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Foto do escritorSiqka

Capadócia até à próxima

Hoje é dia de partir. Os dias que estivemos na região da Capadócia foram incríveis e nos ensinaram muito sobre o povo turco, sua cultura, gastronomia e principalmente sua história. Ontem relatei que houve uma mudança de planos e, que ao invés de irmos para Istambul, decidimos ir direto para Izmir; isso passaria despercebido se no final não tivesse acontecido o que aconteceu.

 



Quando fomos comprar a passagem, percebemos que o valor estava desproporcional ao valor para outras regiões. Na prática, o valor era o mesmo de quando viemos para cá, mas para outros lugares era muito mais barato que ir para Istambul. Como de qualquer maneira iríamos de Istambul para Izmir, resolvemos adiantar o roteiro. Compramos a passagem de um senhor bem simpático que nos fez tomar uns 20 chás. Até aí tudo bem. Passamos o dia inteiro bem preguiçosos, só apreciando a paisagem de Göreme; se não fosse pelo frio e uma bota rasgada que deixava o pé congelando, estaria melhor.

 

Uma hora antes do embarque já estávamos lá na porta do senhor que vendeu a passagem e, claro, tivemos que tomar mais chá. Dez minutos antes do programado, o senhor começou a falar no telefone com o viva-voz ligado. Pensamos que não era nada demais, até que vi a cara que o casal que também esperava para o mesmo embarque fez. Falei pra Di: “deu merda”. O senhor começou a gritar com a pessoa do outro lado da linha. A Di estava de costas para o casal e ficava me perguntando como estava a cara deles; eu dizia que estavam com cara de que “deu merda”. Tinha dado merda!

 

Meia hora se passou da hora programada para o embarque e nada de ônibus. Estava muito frio, não tinha como passar sequer uma noite sem um aquecedor. Se não embarcássemos para Izmir naquele dia, teríamos de pagar outra noite de hotel em Göreme, o que não é barato, além de perder uma noite em Izmir que já estava paga. A cena do senhor gritando no telefone se repetiu algumas vezes; percebemos que não haveria ônibus de Göreme para Izmir.

 

De repente parou um táxi na porta da salinha onde o senhor havia nos vendido a passagem. Ele disse algo em turco para o casal, e eles saíram. Olhou para nós e disse “let's go”. Comecei a rir, olhei para Di e disse: “let's go” então! Empilhamos nossas mochilas sobre a do casal turco e nos apertamos no banco de trás, na frente o senhor e o motorista de táxi conversavam. Pensei que iríamos para algum lugar perto para encontrar o ônibus que abandonou nós quatro; mas nada.

 

Depois de uns 20 minutos apertados, percebi que o valor no taxímetro já ultrapassava o valor das duas passagens para Izmir. Comentei com a Di e ela disse: – Coitado, será que ele vai ter que pagar isso? – Sei lá, respondi.

 

Na estrada, o senhor fez algumas ligações. Tentávamos interpretar a cara de todos, a fim de entender por que estávamos em um táxi turco, sabe-se lá onde e indo sabe-se lá para onde. Quando o valor no taxímetro chegou próximo ao de três passagens, estacionamos atrás de um ônibus parado no meio da estrada com o pisca-alerta ligado. Ali entendemos o que havia acontecido. O ônibus realmente resolveu não entrar em Göreme para buscar apenas quatro passageiros, mas de algum jeito, aquele senhor fez com que o motorista parasse na estrada para nos esperar. Embora eu tivesse percebido que o casal do lado não tinha pago nada pelo táxi, fiquei pensando se aquele senhor não arcaria com um prejuízo do qual não tinha culpa, ainda mais se ele tivesse que pagar o táxi para voltar. Mesmo que nós também não tivéssemos culpa daquilo tudo, perguntei: “How much”? Ele sorriu e disse: “It's ok”! “Ok então”, pensei.

 

Naquela noite percebemos outra qualidade dos turcos, além de honestos, eles nunca te deixam na mão. Então, se enquanto estiver na Turquia te enfiarem dentro de um táxi, vá sem a preocupação de ser esquartejado ou ter seus órgãos vendidos no Ebay, afinal, os turcos sabem como realmente cuidar bem de seus hóspedes.

 

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