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Foto do escritorSiqka

O assassinato do jornalista Jamal Khashoggi

Istambul, Turquia, 2018

Jamal Khashoggi e sua noiva, Hatice Cengiz, entraram em um cartório em Istambul com a intenção de se casar. Eles se conheciam há pouco tempo, o que não fazia diferença, já que naquela manhã estavam decididos a se unir perante a lei.

Dissidente da Arábia Saudita, Khashoggi foi orientado que não poderia formalizar o casamento até que providenciasse os docu­mentos faltantes, que só poderiam ser requeridos no consulado saudita. No mesmo dia, o casal caminhou até o consulado e o noivo solicitou os documentos, mas o funcionário que o atendeu pediu que voltassem na semana seguinte.

Colunista do The Washington Post, ele se tornou o correspon­dente árabe mais famoso, com quase dois milhões de seguidores nas redes sociais. Khashoggi ficou conhecido por se posicionar em defesa dos direitos humanos, colocando-o em atrito com as políticas do príncipe herdeiro saudita Mohammed Bin Salman, cujo regime já havia sido denunciado por organizações internaci­onais por práticas de pena de morte, tortura, tráfico de pes­soas e punição corporal judicial, incluindo amputações e açoites[1].

Mohammed Bin Salman vinha realizando reformas no código constitucional e afrouxando as políticas sangrentas. O jornalista acreditava e publicava constantemente que essas ações não passavam de maquiagem para agradar os americanos e mascarar as mesmas políticas radicais, intolerantes e racistas de sempre.

A religião e a política sempre estiveram nas pautas de Khashoggi. Como muçulmano, defendia que a Arábia Saudita deveria retomar a própria identidade religiosa como estado islâmico wahhabi[2]. Como progressista liberal, posicionou-se contra a prisão de Loujain al-Hathloul, acusada de “desestabilizar o governo” quando desafiava a proibição de mulheres dirigirem no país. Como profissional de imprensa, criticou as políticas interna­cionais pró-Israel do presidente americano Donald Trump, estendendo-as também para a comunidade internacional, por não se posicionar contra a demolição de casas palestinas para a cons­trução de assentamentos ilegais. Em 2016, suas críticas tornaram-se um incômodo para o governo saudita, que o censurou e proibiu de participar de programas de televisão.

O príncipe Salman acreditava que o trabalho do jornalista estava prejudicando a imagem do governo. Em uma conversa interceptada pelo serviço de inteligência estadunidense, o príncipe falou para um alto assessor que, se o jornalista não voltasse para a Arábia Saudita e parasse com suas acusações, ele o perseguiria “com uma bala”. Diante das ameaças, Khashoggi mudou-se para os Estados Unidos, onde passou a escrever como colunista para o The Washington Post.

Em maio de 2018, Khashoggi viajou para a Turquia para parti­cipar de uma conferência. Lá, conheceu Hatice Cengiz, no mês seguinte, o casal aguardava os documentos do consulado saudita para prosseguir com o casamento. Hatice esperava no térreo, enquanto Khashoggi foi levado ao escritório do cônsul-geral no segundo andar.

Naquela manhã, uma equipe de cinco homens sauditas chegou à Turquia com objetivos sombrios além dos papéis de casamento. Poucos minutos após ser visto entrando no consulado com sua noiva, Khashoggi foi atacado e morto. Os assassinos estavam cien­tes das câmeras de segurança, para evitar serem identificados, trouxeram um homem com um porte físico semelhante ao do jor­nalista. O dublê vestiu as roupas da vítima e deixou o local pela porta da frente, garantindo que seu rosto não fosse visível. Como não há crimes perfeitos, um erro foi notado pelos investiga­dores turcos, o dublê não usava os sapatos de Khashoggi.

Hatice aguardava na recepção, enquanto um perito forense esquartejava o corpo do noivo, transportando os pedaços para a residência do cônsul saudita, simultaneamente, o chefe da missão ligava para a capital saudita anunciando “a ação está feita”.




 

[1] Recentemente umas certas jóias que o príncipe “presenteou” o ex-presidente Jair Bossonaro, seguem sendo investigadas.

[2] o wahabismo, surgiu no século XVIII na península arábica, enfatizando a adesão estrita às práticas e crenças originais do Islã. Com origens ligadas a Muhammad ibn Abd al-Wahhab e à família Al Saud na Arábia Saudita, o wahabismo influencia principalmente essa região, promovendo uma abordagem austera da religião e uma ênfase na purificação religiosa.

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