top of page
Foto do escritorSiqka

Göreme, a Capadócia e suas chaminés de fada

Chegamos na região da Capadócia e não vimos nenhum único balão. Antes de falar sobre balões, lindas paisagens, ou São Jorge, cavernas e cavalos, abrimos um pequeno trecho para propaganda gratuita.

 



Viagens de ônibus sempre fizeram parte das nossas aventuras, inclusive a rota mais longa do mundo (São Paulo – Lima) já fizemos. Penso que temos um pouco de “bagagem” para falar do assunto. A empresa Metro Bus – que não é patrocinadora deste diário – dispensa elogios. Uma das mais queridas por viajantes internacionais. Em geral escolhemos a empresa mais barata, mas, neste caso, a Metro estava com o valor da passagem alinhado com os de outras empresas; como anteriormente lemos muitos relatos positivos “resolvemos pagar para ver”.

 

Absolutamente esta foi a viagem mais impressionante de todas. Tem wi–fi funcional, lanche, entretenimento de bordo, aquecedor – no árduo inverno turco –, chá, café e (juro por Deus) um “ônibusmoço” para servir aos passageiros. – Garçom? Nem sei que nome dar ao cavalheiro que nos serviu a todo momento.

 

Brincadeiras à parte, a empresa Metro é sem dúvida a mais completa das quais já viajamos, e acredite se quiser, o trajeto é de 12 horas! Viajamos umas três horas e estou metendo mesmo os burros na frente: ainda que, daqui alguns minutos nos mandem descer e continuar a pé, já valeria o valor pago. E por que é tão importante falar sobre essa viagem? – Vamos dizer que pagamos muito pouco por uma distância muito longa e por um serviço muito bom. Isso nos faz pensar como as companhias de transporte no Brasil tratam seus clientes. Será que estamos realmente recebendo o serviço que merecemos pela quantia que pagamos? Fica a dica, Renan Filho (Ministro dos Transportes).

 

Outra coisa a ressaltar no atendimento da empresa é algo que se completa em todos os cidadãos turcos que cruzamos pelo caminho; todos, sem exceção, foram receptivos, prestativos e muito educados. Geralmente no Brasil costumamos usar o termo “turco” de modo pejorativo quando queremos falar de alguém que visa dinheiro. Precisamos rever nossos conceitos ao empregar termos maldosos como este.

 

Temos muito a falar sobre a Capadócia, mas falaremos sobre o dia de hoje apenas. Chegamos no Henna Hotel um pouco antes do previsto, nosso recepcionista foi muito atencioso, mas não pudemos entrar, pois ainda havia pessoas hospedadas no quarto que nos estava reservado. Escolhemos o Henna Hotel pela localização: de maneira alguma eu toparia um voo de balão; porém, do terraço deste hotel, podemos ter uma das melhores vistas dos famosos balões da Capadócia – e bem de perto! Em Göreme existe uma infinidade de hotéis para todos os gostos. No fim optamos por um hotel–caverna, típico da região.

 

Antes de entrar no quarto, fomos ao café para matar o tempo e, uaaaauuuu! Outra surpresa. Sendo um país de maioria da população muçulmana, os turcos não costumam consumir bebida alcoólica, pelo menos não em público, e não como no Brasil. Sendo assim, o costume aqui é os homens se encontrarem nesses “cafés” para tomarem chá e jogarem dominó, cartas, gamão e outros tipos de jogos que não reconhecemos. Entramos justamente em uma dessas casas de chá, ou café, ou sei lá como chama; e advinha quem era a única mulher. Foi como um alienígena entrando no bar, embora estranho, ninguém olhou feio. Comemos umas baklavas[1], tomamos uns chás, e seguimos nosso rumo.

 

A paisagem de Göreme, moldada pelos ventos e pela chuva, possui predominantemente calcário em sua formação geológica, o que possibilitou que fossem esculpidas pelo homem. Os primeiros cristãos, perseguidos pelo Império Romano, – na época politeísta – encontraram nas rochas um habitat para escavar suas casas, igrejas, monastérios e até cidades inteiras subterrâneas. Hoje, essas cavernas são usadas como residências, hotéis e restaurantes. Contudo, com o crescimento da especulação imobiliária para turismo, as escavações foram proibidas pelo governo por motivo de preservação; mesmo quem já adquiriu uma propriedade não pode escavar além do que já foi feito, assim, algumas casas expandem em torno das cavernas.

 

Assim que o Henna nos liberou o quarto, subimos para carregar as baterias e um pouco de nossa própria energia, afinal, passar 12 horas dentro de um ônibus é muito cansativo. Baterias, corpo e mente carregados, é hora de sair. Pelo menos no presente período de baixa temporada, Göreme permanece tranquila, com poucos turistas, o que nos agrada muito. Os preços estão ótimos, apesar do real ter se desvalorizado bastante nos últimos quatro anos. Como o horário não ajudou muito, decidimos caminhar até o Sunset Point e assistir ao pôr do sol. Caminhamos entre casas, hotéis e comércios esculpidos nas rochas: de perto, ainda mais impressionantes. A subida não foi longa, porém, a cada nova curva, parávamos para fotografar.

 

Sem sombra de dúvida, o mais impressionante na paisagem de Göreme são as chaminés de fada. Imensas rochas que emergem do solo. Essas chaminés existem em outros lugares do mundo, como em Utah, nos Estados Unidos; mas as da Capadócia possuem uma decoração peculiar.

 

Passeamos por entre as chaminés de fadas e aproveitamos o pôr do sol. O frio estava intenso, aproximadamente 5°C no sol; compramos mais um chá para esquentar ao menos nossas mãos, e nos sentamos embaixo de uma árvore cheia de olhos turcos com vista para o vale da cidade.

 

Uma curiosidade: no Brasil chamamos o amuleto em formato de olho de vidro (tipicamente azul) contra mau–olhado, de olho grego, mas na Turquia, onde é ainda mais popular, seu nome é Nazar, ou “Olho Turco”. No islã, conforme descrito no compilado de livros Sahih Muslim, o profeta Mohammad declarou: “A influência de um mau–olhado é um fato.” Por isso é comum ver um muçulmano dizer Masha’Allah, ou seja, “Deus quis isso”.

 

Eu, que já sou apaixonada por árvores, que além de purificar o ar, renovam as energias da vida, estou ainda mais apaixonada por essas arvores decoradas com olhos turcos que as pessoas foram deixando por ali no Sunset Point. Fico pensando: se cada árvore pudesse produzir um único fruto de olho turco, não viveríamos em um mundo tão negativo. Eu já estou à procura de um olho turco bem bonito para plantar em casa.



 

[1] Baklavas são doces de origem oriental, feitos com camadas finas de massa folhada, nozes ou pistaches triturados e regados com xarope de açúcar. Essa sobremesa é muito apreciada em várias culturas do Oriente Médio e do Mediterrâneo.

Creative Commons (1).webp

ÚLTIMAS POSTAGENS

bottom of page