ONU tenta ressuscitar negociações falidas sobre Chipre, Líbano e Chade
- Clandestino
- 5 de mar.
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NOVAMENTE CHIPRE
O espetáculo da diplomacia internacional ganha mais um capítulo: o secretário-geral da ONU, António Guterres, anunciou uma nova tentativa de negociações para a questão de Chipre. Dessa vez, líderes cipriotas turcos e gregos, escoltados por seus eternos tutores – Grécia, Turquia e Reino Unido – se reunirão nos salões da ONU em Genebra nos dias 17 e 18 de março. O roteiro? O mesmo de sempre.
Desde 1974, a ilha mediterrânea permanece dividida, consequência de hostilidades e intervenções externas. A ONU, sempre presente, impôs em 1964 a UNFICYP, sua força de manutenção da paz, que até hoje vigia as linhas de cessar-fogo e a zona tampão, garantindo a perpetuação do status quo.
As tentativas anteriores de costurar um acordo falharam espetacularmente, a mais recente em 2017, nas montanhas suíças de Crans-Montana. Em 2021, outro esforço foi feito, igualmente estéril. Agora, Guterres tenta mais uma vez, sob a promessa de uma “discussão significativa sobre o caminho a seguir”. O porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, ecoa a retórica habitual: “As Nações Unidas continuam comprometidas em apoiar os líderes cipriotas e todos os cipriotas”.
LÍBANO: A PAZ QUE NÃO CHEGA
Enquanto isso, no sul do Líbano, o velho ciclo de violência persiste. A UNIFIL, missão de paz da ONU, relatou novos confrontos na quarta-feira, além de movimentações militares israelenses na região. A guerra, camuflada sob a frágil separação imposta pela Linha Azul, continua deixando seu rastro de destruição.
O legado do conflito mais recente? Um território repleto de munições não detonadas, verdadeiras armadilhas para civis. As forças de paz seguem removendo explosivos, enquanto escondem a contradição: a mesma comunidade internacional que lamenta os mortos é aquela que mantém as engrenagens da guerra funcionando.
No jogo geopolítico, há sempre espaço para prisões seletivas. A ONU confirmou que 31 pessoas foram detidas em conexão com um ataque a um comboio da UNIFIL perto do aeroporto de Beirute. Para os diplomatas, a prioridade não é acabar com a violência estrutural, mas garantir que os culpados certos sejam punidos.
CHADE E A CRISE QUE NINGUÉM QUER VER
Enquanto os holofotes da mídia iluminam crises seletivamente escolhidas, o Chade emerge como mais uma tragédia ignorada. A Organização Internacional para as Migrações (OIM) e a Parceria Humanitária Internacional concluíram a expansão de um centro de ajuda em Farchana, agora pronto para atender 220.000 pessoas impactadas pela crise no Sudão.
Desde abril de 2023, mais de 11,5 milhões de pessoas foram deslocadas dentro do Sudão, enquanto 3,5 milhões fugiram para países vizinhos, incluindo cerca de 930.000 que buscaram refúgio no Chade. Em Darfur, quase nove milhões precisam de assistência urgente, mas a resposta global segue tímida, sem conferências luxuosas ou manchetes alarmantes.
“A expansão permitirá que alcancemos mais 220.000 pessoas nos próximos meses”, declarou Pascal Reyntjens, chefe da OIM no Chade. A estratégia? Reforçar a infraestrutura para permitir a entrada de mais ONGs e atores humanitários, enquanto o mundo segue indiferente ao sofrimento da África.
A diplomacia internacional continua sua coreografia previsível, repleta de promessas vazias e acordos temporários. A tragédia humana, por sua vez, permanece real e incessante.