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Foto do escritorSiqka

Os dilemas da liberdade de expressão na Palestina e no mundo

A liberdade de expressão pode ser interpretada por algumas pessoas como o direito de propagar discursos racistas e preconcei­tuosos, como é feito anualmente na marcha das bandeiras[1]. No caso do Estado de Israel, a implementação de barreiras em torno da população palestina, bem como ações de humilhação, prisão, tortura e assassinato, é vista como uma medida para garantir a liberdade e segurança dos cidadãos israelenses. Por outro lado, para os palestinos, a liberdade significa lutar por seus direitos básicos e resistir à ocupação. Mesmo que os conceitos sejam parecidos, quando ambos os lados o exercem, as respostas são bem diferentes.

Isaiah Berlin, um influente filósofo político do século XX cujo principal trabalho é baseado nos conceitos de liberdade, entende que “é inegável que a verdade e a liberdade de expressão não podem florescer onde o dogma suprime todo o pensamento” [111]. – Mas o que quer dizer verdadeiramente a palavra liberdade? – Será que a mais pura liberdade também possui restrições?

Berlin desenvolveu uma análise abrangente dos variados tipos de conceitos de liberdade em sua obra. Ele examinou as múltiplas facetas da liberdade em condições sociais e em culturas diversas, explorando os dilemas que surgem quando essas concepções entram em conflito uns com os outros ou com os estados que os gover­nam. Dois dos concentos principais e universais delineados por este filósofo são a liberdade negativa e a liberdade positiva.

A liberdade negativa, segundo Berlin, é a ausência de interferência externa, permitindo que as pessoas ajam e expressem suas opiniões sem serem coagidas. Um exemplo claro é quando as pessoas se reúnem para manifestar suas opiniões; sob essa visão, elas têm a capacidade de se expressar livremente, mesmo que possam enfrentar hostilidades.

Por outro lado, a liberdade positiva refere-se à capacidade de um indivíduo alcançar seus objetivos, muitas vezes envolvendo a colaboração de outras pessoas ou instituições. Para ilustrar, ima­gine alguém sonhando em voar como um pássaro. Embora seja livre para tentar, a natureza humana impede a realização desse sonho. Transpondo para a realidade na Palestina, um palestino pode escolher o jornalismo, mas será que pode exercê-lo sem perseguição pelo estado ocupante? A resposta parece evidente.

A questão da liberdade positiva ou negativa se manifestam seletivamente nos territórios ocupados palestinos. Dizer que um jornalista palestino é livre, é um eufemismo, já que as correntes que os aprisionam são tanto morais quanto físicas. O mesmo vale para todos os cidadãos palestinos na Faixa de Gaza ou na Cisjordânia. Embora possam ter mobilidade limitada, sempre que se levan­tam para lutar por sua emancipação, são reprimidos.

No Ocidente, principalmente por meio da indústria da desinformação, é comum afirmar que os palestinos são privados de sua liberdade devido a grupos de libertação nacional. Uma grande abstração da realidade para um povo que luta diariamente por aquela palavra que subestimamos muitas vezes o significado.

Não cabe a nós, nem mesmo ao Estado de Israel, assim como nunca coube a Organização das Nações Unidas em 1948, definir os limites territoriais ou as restrições às liberdades dos palestinos. Isso é uma prerrogativa do povo palestino, e somente do povo palestino, que deve ter seu próprio estado independente e livre para poderem eles mesmo escolher seus governantes e cobrar de seu governo a sua própria concepção de liberdade. Para alcançar isso, não apenas os jornalistas, mas toda a Palestina deve ser imediatamente libertada. –  E como?



 


[1] A Marcha das Bandeiras é uma componente do Yom Yerushalayim, uma celebração anual na qual os israelenses buscam eternizar a conquista de Jerusalém durante a Guerra dos Seis Dias. Essa marcha, organizada e financiada por colonos ultranacionalistas, frequentemente inclui manifestações públicas de hostilidade contra os palestinos. Os participantes costumam expressar palavras de ordem carregadas de ódio, como "morte aos árabes".

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