambígua e estratégica.

Ao longo do tempo, Abu Muhammad al-Julani tem tentado posicionar-se como a "opção menos ruim" em comparação a outros grupos jihadistas, inclusive distanciando-se de facções como o Estado Islâmico e da Al-Qaeda. Sua habilidade em manter o controle sobre os diversos grupos de oposição síria e negociar com potências externas tem sido um dos fatores-chave que garantem a sua influência, especialmente nas negociações envolvendo Idlib.


A Influência Contínua de al-Julani na Síria

A trajetória de Abu Muhammad al-Julani reflete a complexidade da guerra civil síria e a fluidez das alianças e inimigos na região. De um comandante jihadista alinhado com a Al-Qaeda, ele conseguiu se reinventar ao longo dos anos, tornando-se o líder de uma das facções mais poderosas e influentes do noroeste da Síria, a Hayʼat Tahrir al-Sham. Com aliados estratégicos, como a Turquia e diversos grupos jihadistas locais, e enfrentando a oposição de potências como a Rússia, o Irã e o Hezbollah, al-Julani permanece uma figura central no futuro da Síria.

Seus movimentos em 2024 mostram que, apesar dos desafios, al-Julani continua sendo uma peça chave no jogo de poder que ainda define o destino da Síria e suas regiões em guerra.

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