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Foto do escritorLuiz Fernando Padulla

Explorar ou não explorar?

A notícia de que o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), seguindo análises técnicas, manteve o veto à exploração e prospecção de petróleo e gás na Margem Equatorial brasileira chamou a atenção do país. A decisão afeta quatro estados do Nordeste (Piauí, Rio Grande do Norte, Maranhão e Ceará) e dois da Região Norte (Pará e Amapá).


O IBAMA, que recuperou sua autonomia no atual governo, aponta a falta de informações cruciais que assegurem a segurança e viabilidade dessa exploração. Entretanto, lideranças políticas questionam o veto, destacando as promissoras cifras associadas à exploração: a criação de mais de 326 mil novos empregos formais, um acréscimo de R$ 65 bilhões ao Produto Interno Bruto (PIB) e R$ 3,87 bilhões em arrecadação indireta para o Brasil. Além disso, há a previsão de que, até 2034, o Brasil poderia voltar a depender de importações de petróleo com o esgotamento das reservas do Pré-Sal.


Diante disso, a pergunta surge: explorar ou não explorar?


Como biólogo e ambientalista, posiciono-me contra a exploração, não apenas pelos riscos ambientais que são reais mesmo com as precauções, mas, principalmente, pela urgência da transição para fontes de energia menos impactantes. No entanto, também compreendo a necessidade de soberania energética, além do risco de exploração predatória por capitais estrangeiros, como já ocorre na Guiana, onde a ExxonMobil, gigante estadunidense, lidera a exploração desde 2015.


Apesar da busca por energias alternativas, o petróleo e o gás natural continuam como base de 26% da geração de energia elétrica mundial, segundo a Agência Internacional de Energia, que prevê um aumento de 30% no consumo de energia até 2040. E, no Brasil, a projeção é de que esses combustíveis sigam respondendo por mais de 44% da matriz energética até 2026.


Esses números refletem a complexidade do cenário. O dilema é evidente: garantir segurança econômica e empregos explorando uma fonte que contribui para o efeito estufa ou apostar na transição energética, área em que o Brasil tem um imenso potencial de liderança?


Alternativas como políticas públicas sustentáveis, investimento em transporte público de qualidade e, sobretudo, uma conscientização genuína sobre a matriz energética são passos fundamentais. Acreditar que a eletrificação do transporte resolve o problema é simplista, pois envolve uma cadeia de exploração mineral em países vulneráveis e, muitas vezes, dependente de energia fóssil.


Para que essa decisão seja tomada de forma transparente e racional, é essencial promover um debate amplo e participativo, que reforce a verdadeira democracia e evite a desmoralização do IBAMA. Demonizar o órgão, ainda em recuperação dos ataques do governo anterior, seria um retrocesso e uma incoerência.


A discussão está aberta, e espera-se que seja conduzida de forma criteriosa e sem paixões partidárias. Afinal, quando se trata da sinuca de bico energética, o buraco é bem mais embaixo.

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