A brutalidade do plano dalet, o massacre de Deir Yassin e a catástrofe Palestina
- Siqka
- 30 de nov. de 2023
- 3 min de leitura
No decorrer do Plano Dalet, milícias do Irgun Zvai Leumi e Stern Gang[1] – consideradas organizações terroristas pelos britânicos devido a ataques contra civis, como o atentado ao Hotel King David que resultou na morte de 91 pessoas – invadiram a aldeia de Deir Yassin. Os 400 habitantes da aldeia acordaram com explosões de granadas sendo lançadas em suas casas. Com o apoio da Haganah, os paramilitares começaram a disparar contra os moradores desarmados. Mais tarde, soldados da Haganah testemunhariam afirmando que membros do Irgun e do Stern cometeram estupro e mutilação contra as vítimas, além de queimar os corpos e saquear as casas. Ao final do massacre, 250 pessoas haviam sido assassinadas. [16]
Os sobreviventes do extermínio foram forçados a marchar por bairros judeus em Jerusalém antes de serem executados [17]. No livro “Comandos Palestinos”, o autor Jacques Mansour Verges, comenta que durante esse episódio, Menachem Begin[2] como líder do Irgun, com o objetivo de espalhar o pânico entre os palestinos, convocou a imprensa para exibir os cadáveres como troféu. [18]
As milícias sionistas continuaram atacando as cidades palestinas, expulsando, mutilando e matando palestinos. Em abril já haviam capturado Haifa, uma das maiores cidades. Os árabes que permaneceram no país foram cada vez mais empurrados para os limites do território. Em junho, já com grande parte do Plano Dalet executado, Ben-Gurion, respondendo a alguns dos dirigentes da Agência Judaica que ousavam questionar as dimensões e brutalidade em curso, gritou para os dirigentes na sala:
“Eu sou pela transferência compulsória, não vejo nada imoral nela”.David Ben-Gurion. [14] .
Oficialmente, a presença britânica na Palestina terminou em 14 de maio de 1948. Logo após a retirada dos britânicos, Ben-Gurion declarou a independência do Estado de Israel, ocorrendo esse evento entre os escombros e os corpos de palestinos, um momento amplamente identificado como Nakba, que significa “catástrofe” em árabe. Evento que marcou o início do êxodo palestino provocado por Israel.
No artigo “Os 71 anos da Nakba e a limpeza étnica sionista”, disponível nos arquivos digitais da Federação Árabe Palestina (FEPAL), Raul Carrion, baseado nas extensas pesquisas de Norman Finkelstein e Ilan Pappé e sua própria, afirma que um total de 774 cidades e vilas palestinas foram ocupadas, das quais 531 foram completamente destruídas. Foram registrados 70 massacres, resultando em mais de 15 mil mortes, além de milhares de feridos e mutilados. Aproximadamente 800 mil palestinos foram expulsos de suas terras, enquanto aqueles que resistiram à expulsão foram forçados a se refugiar em áreas periféricas, ficando apenas com 22% de seu território original, o que é menor do que o sugerido pela Resolução 181 da ONU. Essas áreas são conhecidas como Cisjordânia e Faixa de Gaza, enquanto os restantes 78% se tornaram o Estado de Israel, conforme conhecemos hoje. [17]
[1] Stern “LEHI”. Foi considerada a organização mais fanática e perigosa durante o Mandato Britânico. Em janeiro de 1941, o Stern enviou uma carta ao embaixador da Alemanha nazista sugerindo união dos esforços entre judeus e nazistas contra os ingleses. Yitzhak Shamir, líder do Stern, que tinha conhecimento desta carta, seria eleito Primeiro-ministro de Israel em 1983. Em 1993, Yasser Arafat teve conhecimento desta carta, o líder palestino se recusou a usá-la. Esta carta está guardada nos arquivos do Ministério de Relações Exteriores em Berlim, e nos arquivos do Yad Vashem (Memorial do genocídio), em Jerusalém, sob a cota E 234151-8.
[2] Menachem Begin, nasceu em Belarus durante o Império Russo. Ficou conhecido após o ataque ao Hotel King David, fazendo 91 mortos. Tornou-se líder do Irgun em 1947. No ano seguinte, por traficar armas, o Irgun entrou em conflito com o exército israelense, o combate levou ao naufrágio de um navio (Altalena) carregado com armas e munição. Como um dos líderes responsáveis pela coalizão que fundou o Likud, tornou-se Primeiro-ministro de Israel de 1977 – 1983. Em 1981 ordenou o atentado ao reator nuclear Osiraq/Tammuz, no Iraque. O ataque foi condenado internacionalmente, incluindo o presidente americano Ronald Reagen. Em 1982, autorizou a invasão ao Líbano e sucessivamente o ataque aos campos de refugiados de Sabra e Chatila. Em 1977, negociou os Acordos de Camp David com o presidente do Egito, Muhammad Anwar al-Sadat, pelo qual, ambos receberam o Prêmio Nobel da Paz de 1978.