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Foto do escritorSiqka

A propaganda israelense como arma de guerra

Não se pode culpar os receptores por acreditarem mais nas desinformações disseminadas por uma indústria especializada em desinformação do que nas verdades comprovadas pelos fatos históricos. Na década de 1930, Joseph Goebbels percebeu a capacidade de usar a imprensa como parte de uma indústria de propaganda ainda mais influente, a Indústria Cultural. Através desse método, Goebbels conseguiu direcionar o pensamento crítico em direção a ideais genocidas que, na década seguinte, culminaram no Holocausto e extermínio de mais de seis milhões de judeus; muitas vezes com o apoio ativo da imprensa.

Adorno e Horkheimer, dois grandes pensadores alemães judeus, ao fugirem da perseguição nazista, começaram a estudar os efeitos da propaganda hitlerista naquilo que chamaram de Indústria Cultural. Concluíram que, como um todo, essa indústria “tem moldado os seres humanos em um padrão invariável repetido em cada produto.” [39]. Os moldes da imprensa como parte da indústria cultural, delineados pelo opressor, tornaram-se um protocolo adotado por todas as potências neoliberais para moldar a opinião pública. E novamente, citando Adorno e Horkheimer, “a indústria cultural é perversa ao espalhar mentiras despreocupadas”. [39]

Atirar em um jornalista e utilizar a própria imprensa para difundir “mentiras perversas” foi uma prática intencional durante toda a Grande Marcha do Retorno, ao longo do ano de 2018 e meados de 2019. Yasser Murtaja, reconhecido como um profissi­o­nal de imprensa e caracterizado como um civil não combatente protegidos por diversas leis internacionais, buscava transmitir ao mundo as violações e crimes do Estado de Israel, mas acabou se tornando parte do ciclo de violações contra os direitos humanos.

Após o assassinato de Murtaja, o PJS emitiu um comunica­do atribuindo a Israel a responsabilidade pelo crime; a organização internacional Human Rights Watch (HRW) lançou um relatório que denunciou ordens superiores para que as forças israelenses utilizassem munição real contra os manifestantes na GMR.  [40]

Como palestino, culpado apenas por nascer sob a ocupação, o trabalho de Murtaja de enviar mensagens do seu próprio cárcere era a única perspectiva de liberdade, como ele mesmo relatou diversas vezes em seus filmes e redes sociais.

Duas semanas antes de ser assassinado, Yasser Murtaja tentou atravessar a passagem de Rafah em direção ao Egito para comprar equipamentos de filmagem, como compartilhou em sua conta no Facebook.

 

“A primeira vez em toda a minha vida que tive sucesso em viajar foi ontem, mas estou de volta. Fiquei no lounge egípcio, e queria entrar no avião ou somente ver uma aeronave. Em vez disso, o que vi foi a humilhação e opressão do povo de Gaza, das quais há o suficiente para encher um livro. Os egípcios devolveram três ônibus de passageiros, alegando razões de segurança no Sinai.” Yasser Murtaja, 2018. [38]

 

A privação de liberdade imposta pelo Estado de Israel aos pa­lestinos, especialmente aos residentes de Gaza, os expõe a ainda a mais violações dos direitos humanos. Durante as manifestações da GMR, os números estimados pelo Anistia Internacional, embo­ra menores do que os apontados pela Comissão de Investigação das Nações Unidas, indicaram que 223 palestinos foram mortos pelas forças de ocupação. De acordo com a documentação do PCHR, 25 jornalistas, incluindo 2 mulheres, foram diretamente atingidos enquanto cobriam as manifestações semanais.

A última foto capturada pelo drone de Murtaja foi o porto de Gaza, publicada em sua conta pessoal do Facebook com a legenda:

 

“Espero pelo dia em que poderei registrar essa imagem estando no céu e não no chão! Meu nome é Yasser, tenho 30 anos, moro na cidade de Gaza e nunca viajei em minha vida!” Yasser Murtaja, 2018. [40] 

 

O PJS denunciou o assassinato do jovem jornalista palestino ao Tribunal Penal Internacional, mas antes que o caso pudesse ser analisado, outros quatro jornalistas se tornaram vítimas fatais da ocupação.

 

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