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Foto do escritorSiqka

A humanidade em fase terminal: Como o genocídio adoeceu a todos nós; quase todos!

Não sei qual a sua rotina, mas a minha, antes do 7 de outubro, era acordar, preparar um café amargo, pegar o celular e ver algumas notícias antes de começar o dia; não consigo mais. Agora, a primeira coisa que vejo quando acordo é o total de mortos que Israel assassinou enquanto eu dormia e, quando encerro meu dia, vejo quantos palestinos, libaneses ou sírios foram bombardeados ao tempo que eu trabalhava, lia um livro, almoçava, jantava e passava um tempo com minha família. Nada mais é igual. É difícil fazer todas essas coisas comuns do dia a dia sabendo que milhões de seres humanos em zonas de conflito armado não podem fazer coisas simples como abrir a torneira e tomar um copo d’água. Ainda pior é saber que isso tudo não está acontecendo só na Palestina, mas também em Burkina Faso, Somália, Sudão, Iémen, Mianmar, Nigéria e tantos outros lugares em diferentes escalas, e desses, quase nada se fala.


O que o mundo se transformou, o que estamos presenciando ao vivo está nos adoecendo aos poucos, e a falta de humanidade daqueles que poderiam e deveriam agir para deter esses massacres só evidencia que a humanidade agoniza de uma doença em estágio terminal.


De uma forma ou de outra, caminhamos para a extinção, se não de nossa espécie, pelo menos de tudo que significa a palavra humanidade. Acreditamos que a resposta de um governo ou governante realmente surtirá efeito: não surte! Esperamos o Tribunal Internacional condenar os crimes de guerra de um estado genocida: quando faz, não é o bastante! Torcemos para que a ONU adote posições mais firmes, mas, em vez disso, um homem responsável por milhares de mortos, mutilados e famintos é aplaudido de pé no Congresso por seus pares, membros do estado que se autodenomina o berço da liberdade! Isso tudo nos mostra uma verdade: o corpo de nossa sociedade internacional está impregnado de células cancerígenas que estão matando a todos nós, uns instantaneamente pelas bombas produzidas pelos mesmos que fazem lindos discursos no púlpito das Nações Unidas e outros, como nós, aos poucos por assistir a tudo isso, impregnados com o sentimento de impotência.


Mas a enfermidade que nos assola tem muitos sintomas, e age diferente em cada pessoa. Um desses sintomas é conviver com pessoas – no trabalho, na escola ou em casa – que não dão a mínima para o que está acontecendo no mundo. Não sei você, mas ontem estava em uma reunião familiar e me incomodou saber que, quando decidi estragar a festa e abrir a boca para falar da Palestina e dos outros conflitos ao redor do mundo, a maioria dos presentes pensou "foda-se" ou "lá vem ele novamente encher o saco com esse assunto". "Ninguém liga" é muito forte para um rótulo, mas talvez eu possa usar "a maioria não liga" para o que acontece na Palestina ou na República Democrática do Congo desde que não falte sua cerveja gelada. Se essa insensibilidade ou falta de empatia não é mais um sintoma de uma sociedade com uma doença crônica moral, não sei mais o que é!


Mas não posso culpar pessoas por serem infectadas por um vírus, mas posso apontar seu agente infeccioso: a mídia corporativa e sua manipulação midiática. Uma mídia que, desde o começo de outubro, se recusa a dar notícias sobre o genocídio, e quando dá, abre com um lead falado por algum engravatado algo do tipo "Hamas isso, Hamas aquilo", como que para justificar o assassinato de mais de 40 mil pessoas; sobre o Sudão então, nem merece nota. A mídia opera como o maior canal de vendas do planeta; eles vendem em horário nobre todos esses agentes nocivos à nossa saúde, tais como independência e democracia, mas que no fundo só correspondem à sua própria independência e desde que a democracia seja controlada por ela. Portanto, não posso culpar aqueles que estão infectados pela merda da televisão; afinal, eles nem sabem que não passam de ratos em um laboratório.


Nessa doença que nos tocou, há também os farmacêuticos, tão infectados quanto todos nós, mas eles continuam vendendo remédios ineficazes, mesmo quando estão tossindo na mercadoria. Considero essa espécie a pior manifestação dessa doença. – Não fui claro o bastante? – Permita-me ser mais direto. Existem por aí muitos que gritam aos ventos "Free Palestine" ou “Save the Children in Sudan”, mas no fundo, adoram os louros que colhem do benefício de se falar sobre crianças mortas nas redes sociais. Já vi venderem de tudo, desde rifas até promessas vazias. Em uma situação hipotética, fico pensando no efeito colateral de sobreviver a essa doença; talvez muitos desses farmacêuticos tornem-se no futuro próximo aqueles mesmos engravatados na câmara ou no senado que fingem estar lutando por nós, mas que na verdade estão lutando apenas pelo seu próprio clã.


Por outro lado, há os enfermos que já foram desenganados pelos médicos e sabem exatamente que seu tempo está acabando; acho que me enquadro nesse caso. Sinto que a doença da "humanidade" me pegou. Não sou exceção ou não estou me colocando em um patamar superior; muito pelo contrário, preferia não ter em meu organismo uma célula chamada moral, a qual me impede de comer, viver ou ser feliz como antes. Sei que muitos, principalmente você que está lendo esse texto, padecem aos poucos assim como eu. Como posso ter essa certeza? Simples: você parou alguns minutos do seu dia para realmente ler esse desabafo do autor e não ficou apenas discutindo a manchete nas redes sociais para ganhar seguidores ou coração vermelho no Instagram. Para pessoas como nós, não restam muitas opções; estamos lutando contra o tempo e só há um tratamento: resistir! Resistir, existir, viver e lutar por aqueles que não podem.




O prognóstico talvez não seja promissor, mas mesmo assim devemos insistir no tratamento. Já conhecemos a doença, lutamos contra os sintomas e conhecemos os efeitos colaterais; agora, o que nos resta é procurar um soro antiofídico para esse veneno em nossas veias. Os genocídios ao redor do mundo estão nos matando como humanidade; permitir que estados criminosos como Israel encontrem sua "solução final" é o mesmo que amarrar uma corda ao pescoço e se jogar da cadeira. Sei que vou morrer, sei que tenho pouco tempo, mas não morrerei hoje; enquanto estiver de pé, eu luto.


Este texto é dedicado a você, companheira ou companheiro que luta e se indigna. Sei que isso está acabando conosco e que precisamos saber que não estamos sozinhos para que tenhamos força de acordar amanhã, ver homens, crianças e mulheres bombardeados ou morrendo de fome e continuar lutando. Seguimos juntos até o fim, seja o fim deles ou nosso!

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