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Alfabetização midiática, uma ferramenta para libertação da Palestina

No âmbito do curso de jornalismo, aprendemos que os profis­sionais devem ser capazes de abordar os fatos com objetividade, transformando-os em notícias de maneira imparcial. Após discu­tirmos a falsa premissa da "imparcialidade", concentremo-nos agora no conceito de "objetividade".

A objetividade refere-se à qualidade de manter-se imune a in­fluências pessoais, preconceitos ou opiniões. No contexto do jornalismo, a objetividade representa uma norma ética que demanda a apresentação de múltiplos pontos de vista, a verificação minuciosa dos fatos e a clara distinção entre notícias e opiniões. Jornalistas devem evitar expressar opiniões pessoais ou tendenci­osas em suas reportagens, fundamentando suas histórias em evidências verificáveis. Dessa forma, proporcionam aos leitores ou espectadores uma visão objetiva dos eventos, permitindo que formem suas próprias opiniões com base nos fatos apresentados.

Teoricamente, se essa regra não fosse exceção, poderíamos, de fato, exigir e prestar mais atenção à objetividade. Entretanto, isso não é o que ocorre, pelo menos não desde o século XIX.

Embora a objetividade seja um termo técnico de extrema importância, ele também pode ser usado de forma enganosa para difundir desinformação, como evidenciado durante o recente episódio de violência contra os palestinos na Faixa de Gaza e o avanço na colonização na Cisjordânia em 2023. A Indústria da Desinformação tem abordado os fatos com a “objetividade” de isolá-los. Desde o momento em que as Brigadas Al-Qassam cruzaram as fronteiras da ocupação e lançaram ataques contra Israel, a mídia tem negligenciado os 76 anos de ocupação colonial, genocídio contínuo, opressão e apartheid do povo palestino. Como se um grupo armado estivesse em um ataque terrorista por lazer e não em resposta aos 76 anos anteriores. O que está acontecendo atualmente é parte de um processo histórico em curso e não pode ser considerado um evento isolado.

A desinformação, juntamente com uma noção distorcida de objetividade que rotula todos os palestinos, inclusive os jornalis­tas, como “terroristas”, transcenderam as barreiras geográficas de Israel e se espalhou pelos cabos de fibra ótica e redes de wi-fi em todo o mundo. No Brasil, é raro encontrar veículos de comunica­ção que tenham divergido da linha editorial favorável a Israel. Em geral, as mídias comprometidas com a verdade dos fatos e postura ética e objetiva em relação aos eventos em curso foram os canais independentes.

Muitos jornalistas podem ter reproduzido esse tipo de conteúdo não necessariamente por compartilharem das políticas ou práticas sionistas que violam os direitos humanos, mas devido à necessidade de garantir que as contas estejam pagas no final de cada mês. É relevante também mencionar casos de negligência em relação à primeira regra que antecede a objetividade, que é a "checagem". Para verificar as informações, qualquer pessoa, mesmo sem ser jornalista, pode recorrer a diversas plataformas. É crucial destacar aquelas que conduzem análises de declarações feitas por políticos, tanto ao nível nacional quanto internacional. Exemplos desse tipo de serviço gratuito on-line incluem o Sno­pes, FactCheck, PolitiFact, International Fact-Checking Network e Reuters Fact Check, entre várias outras disponíveis.

Devo ressaltar que nenhuma dessas ferramentas é infalível quando se trata de disputas narrativas complexas, como o conflito entre Palestina e Israel.

Para além da checagem de informações, é fundamental que tanto jornalistas quanto o público em geral estejam atentos aos termos utilizados, evitando assim serem influenciados pelas armadilhas do senso comum. O senso comum refere-se às crenças, ideias e noções amplamente aceitas por uma sociedade ou grupo de pessoas, frequentemente sem uma base sólida em evidências científicas ou análises críticas. Essas noções são transmitidas de geração em geração e se tornam parte integrante da cultura de uma comunidade. Compreender o uso de terminolo­gia pré-estabelecida, como "antissemitismo," "guerra santa," "judaísmo" e outras expressões é o primeiro passo para evitar cair nessas armadilhas; outra forma é prestar atenção à maneira gene­ralizada e estereotipada como são empregados termos como "árabe," "muçulmano," "terrorista" e outros frequentemente utilizados para influenciar a opinião pública.

Vivemos em uma era de rápida disseminação de informações, na qual as mídias sociais e as plataformas digitais desempenham um papel significativo na formação de opiniões e consciências. No entanto, a conectividade digital também trouxe um fenômeno preocupante, a desinformação. A causa palestina desta­ca-se como um exemplo de como a desinformação pode moldar a consciência coletiva e prejudicar a busca por uma solução justa e equitativa.

Não há maneira de combater a nocividade da desinformação sem promover a alfabetização midiática e a formação de uma soci­edade crítica. As pessoas precisam ser incentivadas a questionar informações, verificar fontes e considerar diferentes perspectivas. A importância de questionar, verificar e analisar criticamente as informações que encontramos não pode ser subestimada. No contexto da causa palestina, cada clique, like ou compartilhamento pode ter consequências profundas na vida e dignidade de milhões de pessoas. A desinformação pode ser tão destrutiva quanto uma bala dispa­rada, especialmente quando contribui para perpetuar preconceitos e injustiças.

Em uma era globalizada e digital, onde nossas ações virtuais têm impactos reais, a necessidade de alfabetização midiática e educação crítica é mais urgente do que nunca. Não apenas para evitar a disseminação de informações incorretas, mas também para garantir que estejamos trabalhando juntos na busca de soluções sensatas e duradouras para os conflitos globais. A busca pela verdade e pelo entendimento é uma responsabilidade com­partilhada, e é por meio da educação e do pensamento crítico que podemos enfrentar o desafio da desinfor­mação e construir um mundo mais justo e informado.


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