Pelo fim do agronegócio
- Diogenes J. Melo
- 14 de dez. de 2024
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O presidente da China fez uma observação muito sábia sobre o medo do Ocidente em relação ao comunismo, que liberta da exploração do capital, e sobre o risco de a China transformar todos os seus parceiros em países socialistas, como ela própria. Xi Jinping declarou que cada país deve encontrar o seu próprio caminho para o socialismo.
Com isso, ele quis dizer que não cabe à China influenciar ninguém, pois cada país tem sua história, sua realidade, suas idiossincrasias e seu próprio caminho a trilhar.
Trazendo essa reflexão para a realidade brasileira e considerando nosso contexto histórico, o Brasil ainda vive preso ideologicamente a um conceito de posse de terra que remonta às capitanias hereditárias, passando pelas fazendas de escravos, os grandes latifúndios improdutivos e as ocupações violentas de terras, baseadas em um conceito de poder.
Nos dias de hoje, isso culmina no anacrônico agronegócio, que faz política ideológica e mantém o poder de ditar as regras no país, elegendo suas bancadas nos legislativos estaduais, municipais e federais. Foram os latifundiários escravocratas que, ao controlar o Estado, instituíram a proibição de que os negros se tornassem cidadãos após a abolição da escravatura.
Negaram aos negros o direito à terra, essencial para a subsistência, movidos pelo ódio de serem obrigados a abolir a barbárie da escravidão, algo que o mundo já havia feito. Além disso, proibiram a população negra de estudar, alijando-a do conhecimento, da cidadania plena e da inclusão social. Negaram-lhes o direito de votar, trabalhar em igualdade de condições e participar da sociedade.
Em contrapartida, adotaram uma política eugenista de embranquecimento da população brasileira, trazendo imigrantes pobres da Alemanha, Itália, Polônia, Japão e outros países, dando a esses terras e incentivos que foram negados à população negra, explorada por quase 400 anos. Após a abolição, essa população foi marginalizada, perseguida e, muitas vezes, exterminada.
A exclusão persiste até hoje. O Estado brasileiro continua discriminando a população negra, criando duas sociedades e políticas diferentes de tratamento. Esse modelo foi consolidado pelos latifundiários e pelas oligarquias conservadoras que, no início do século XX, geravam terrorismo e violência pelo controle político dos municípios, muitas vezes em aliança com os militares.
Ao longo da história, essas forças deram golpes na República, mantendo políticas de exclusão social que empurraram a maioria da população, especialmente os negros, para as periferias e favelas. Como num apartheid, essas comunidades foram segregadas e excluídas das políticas públicas, sendo tratadas com repressão e violência.
Esse cenário criou uma elite econômica sem pátria, herdeira das capitanias hereditárias, que enriqueceu às custas da exploração e entrega das riquezas nacionais ao exterior. Hoje, o agronegócio perpetua essa lógica, produzindo para atender interesses internacionais, enquanto negligencia as necessidades internas da população.
Essa elite confunde interesses de posse com patriotismo, traindo o país por meio de golpes e mantendo a miséria como política de Estado. Sabotam a educação, a saúde e as políticas sociais de inclusão, demonstrando que não desejam mudanças estruturais no Brasil.
A manutenção desse status quo, com um agronegócio isento de tributos e focado exclusivamente na exportação de commodities, reduz a arrecadação do Estado e enfraquece os investimentos em infraestrutura e tecnologia. Essa política anacrônica perpetua o atraso socioeconômico do Brasil e condena o país ao subdesenvolvimento.
Uma reforma agrária verdadeira, que democratize a posse da terra, romperia com o modelo concentrador e excludente. Essa mudança permitiria uma agricultura diversificada, industrializada e voltada para as necessidades da população, gerando emprego, renda e desenvolvimento.
O fim do agronegócio como organização política e ideológica é essencial para romper com as estruturas de poder que sabotam o desenvolvimento do Brasil. É preciso combater o modelo econômico concentrador e construir uma nação soberana, justa e desenvolvida, onde as riquezas sejam compartilhadas e o povo seja prioridade.