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Foto do escritorSiqka

Manipulação midiática e desinformação: o Impacto na percepção global da ocupação na Palestina

Desde o momento do nosso nascimento, assumimos o papel de receptores. A infância representa um período singular de desenvol­vimento, tanto físico quanto psicológico, que molda a pessoa que nos tornamos. Todas as variáveis que influenciam a saúde, o bem-estar físico, mental e emocional durante essa fase pode deixar marcas significativas na formação de um indivíduo. Nossas experiências nos tornam receptivos ao que nos é apresentado, com grande parte dessa influência adquirida em ambiente escolar e durante o processo de formação. O que é ainda mais preocupante é o impacto da manipulação midiática nesse processo. Adorno e Horkheimer afirmaram em seu trabalho que "quanto mais um Estado monopoliza os meios de comunicação de massa, mais ele pode controlar e disciplinar as massas consumidoras".[39] 

A pesquisadora Esther Medina Ribeiro aponta em sua pesquisa que “dada sua poderosa capacidade de persuasão, a mídia desem­penha o papel de agente nivelador na sociedade, influenciando diretamente a forma como as pessoas enxergam, reconhecem e interpretam o mundo” [85]. Na óptica sionista, Israel está efetiva­mente formando um contingente de receptores predispostos a acreditar e defender inabalavelmente a narrativa que promove, mantendo um controle rigoroso sobre a mensagem, o emissor, o código, o canal e primordialmente os receptores da comunicação. Nesse contexto, a narrativa é moldada para retratar constan­temente o palestino como o agressor, enquanto o israelense é consistentemente apresentado como a vítima.

O discurso israelense é tão impactante que afeta diretamente os receptores fora do Oriente Médio. Para quantificar os danos, é ne­cessário prestar atenção a certos padrões. A primeira consideração deve ser em relação aos critérios de noticiabilidade. Enquanto estava na Palestina, em janeiro de 2023, testemunhei soldados israelenses invadindo um campo de refugiados em Jenin, o mesmo local onde a jornalista Shireen foi executada. Nessa trágica inves­tida israelense, nove pessoas foram mortas, incluindo uma idosa com mais de 60 anos. A situação se deteriorou a ponto de ser declarado um toque de recolher que durou três dias. No decorrer dos dias, ocorreram ataques de colonos israelenses contra palesti­nos em toda a Cisjordânia, incluindo o assentamento de Halamish, próximo onde estava hospedado.

Por meio do canal de mídia Monitor do Oriente, no qual eu já estava agendado, participei de uma entrevista para discutir o ataque. Apesar do caos e de ter abordado o assunto ao vivo, não recebi nenhuma ligação ou mensagem de amigos ou familiares, indicando que nenhum deles estava ciente da situação antes da entrevista. Mesmo após a transmissão, não compreenderam a magnitude dos riscos. Isso se deve ao fato de que, com exceção do Monitor do Oriente e de outras poucas mídias independentes, os canais de grande mídia que compõem a indústria da desinformação não deram a devida importância ao acontecimento e sequer cobriram o atentado. – Novidade!

Na noite seguinte ao ataque em Jenin, um palestino abriu fogo e matou nove israelenses em uma rua de Jerusalém. Nesse momento, as mensagens e ligações de amigos e familiares se multiplicaram, todos querendo saber se estávamos em segurança. O assassinato de cidadãos israelenses teve uma repercussão tão intensa, mesmo que o número de vítimas fatais tenha sido o mesmo de palestinos na noite anterior, que fui convidado por uma mídia brasileira para participar de outra transmissão ao vivo e discutirmos a situação em Jerusalém. Recusei o convite após ser informado de que o foco seria exclusivamente em Jerusalém, sem mencionar o ocorrido em Jenin do dia anterior.

No Brasil e na maioria dos países ocidentais, a escolha das pautas e a maneira como as mensagens são emitidas favorecem o discurso narrativo da ocupação sionista e do Estado de Israel. [89]

 

“Quando a resistência palestina contra a ocupação é chamada de terrorismo por Israel e isso é repetido no Brasil, isso é fakenews de Israel reproduzida aqui. É como se uma população nativa não tivesse direito de lutar contra o soldado e colonos invasores de suas terras e sua ação truculenta. Veja que no caso da Ucrânia, a mídia diz que o povo tem direito às armas. Mas os palestinos não podem se defender de um Estado de apartheid que devora suas terras, derruba suas casas, destrói suas plantações, sem falar da juventude presa e das vidas perdidas.” Ahmad Alzoubi [90] 

 

No Brasil, ao considerarmos o consumo de reportagens relaci­onadas à Palestina, somos frequentemente expostos a uma considerável interferência do sionismo, que muitas vezes sobrepõe informações e verdades claras com uma série de ruídos. Esses ruídos são originados pelo Estado de Israel antes, durante e após eventos, e os meios de comunicação, por falta de conheci­mento e outras vezes por má-fé, replicam esses mesmos ruídos, impondo-nos uma narrativa distorcida. Essa desinformação representa uma tentativa de ocultar, proteger e distorcer a compreensão dos danos históricos infligidos à Palestina, desde a Nakba, quando a população originária foi expulsa à força de suas casas e vilas para dar lugar ao Estado de Israel.

No século XIX, Karl Marx afirmou que "a função da imprensa é ser o cão de guarda público, o denunciador incansável dos dirigentes, o olho onipresente, a boca onipresente do espírito do povo que guarda com ciúmes sua liberdade" [106]. No entanto, não estamos atuando como cães de guarda, denunciando os líderes ou assumindo uma postura de olho, ou boca onipresente. Pelo contrário, estamos repetindo e sendo coniventes com os crimes e violações perpetrados pelas autoridades de Israel. Com frequência, jornalistas contribuem para a disseminação da narrativa etno-teocrata criada por Israel, utilizando "conceitos simplistas e reducionistas na representação das populações árabes e muçulmanas" [85]. Em alguns casos, isso ocorre de forma deliberada, enquanto em outros, como receptores das notícias, veículos de mídia internacionais simplesmente replicam matérias e opiniões de outros meios de comunicação ocidentais, sem sequer comparar os fatos com fontes orientais.


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