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Foto do escritorClandestino

Mochilão Mother F*cker: dez anos de estrada…

Estamos sentados na área de embarque, aguardando o momento de embarcar, enquanto observamos, através do vidro, nosso avião sendo abastecido. Esta viagem marca dez anos desde que começamos a explorar o mundo além de nossas fronteiras, e esse aniversário inevitavelmente me conduz a uma retrospectiva da última década.


Há dez anos, nossos interesses em viajar eram simples, quase ingênuos: um mochilão motherfucker como qualquer outro, sem grandes pretensões além de conhecer o mundo, mergulhar em culturas diferentes, experimentar novas religiões e, principalmente, descobrir outras formas de viver. Mas, à medida que o tempo passou, e a cada fronteira que cruzávamos, sentimos nossas raízes se entrelaçarem com este planeta e com as pessoas simples que o habitam. Cada posto de imigração tornou-se um portal para outro universo; cada estrada nos conduziu a lugares que superavam até mesmo os limites da nossa imaginação. Cada carimbo no passaporte era um diploma conquistado após um intenso aprendizado.


Hoje, olhando para trás, percebo o quanto amadurecemos, e como essas viagens foram uma verdadeira catalisadora desse crescimento.


Aprendemos a enxergar o mundo como ele realmente é, não como a imagem idealizada de um pôster de agência de viagens, mas em sua totalidade, com todas as suas imperfeições. Descobrimos que, por mais que saibamos sobre um lugar, uma cultura ou uma religião, nada se compara à experiência de vivê-los. Você pode ser geólogo, mas nunca entenderá completamente até acampar no vulcão Acatenango e sentir o solo vibrar antes de cuspir lava em direção ao céu. Pode ser um estudioso das civilizações antigas, mas nenhuma teoria se compara à presença diante das pirâmides de Gizé. Pode ser teólogo e dominar o monoteísmo judaico-cristão-islâmico, mas isso não é o mesmo que caminhar pelos pátios da Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém.


É claro, jamais subestimarei o poder dos livros – nunca, em hipótese alguma. Mas, como nos alertou Edward Said, também cometemos erros ao nos apoiar apenas neles. Há coisas que não podem ser compreendidas plenamente sem serem vivenciadas. A arquitetura, a culinária ou até mesmo o jeito como um estrangeiro é recebido nos ensinam muito sobre o que os livros não alcançam.


Dez anos percorrendo as estradas do mundo, além de incontáveis quilômetros pelas BRs, me transformaram em outra pessoa. Olhando para a companheira que esteve ao meu lado em cada passo dessa jornada, vejo o quanto ela também mudou. E sei, com absoluta certeza, que desta viagem também não retornaremos os mesmos.


O tempo passou. Talvez estejamos um pouco mais lentos, talvez mais curvados. Mas o espírito de aventura permanece tão vibrante quanto na juventude – agora, porém, mais aberto a experiências e mais livre de julgamentos precipitados.


Não quero, nem posso, trair a mim mesmo, minha companheira ou o espírito dessas viagens guardando tudo o que o mundo tem me oferecido apenas para mim. Há muitos anos, encontraram o corpo de um mochileiro perdido no Alasca. No diário que ele deixou, havia uma frase que me marcou profundamente e que justifica por que, há uma década, venho escrevendo, fotografando e compartilhando histórias do mundo. No diário de Supertramp, estava escrito:


“A felicidade só é real quando compartilhada.”


E por isso fazemos o que fazemos…

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