Negociações entre Israel, EUA e Hamas para extensão do cessar-fogo seguem em andamento
- Derek Emidio
- 14 de mar.
- 3 min de leitura
As negociações entre Israel, Estados Unidos e Hamas para uma possível extensão do cessar-fogo seguem em andamento, apesar das tensões envolvendo o papel do enviado dos EUA no processo.
Um grupo de negociadores israelenses permaneceu na capital do Catar, Doha, após a visita de Steve Witkoff, enviado dos EUA para o Oriente Médio, que tenta avançar nas tratativas. A proposta em discussão prevê a extensão do cessar-fogo por até 60 dias, em troca da libertação de entre cinco e dez prisioneiros israelenses vivos que estão em Gaza.

O acordo inicial entre Israel e Hamas previa três fases, culminando em um cessar-fogo permanente. A primeira fase envolveu a troca limitada de prisioneiros israelenses por prisioneiros palestinos, além de uma pausa temporária nos confrontos e o aumento da entrada de ajuda humanitária em Gaza. A segunda fase ainda estava em negociação, mas a administração do presidente Joe Biden havia enfatizado que a primeira fase deveria continuar até que um novo entendimento fosse alcançado.
No entanto, Israel não manteve esse compromisso. Embora não tenha retomado uma ofensiva total contra Gaza, ataques esporádicos continuaram e colonização na Cisjordânia tem expandido consideravelmente, além de bloquear o fornecimento de ajuda humanitária e energia elétrica ao território.
No início de março, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, apresentou uma nova proposta, atribuída a Witkoff, embora o enviado dos EUA nunca tenha confirmado publicamente sua autoria. Segundo o gabinete de Netanyahu, o plano previa a extensão do cessar-fogo por seis semanas e a libertação de metade dos reféns, vivos ou mortos, no primeiro dia da prorrogação.
A resposta israelense foi negativa. O ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, disse à rádio do Exército de Israel que representantes do governo israelense haviam deixado claro ao enviado dos EUA, Boehler que ele "não pode falar em nosso nome". Smotrich ainda sugeriu que, caso o enviado quisesse negociar em nome dos EUA, “boa sorte para ele”.
Ron Dermer, ministro de Assuntos Estratégicos de Israel e um dos principais aliados de Netanyahu, teria repreendido Boehler repetidamente antes que as negociações viessem a público. O atual ministro da Agricultura de Israel e ex-chefe da agência de segurança Shin Bet, Avi Dichter, também criticou a iniciativa dos EUA, afirmando que as negociações diretas minam as tratativas conduzidas por Israel.
Após a revelação das negociações diretas entre EUA e Hamas, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que o presidente Donald Trump apoiava os encontros, pois eles representavam "o melhor para o povo americano".
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, minimizou a importância dos diálogos, descrevendo-os como uma “situação pontual” que não trouxe avanços concretos.
A posição final de Trump sobre o assunto ainda não está clara, pois ele não se manifestou diretamente. Mesmo que os EUA não voltem a negociar diretamente com o Hamas, o fato de essas conversas terem ocorrido demonstra que a administração Trump está assumindo um papel central na condução do conflito em Gaza, pressionando tanto Israel quanto Netanyahu.
Israel depende amplamente do apoio militar e diplomático dos EUA. Diante da postura imprevisível de Trump em relação a alianças tradicionais, como as com o Canadá e a Europa, cresce a preocupação dentro do governo israelense de que o apoio norte-americano à guerra em Gaza possa não ser tão firme quanto se imaginava.
Em resposta às negociações diretas entre EUA e Hamas, o jornal Haaretz interpretou o episódio como um reflexo da frustração de Trump com Netanyahu e uma indicação de que a Casa Branca tem seus próprios objetivos na região: "libertar os reféns, encerrar a guerra, promover a paz regional e garantir investimentos sauditas" — e estaria disposta a alcançar essas metas "por qualquer meio necessário".