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Foto do escritorSiqka

Violações de direitos humanos e a supressão da liberdade de imprensa na ocupação israelense

Para cumprir as promessas feitas durante as campanhas, que incluem a oferta de anexação de mais território para colônias isra­elenses e a reivindicação de soberania sobre o estado palestino, em alguns casos, até mesmo a expulsão dos remanescentes palestinos, é necessário manter um contínuo ciclo de violações. Com o intuito de evitar as repercussões internacionais decorrentes dessas transgressões, a estratégia preferível é impedir que jornalistas tenham acesso e divulguem os crimes da ocupação.

Em 2019, os moradores da vila de Humsa Al-Fawqa, no norte do Vale do Jordão, acordaram com a presença de soldados e máquinas pesadas para mais um despejo ilegal. A ordem era que 15 famílias, totalizando 98 membros, deixassem suas casas para dar lugar a mais uma zona militar israelense.

As chamadas “zonas militares fechadas” são áreas no território palestino designadas pelo Estado de Israel para o treina­mento de seus soldados, utilizando munição real. Na verdade, essas áreas são usadas para restringir a liberdade de movimento e ocupar ainda mais território palestino, uma vez que o acesso é estrita­mente controlado pelas forças militares. Segundo o relatório da Comissão Palestina de Colonização e Resistência ao Muro, apenas em 2020, 737 palestinos foram forçados a abandonar suas casas sob o pretexto de estarem localizadas em áreas declaradas por Israel como “zonas militares fechadas”. Essas áreas, utiliza­das como postos avançados de ocupação, expul­sam palestinos de suas terras para futuro avanço de assentamentos israelenses e impossibilitam a cobertura jornalís­tica nessas regiões. [22]

Vários profissionais de diferentes veículos de imprensa se dirigiram ao local para cobrir o des­pejo. Khaled Bdair (Al Ghad TV), Shadi Yaser Jarar'a (freelancer), Mahmoud Fawzi Abdul Ghani (freelancer), Hazem Emad Naser (Al Najah), Shaza Abdul Rahman Hammad (freelancer), Ranin Rateb Sawafta (Ajyal Radio Network) e Hisham Abu Shakra (Anadolu) foram presos e tiveram suas credenci­ais de imprensa apreendidas. Os jornalistas só foram liberados depois que o despejo já havia ocorrido. [9]

A liberdade de movimento, muitas vezes referida como o direito de ir e vir, é um direito fundamental consagrado no Artigo.13 da Declaração Universal dos Direitos Humanos. A declaração estipula que todas as pessoas têm o direito de se deslo­car, residir e circular livremente dentro das fronteiras de um país. No entanto, a realidade difere consideravelmente, quando se trata de jornalistas que tentam documentar tais violações de direitos.

Monthir Mohammed Al-Khatib, da Al Ghad TV e membro executivo do PJS foi detido por tentar registrar a violação do direito de ir e vir de civis no Checkpoint de Qalandia. Apesar de sua liber­tação posterior, Al-Khatib foi ameaçado de ter seu equipamento quebrado caso tentasse docu­mentar novamente o checkpoint. [9]

Enquanto realizava pesquisa de campo para este projeto, minha esposa e eu atravessamos o mesmo checkpoint – em janeiro de 2023 – e nos deparamos com uma situação semelhante. Logo na primeira das várias inspeções de segurança às quais fomos submetidos, os soldados identificaram as câmeras fotográficas na minha mochila. O subsequente interrogatório foi longo e repetitivo, com os soldados fazendo inúmeros questionamentos sobre minha identidade, minha profissão e com qual propósito estávamos na Palestina. Na ocasião, sofremos com agressões verbais, enquanto os soldados mantinham seus fuzis apontados em nossa direção, o que intensificou a tensão do momento. Após superarmos muitas dificuldades, finalmente conseguimos passar pelo checkpoint e seguir em direção a Jerusalém. Não cabe aqui descrever com mais detalhes a experiência de ficar cara a cara com os jovens soldados de Israel, já que descrições as ficaram documentadas no livro “À procura da Terra Santa”, diário escrito junto com Diana Emidio.

Posteriormente, Musa Alshaer, diretor do PJS, me disse que se eu fosse um jornalista palestino, o tratamento teria sido completa­mente diferente, e provavelmente não teria conseguido atravessar o checkpoint sem enfrentar graves consequências. Conhecendo o histórico de comportamento agressivo por parte dos soldados israelenses, mesmo com estrangeiros e ainda mais com jornalistas e ativistas estrangeiros, tenho plena consciência de que a afirmação de Musa não foi feita de forma leviana.

A política do Estado de Israel é impedir o movimento palestino a todo custo, mesmo que seja para fora do território. Omar Nazzal, também membro da Secretaria Geral do PJS, foi proibido de atravessar o checkpoint que dá acesso à fronteira com a Jordânia. Nazzal representaria o sindicato palestino em uma conferência da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) na Tunísia. Apesar de se tratar de dois territórios árabes, as fronteiras internacionais com Jordânia e Egito são controladas pelos soldados israelenses desde a anexação em 1967. Desta maneira, a restrição arbitrária do estado israelense proíbe os palestinos de saírem de seu próprio país.

Na Faixa de Gaza, as restrições de movimento são completa­mente diferentes. Como parte das negociações do primeiro acordo de Oslo, mediado pelos noruegue­ses e assinado por Yasser Arafat e Yitzhak Rabin em 1993, ficou estabelecido que o Estado de Israel se comprometeria a retirar o exército de Gaza e Jericó, transferindo a responsabilidade adminis­trativa dessas áreas para a Autoridade Nacional Palestina (ANP) [2] [3]. Devido ao assassinato de Rabin (1995) por um extremista israelense contrário à paz, a reti­rada dos assentamentos só iniciou em 2005, cerca de doze anos após o compro­misso ter sido firmado.

O plano, iniciado por Ariel Sharon como uma tentativa de pôr fim à Segunda Intifada, resultou na evacuação de 8.000 colonos, que foram realocados em outras áreas palestinas contestadas internacionalmente. Desde então, como não há assentamentos na região da Faixa de Gaza, o Ministério da Defesa estrategicamente reposicionou as tropas na “fronteira” do terri­tório, incluindo a passagem de Rafah, única saída internacional para o Egito, e nunca mais saiu, transformando Gaza em um campo de exter­mínio onde a indústria bélica de Israel testa suas armas em uma população cativa para depois vendê-las para outros estados.


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