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Foto do escritorMohammed Hadjab

A organização do jogo França-Israel no Departamento de Seine-Saint-Denis: uma armação da extrema direita francesa e dos sionistas contra as populações francesas de origem árabe?

Apesar de certas declarações de Macron sobre os abusos e genocídios perpetrados por Israel na Palestina e no Líbano, a França continua a apoiar incondicionalmente a brutalidade sionista, com canais de notícias convencionais como LCI, BFMTV e CNews atuando como retransmissores da propaganda israelense, sem qualquer prática de jornalismo investigativo profissional. Desde boatos sobre "bebês nos fornos" até a descrição de torcedores israelenses como vítimas de pogroms na Holanda e as declarações racistas e islamofóbicas da intelectualidade sionista francesa (intelectuais, políticos, artistas e jornalistas), o jornalismo francês transformou-se em um verdadeiro laboratório de propaganda pró-Israel, sem restrições, exibindo declarações que incitam ao ódio racial, as quais, em teoria, deveriam ser condenadas pela justiça no país dos "direitos humanos".


Dois eventos quase simultâneos chamaram minha atenção:

1.      A chegada anunciada à França de Bezalel Smotrich, ministro das Finanças de Israel, que também supervisiona a Cisjordânia ocupada, marcada para quarta-feira, 13 de novembro. Figura controversa, este político abertamente supremacista participará em Paris de uma noite de gala organizada pela associação judaica francesa "Israel is Forever", próxima da extrema direita. Este evento, apresentado por seus organizadores como "a mobilização das forças sionistas francófonas em prol do poder e da história de Israel", foi alvo de um pedido de proibição feito pela Coordenação de Apelos à Paz no Oriente Médio, EuroPalestina. O chefe da polícia de Paris, Laurent Nuñez, anunciou, entretanto, que não vetaria o evento: “Não vou proibir esta manifestação. Não tenho motivos para isso”, declarou ele à BFM-TV em 10 de novembro. “Obviamente, protegeremos esta gala.” O tribunal administrativo decidiu em 9 de novembro que não havia fundamento para a proibição, pois, segundo o tribunal, não foi estabelecida “uma ameaça distinta e iminente”. Assim, a França acolherá uma das figuras mais abjetas do século XXI para angariar fundos e apoiar a política genocida de Benjamin Netanyahu. A associação "Israel is Forever" organizará um jantar requintado e caro, com Smotrich como convidado principal.

 2.      O jogo França-Israel no dia seguinte, 14 de novembro, pelo torneio das Ligas das Nações. Além disso, permitir que torcedores israelenses, reconhecidos por comportamentos racistas, violentos e supremacistas (como exemplificado pela torcida do Maccabi Tel Aviv), tenham a chance de perseguir e agredir a população de Seine-Saint-Denis, composta majoritariamente por cidadãos de ascendência árabe e confissão muçulmana, levanta sérias questões. Esse departamento, que abriga a maior concentração de árabes e muçulmanos na França, parece escolhido a dedo para sediar este confronto.

 

– Por que organizar esse polêmico jogo de futebol no lendário Stade de France? Ainda mais em uma região onde a solidariedade e identificação com a causa palestina são tão fortes? Por que não optar por sediar a partida fora da França, como fez a Bélgica, que transferiu o jogo Bélgica-Israel para a Bulgária e sem público? Por que correr esse risco em um país com a maior comunidade muçulmana, árabe e judaica da Europa?


A organização desse jogo em um local com uma significativa população árabe e muçulmana, favorável à causa palestina, só pode ser interpretada como uma estratégia deliberada do Estado francês para provocar essas comunidades, que já sofrem com racismo e discriminação. O intuito parece ser fazer com que o aparato policial se volte contra elas, as brutalize, e entregue-as à repressão sob o pretexto de proteger os torcedores israelenses, com o objetivo final de intensificar a demonização dos franceses de imigração pós-colonial aos olhos da população francesa, cada vez mais seduzida pelo discurso da extrema direita. Esse cenário seria ideal para criar uma conexão entre a narrativa de defesa da "civilização ocidental" contra os "bárbaros" árabes em Israel e na França. Não haveria justificativa mais conveniente para consolidar a extrema direita em ambos os países.


Essa tática francesa, longe de denotar qualquer imaturidade diplomática, revela o maquiavelismo típico das potências coloniais. Em 17 de outubro de 1961, também em Paris, a polícia francesa, sob a liderança de Maurice Papon, reprimiu com extrema violência uma manifestação pacífica de argelinos que protestavam contra o toque de recolher imposto exclusivamente a eles. Organizado pela Frente de Libertação Nacional (FLN), o protesto tinha como objetivo denunciar o racismo e as políticas opressivas dirigidas à comunidade argelina na França. Em resposta, o Estado francês adotou uma repressão desproporcional, resultando em dezenas, talvez centenas, de mortos e desaparecidos. A ação foi justificada pela narrativa de que a comunidade argelina em território francês representava uma ameaça à segurança nacional, associando-a à violência e à "barbárie".

Essa repressão funcionou para demonizar a população argelina na França, alimentando preconceitos e abrindo espaço para políticas mais severas de controle e discriminação racial. A França, que poderia ter sido um farol de vanguarda progressista ocidental, um ponto de diálogo entre a Europa e o mundo — simbolizada pela diversidade de sua própria seleção nacional — opta agora por "israelizar" sua sociedade, reforçando a demonização de árabes, muçulmanos e todos que se opõem à ocupação e ao genocídio.

Macron se revela como mais um Maurice Papon, e a França repete o que tem feito desde o fim da Segunda Guerra Mundial e da Guerra da Argélia: utiliza o discurso de "ordem" e "valores" ocidentais para justificar e legitimar a tortura e o estado de exceção contra seus cidadãos árabes. Afinal, quem são as verdadeiras vítimas dos novos pogroms na França?


Mohammed Hadjab

Colaboração: Siqka

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