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Milhares de seres humanos voltam para o que sobrou do norte da Faixa de Gaza, enquanto na RD Congo, outros milhares fogem. Você tem coragem de abraçar o Congo como fez com a Palestina?

  • Foto do escritor: Siqka
    Siqka
  • 27 de jan.
  • 3 min de leitura

Hoje acordei, e após ler as primeiras notícias, por pouco me deu vontade de voltar para a cama e esquecer que esse mundo existe. Mas logo, esse mesmo impulso de repúdio me fez saltar para expressar meu desgosto em viver em um mundo tão selvagem, com seres que deveriam ser humanos, mas que são ainda mais selvagens que as bestas de outros tempos.


O mundo, mais do que nunca, parece girar em torno do sofrimento humano. De um lado, na Faixa de Gaza, milhares de palestinos retornam aos escombros de suas casas e ruínas de suas vidas e comunidades ao norte do território. Do outro, no leste da República Democrática do Congo (RDC), o medo e a violência obrigam outras centenas de milhares a deixarem seus lares em busca de sobrevivência.


Palestinos e congoleses são Deslocados Internos Forçados, em outra palavra: Refugiados! Diferente de imigrantes, os refugiados são aqueles que fogem de seu país ou se deslocam dentro do próprio território para salvar suas vidas. Eles temem a guerra, a perseguição, a fome e a morte. Diferente dos imigrantes, alguém se torna refugiado porque não tem outra opção — todas elas se esgotaram. Esses são dois cenários distintos e não devemos pesá-los na mesma balança.


Na Faixa de Gaza, o retorno de milhares de deslocados às regiões do norte não representa um recomeço, mas uma confrontação com o vazio deixado pela destruição. A agressão prolongada devastou infraestruturas, lares e, mais tragicamente, vidas. Cerca de 85% da população foi forçada a deixar suas casas, muitos vivendo em abrigos improvisados e sem condições básicas. O que os espera no norte? Ruínas, escombros e um futuro incerto.


Enquanto Gaza tenta respirar entre os destroços, no leste da RDC, o caos continua. Goma, a maior cidade da região, torna-se mais um episódio sangrento de um conflito alimentado por rivalidades políticas, disputas territoriais e, sobretudo, por interesses externos. A ofensiva do M23, apoiada por Ruanda, forçou milhares a fugir. O deslocamento em massa, em uma região já assolada por décadas de instabilidade, transforma uma crise crônica em uma catástrofe.


Na RDC, o cenário é ainda mais sombrio: a violência é endêmica, alimentada por uma teia de interesses que vai além das fronteiras nacionais. Minerais valiosos, usados em dispositivos eletrônicos pelo mundo todo, são frequentemente apontados como um dos motores por trás das rivalidades. A comunidade internacional assiste de longe, condena e, em seguida, volta-se para outras crises. Enquanto isso, as pessoas que fogem — ou que ficam para lutar — continuam a carregar o peso de um conflito que nunca parece ter fim.


É difícil acordar todos os dias e ler notícias tão perturbadoras como essas, principalmente sabendo que pouco ou quase nada mudará de hoje para amanhã, ou daqui a 50 anos. Não! A menos que tomemos não apenas consciência, mas a coragem que nos falta para alterar a situação. Marighella escreveu em seu manual do guerrilheiro urbano que "a obrigação de todo revolucionário é fazer a revolução.” Então façamos a revolução, mas, para isso, precisamos vencer uma coisa primeiro.


É lindo ver que milhares de comitês de solidariedade foram montados por quase todo o planeta em solidariedade à causa palestina, o que é muito necessário e ajudou a situação a não ficar ainda pior. Mas onde estão os comitês em solidariedade ao RDC, ao Haiti ou ao Sudão, dentre outros tantos? Vou te contar uma coisa triste, e cabe a você refletir: qual a diferença entre os palestinos e os haitianos, congoleses e sudaneses? Toda vez que publico uma matéria ou artigo de opinião referente à Palestina, é quase instantâneo: as pessoas compartilham, curtem e se solidarizam com a causa. No entanto, quando a postagem é sobre, no caso, milhares fugindo no RDC, ou duas meninas e mulheres sendo estupradas nesse mesmo país a cada uma hora, não existe a mesma repercussão. Qual a diferença entre aqueles que sofrem? Me diga você.


Gaza e a RDC são lembretes dolorosos de que o mundo precisa não de uma, mas de muitas transformações. Não podemos continuar a permitir que populações inteiras sejam sacrificadas no altar de interesses políticos e econômicos. É preciso agir — não apenas com palavras, mas com ações reais e, para isso, devemos repensar a nossa seletividade nas causas que abraçamos e os preconceitos que exalamos.





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