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Foto do escritorSiqka

Ayasofya: a herança bizantina de história, cultura e fé em Istambul

Decidimos ser os primeiros a entrar na Ayasofya. Tentamos outras vezes visitar o monumento, mas a fila na praça externa estava tão grande que decidimos ir outro dia e no primeiro horário. Mais uma vez, cruzamos por entre os pescadores da Ponte de Gálata e em pouco menos de uma hora de caminhada matinal lá estávamos nós, entre os primeiros da fila para conhecer a mesquita que é o símbolo de Istambul.

 



A Ayasofya ou “Santa Sofia” é um dos monumentos mais visitados na Turquia. Construída entre 532 e 537 por ordem do Imperador Justiniano, permaneceu como a maior catedral do mundo por quase mil anos. A etimologia do nome Ayasofya causa confusão para os turistas ocidentais que adotam o nome Santa Sofia, acreditando que seja uma homenagem à santa cristã, Sofia. Deveras, o nome completo da Catedral é (Ναός της Αγίας του Θεού Σοφίας), sendo: Ναός της (Templo) Αγίας (Agia, palavra para Santo) Θεού (Deus) Σοφίας (Sofia). Sofia é um nome grego que significa “sabedoria”, portanto, a tradução literal em português é “Templo da Santa Sabedoria de Deus”.

 

Não somente o nome causa confusão, mas também a qual religião esse templo pertence. Atualmente, Ayasofya é uma Mesquita, porém, no passado já foi Catedral Bizantina (537 – 1054), Catedral Ortodoxa Grega (1054 – 1204), Catedral Romana (1204 – 1261), novamente Catedral Ortodoxa Grega (1261 – 1463), Mesquita (1463 – 1931), Museu (1935 – 2020) e agora, com muita controvérsia e rejeição, novamente Mesquita. Confesso que nós mesmos ficamos com dúvidas quanto a que nome adotar neste diário e se deveríamos chamar de Catedral, Museu ou Mesquita. Optamos por Mesquita Ayasofya, haja vista que atualmente ela é uma mesquita e que se encontra em território turco.

 

Ayasofya está profundamente vinculada à história da Turquia. Servindo como palco para o florescer e desfalecer dos grandes impérios que passaram por aqui.

 

Depois de uma hora esperando na fila, finalmente os portões se abriram e entramos para conhecer a Mesquita Ayasofya. Imponente e majestosa, a arquitetura externa de estilo bizantino não difere de outras mesquitas da cidade. Durante 500 anos Ayasofya serviu como modelo para tantas outras mesquitas de todo o Império Otomano, incluindo a Sultanahmet (Mesquita azul) localizada bem em frente.

 

Retirando os sapatos, caminhamos cada um por um lado para poder entrar no local sagrado. Ao entrar na Mesquita, a visão que tínhamos de simplicidade foi tomada pela sensação de se estar numa caixa de joias islâmicas. Os lustres baixos iluminam um ambiente amplo e de tetos que se erguem às alturas, sustentados por enormes pilastras laterais. No centro, um lustre de arabescos islâmicos ilumina à meia-luz; o contraste entre o ferro da armação e a delicadeza dos finos vidros que prendem as luzes amareladas exterioriza os dogmas da fé islâmica: firme, porém abundante em ternura.

 

No teto abobadado, caligrafias do nome de Deus partilham o espaço com imagens cristãs cobertas. É comum que cristãos se indignem com a cobertura das imagens, no entanto, elas não estão cobertas somente pelo fato de serem representação cristã, mas somente pelo fato de serem representações. No Islã, é proibido a idolatria de imagens, principalmente as que dizem respeito aos profetas, Abraão, Noé, Moisés, Jesus ou Mohammad. Segundo a religião, os profetas iluminados por Allah devem ter importância na imaginação das pessoas e não ter o sagrado personificado em imagens. Assim, a forma de representar Deus é na caligrafia de seu nome. Em forma de respeito à tradição cristã, os muçulmanos preservaram suas imagens e, em forma de respeito à tradição islâmica, elas permanecem cobertas.

 

“Ele é Allah, o Criador, o Originador, o Criador de imagens. A Ele pertencem os melhores nomes.” (Alcorão 59:24)

 

Passamos horas admirando a mesquita, vimos muitos turistas entrando e saindo, mas nós não conseguimos sair. Apesar de ser ateu, ou como prefiro dizer, “alguém que ainda não encontrou Deus”, tenho imensa admiração por templos religiosos, ainda mais se esses templos guardam tantas histórias como Ayasofya. Seja mesquita, catedral, sinagoga ou templos hindus, budistas ou de religiões de matriz africana, eu realmente gosto de toda herança cultural guardada dentro dessas paredes. Quanto à Di, além de gostar tanto quanto do contexto histórico e cultural, ela ainda se deixa emocionar pelas manifestações de fé. – Algo que admito invejar!

 

Escolhemos fazer esta viagem à procura da Terra Santa, na qual encontramos até o momento diversas manifestações e expressões da fé praticadas de formas diferentes. Na Ayasofya, provavelmente por guardar segredos de religiões diferentes, mesmo com a disputas pelo status religioso, conseguimos encontrar um pouco da Terra Santa que temos procurado. Hoje é nosso último dia de passeio pela Turquia, podemos dizer que sim, encontramos aqui uma terra santa. Santificada por um povo maravilhoso que não mede esforços para ajudar, seja na acolhida de pessoas em situação de refúgio ou na simples ajuda a dois turistas perdidos. Santificada por tentar lidar com a diversidade tentando corrigir erros anteriores. Mas, principalmente, santificada por entender que a religião é importante para o ser humano, tanto quanto a laicidade e a secularidade são importantes para uma sociedade.

 

A Turquia realmente conquistou nossos corações. Toda despedida dói, mas essa vai doer um pouco mais, pois saímos com a mais verdadeira vontade de ficar.

 

O tempo que convivemos com os turcos não demorou, mas aprendemos a pronunciar "teşekkürler", que significa obrigado; não foi fácil, mas aprendemos. Então para Turquia, para todo seu povo, para toda sua cultura e para Ayasofya; só podemos dizer "teşekkürler" por ser tão boa para nós!

 

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