A história de Jannah Jihad, a jornalista mais jovem a reportar a ocupação na Palestina
- Siqka
- 18 de out. de 2023
- 2 min de leitura
“Esta é sua casa, este é seu carro, este é seu caminho para escola. Podemos te matar a qualquer momento. Espero que uma bala sionista te atinja no meio da cabeça.” Janna Jihad, novembro de 2021. [102]
Com suas longas trancinhas loiras balançando e usando seu vestido bordado em vermelho, verde e branco, tradicional da vila de Nabi Saleh, Janna Jihad Ayyad caminhava de mãos dadas com seus pais em direção a mais uma manifestação de sexta-feira. Aos sete anos, a menina já compreendia os motivos por trás das manifestações em sua vila. Algumas semanas antes, assistiu os soldados israelenses assassinarem seu tio e primo. Ela sabia que, por menor que fosse, precisava unir sua voz aos outros palestinos. Naquele dia, a menina viu novamente amigos, parentes e vizinhos correndo, desviando-se das balas que cortavam o ar das colinas cobertas pelo gás lacrimogêneo. Os olhos verdes de Janna, em suas próprias palavras, “testemunharam coisas que nenhuma criança deveria ver em qualquer parte do mundo” [102]. Como um ato de resistência, a menina tomou o celular das mãos de sua mãe e a partir daquele momento, tornou-se a jornalista palestina mais jovem a documentar e relatar os crimes da ocupação.
Antes de se tornar jornalista, Janna tinha o sonho de ser uma jogadora de futebol. As crianças costumavam se reunir para jogar bola na rua todas as tardes. O rumo das partidas mudou em 2009, quando as incursões do exército israelense em Nabi Saleh se tornaram mais frequentes e agressivas.
Nabi Saleh, enfrenta diariamente a ocupação desde a Guerra dos Seis Dias (1967). Em 1978, o decreto israelense 28/78 foi emitido, resultando na apropriação de terras em Nabi Saleh e outras duas comunidades palestinas, com o propósito de estabelecer um assentamento judaico. A situação se agravou em 2009, quando o assentamento ilegal de Halamish foi construído e tomou controle da nascente de água que abastecia quatro vilarejos palestinos. Além disso, uma série de ataques cometidos por colonos, reivindicados pelo grupo conhecido como “O Preço”, agravaram ainda mais a tensão na região. Como resultado, Nabi Saleh se tornou um epicentro de manifestações e consequentemente alvo de repressão por parte dos soldados e do governo de Israel.
Nas primeiras incursões do exército israelense, os jovens jogadores reagiam às interrupções lançando pedras contra aqueles que perturbavam suas atividades. Em resposta, os soldados utilizavam balas de borracha e bombas de gás para conter os jogadores-mirins e, em alguns casos, perseguiam e prendiam crianças com mais de doze anos. – Prender crianças por atirar pedras, isso é crime? – Para Israel Sim!
Antes de prosseguirmos, devemos primeiro compreender e analisar a legislação israelense que se aplica aos palestinos.