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De Sérgio Moro a Yoon Suk Yeol: A farsa dos justiceiros

Quem é Yoon Suk Yeol, o presidente sulcoreano que decretou Lei marcial na Coréia do Sul.


Yoon Suk Yeol, eleito presidente da Coreia do Sul em 2022, estreou na política como um novato, mas sua trajetória como promotor já o havia colocado nos holofotes nacionais. Ele ganhou destaque ao liderar investigações sobre corrupção que abalaram o país, incluindo o caso da ex-presidente Park Geun-hye e de um assessor do então presidente Moon Jae-in. Essas ações o transformaram em um “ícone” dos conservadores e o impulsionaram como candidato do partido People Power.



Até aqui, parece uma história de mérito, não? Porém, o enredo familiar desperta uma sensação de déjà vu, especialmente para nós, brasileiros. É impossível não traçar paralelos com Sérgio Moro, o ex-juiz que, a pretexto de combater a corrupção, ajudou a moldar o cenário político brasileiro enquanto comprometia a imparcialidade que dizia defender.


Yoon, assim como Moro, usou sua posição de autoridade para construir uma narrativa heroica que o projetasse no campo político. Enquanto Moro erguia sua figura com a Lava Jato, Yoon manipulava acusações para desgastar adversários. Mas ambos acabaram presos em suas próprias contradições.


No poder, Yoon viu seu prestígio desmoronar. Sua recusa em permitir investigações sobre escândalos envolvendo sua esposa e aliados desfez a máscara de imparcialidade que o sustentava. Agora, com sua aprovação em queda livre, ele recorre ao último refúgio de tiranos desesperados: a força militar.


Como Moro, que rotulava qualquer oposição à Lava Jato como “defesa da corrupção”, Yoon recorre a uma estratégia semelhante. Ele acusa seus adversários de colaboração com o regime norte-coreano, uma retórica paranoica para justificar medidas extremas. É o jogo clássico: criar inimigos fictícios para desviar a atenção dos próprios erros.


Enquanto Moro usava a narrativa da “ameaça comunista” para reforçar seu papel no cenário político, Yoon transforma a Coreia do Norte em um espantalho conveniente. No entanto, suas ações internas – como fechar o Parlamento e cercar a oposição com tanques – são um reflexo direto de seu fracasso em governar democraticamente.


Yoon Suk Yeol e Sérgio Moro são produtos de um mesmo fenômeno global: a idolatria de justiceiros que prometem salvar a nação, mas acabam destruindo o que juraram proteger. No Brasil, a farsa de Moro desmoronou quando vieram à tona as irregularidades da Lava Jato. Na Coreia do Sul, Yoon já é rejeitado por todos os parlamentares, e sua reputação desmorona à medida que sua agenda autoritária avança.


A diferença é que Moro nunca teve o poder de declarar lei marcial ou encher as ruas de Brasília com tanques. Yoon, por outro lado, encarna o sonho molhado dos viúvos de 8 de janeiro, aqueles que ainda fantasiam com um golpe militar.


O colapso político de Yoon Suk Yeol deveria ser um alerta para as massas que ainda se agarram a ícones falsos de “moralidade” e “justiça”. Mas esperar aprendizado de extremistas que idolatram figuras como Moro e Yoon é otimismo demais.


Talvez mostrar a Coreia do Sul como exemplo fosse didático. Poderíamos apontar os tanques nas ruas de Seul e perguntar aos órfãos do autoritarismo brasileiro, “é isso que vocês querem?”. Mas será que essas mentes, tão vazias quanto suas bandeiras de "patriotismo", conseguiriam entender a ironia? Provavelmente não. Afinal, heróis fabricados só sobrevivem no terreno fértil da ignorância.

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