Milícias israelenses e o assassinato de conde Folke Bernadotte, o primeiro mediador de paz para Palestina
- Siqka
- 29 de nov. de 2023
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Atualizado: 17 de jul. de 2024
Poucos dias após a autoproclamação do Estado de Israel, para investigar as acusações de limpeza étnica, a ONU nomeou o diplomata sueco Conde Folk Bernadotte como “Mediador das Nações Unidas na Palestina”[1]. Bernadotte constatou não só os crimes cometidos, mas também a influência dos governos do Reino Unido e EUA.
“Ao apresentar qualquer proposta para a solução do problema da Palestina, deve-se ter em mente as aspirações dos judeus, as dificuldades políticas e diferenças de opinião dos líderes árabes, os interesses estratégicos da Grã-Bretanha, o compromisso financeiro dos Estados Unidos e da União Soviética, o resultado da guerra e, finalmente, a autoridade e o prestígio das Nações Unidas.” Folk Bernadotte [19]
Em 16 de setembro, Bernadotte submeteu à ONU um plano de paz que abrangia três componentes essenciais: a primeira parte propunha um aprofundamento dos esforços de ambos os lados em busca de um armistício definitivo; na segunda parte, destacava-se um empenho internacional na supervisão dos termos do cessar-fogo; a terceira e mais sensível para os sionistas era a seção que abordava a prestação de assistência imediata aos refugiados palestinos. [16]
A presença de Bernadotte representava um risco para as ambições sionistas. Desta forma, o Stern Gang, composto por Nathan Friedmann, Yisrael Eldad e Yitzhak Shamir – que se tornou Primeiro-ministro de Israel de 1983 a 1984 e de 1986 a 1992 – formaram um novo centro de comando da milícia. Seu único objetivo era de assassinar o diplomata da ONU. Como Primeiro-ministro David Ben-Gurion tornou-se suspeito de autorizar e ordenar o atentado, embora não tenhamos documentos que afirmem essa teoria.
No dia 17 de setembro, o carro que Bernadotte viajava foi emboscado em uma estrada próximo de Jerusalém, e os assassinos dispararam seis tiros no peito, garganta e braços do diplomata, além de 18 tiros no coronel André Serot, sentado à sua esquerda. [20]
A execução de um mediador internacional de paz não conseguiu deter a implementação de suas sugestões. As propostas de Bernadotte resultaram em uma trégua inicial e, posteriormente, serviram como base para a Resolução 302 (IV) estabelecida pela Assembleia Geral das Nações Unidas. Conforme recomendado na parte III do relatório de paz redigido e recomendado por Bernadotte, essa resolução deu início à fundação da Agência das Nações Unidas de Socorro e Obras para os Refugiados da Palestina no Oriente Próximo (UNRWA). As sugestões de Bernadotte também contribuíram para a assinatura pela AGNU da Resolução 194 (III), a qual estabelece, em seu artigo 11:
“Os refugiados que desejem regressar às suas casas e viver em paz com os seus vizinhos devem ser autorizados a fazê-lo o mais cedo possível, e deve ser paga uma indenização pelos bens daqueles que optam por não regressar e pela perda ou dano dos bens que, conforme os princípios do direito internacional ou da equidade, devem ser sanados pelos governos ou autoridades responsáveis.” Resolução 194 [21]
O assassinato de Bernadotte poderia ser considerado como a primeira violação do Estado de Israel ao direito internacional de liberdade de opinião e expressão, só que a Declaração Universal dos Direitos Humanos só foi assinada em 10 de dezembro daquele mesmo ano, dessa maneira, o sionismo nunca foi considerado culpado por esta acusação. O crime confirma que Israel já violava os direitos e liberdades de opinião e expressão antes mesmo da autoproclamação de independência dos euro-judeus na Palestina.
Na tentativa infrutífera de alcançar a paz, em maio de 1949, sob a condição de acatar a Resolução 194 e respeitar os direitos humanos, as Nações Unidas admitiram o Estado de Israel como membro permanente. Israel nunca cumpriu as resoluções e continuou a expandir tomando cada vez mais território palestino.
[1] Foi a primeira mediação oficial na história da ONU. Isso foi necessário devido à violência imediata que se seguiu ao Plano de Partilha das Nações Unidas para a Palestina e à subsequente Declaração unilateral de Independência de Israel.