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Rússia veta resolução de cessar-fogo no Sudão e deixa a hipócrita "comunidade" internacional em "choque"

Hoje (18/11), a Rússia vetou uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que solicitava um cessar-fogo imediato no Sudão. Atualmente, o Sudão enfrenta uma das piores crises humanitárias do mundo desde o início do conflito, em abril de 2023. Estima-se que mais de 11 milhões de pessoas tenham sido deslocadas, sendo 3,1 milhões refugiadas em outros países. Relatórios da ONU indicam que cerca de metade da população sudanesa, aproximadamente 25 milhões de pessoas, necessita de ajuda humanitária urgente devido à fome e à precariedade nos campos de deslocados.


A proposta foi apresentada pelo Reino Unido e pela Serra Leoa, apelando ao fim imediato das hostilidades, à abertura de negociações para alcançar um cessar-fogo nacional e à implementação de pausas humanitárias para garantir a segurança dos civis e a entrega de ajuda humanitária.


O Reino Unido e os Estados Unidos, em discursos inflamados, criticaram o veto russo como "cruel" – o que realmente é – e "inconcebível". Contudo, o que deveria ser uma manifestação coerente em defesa da paz evidencia, mais uma vez, o silêncio conveniente sobre vetos semelhantes por parte dos próprios aliados ocidentais, como os Estados Unidos, que vetaram, pelo que me lembro, três vezes o cessar-fogo israelense na Palestina.


É fato que devemos criticar o veto russo; fato que queremos cessar-fogo tanto no Sudão quanto na Palestina e em todos os outros cantos do mundo; e fato que não há justificativa para um veto no Sudão, por mais que Dmitry Polyanskiy, representante adjunto da Rússia na ONU, tenha tentado justificar a decisão afirmando que “o conflito precisa ser resolvido pelas partes sudanesas”. Polyanskiy também acusou o Reino Unido de hipocrisia ao apontar o apoio britânico às ações de Israel em Gaza, caracterizando as críticas como um exemplo de “neocolonialismo”. – Bem, Polyanskiy também não está errado, mas vamos ao ponto.


O secretário de Relações Exteriores britânico, David Lammy, classificou a postura russa como “cruel e cínica” e questionou: “Quantos mais precisarão morrer, quantas mulheres mais sofrerão violência e quantas crianças ficarão sem alimento até que a Rússia permita que ajamos?”. – Senhor Lammy, nós não vimos a mesma comoção quando os EUA vetaram consecutivas propostas de cessar-fogo justificando a ação como "apoio ao direito de defesa de Israel". É impossível ignorar a ironia contida nas críticas.



Não há justificativa quando líderes mundiais podem interromper uma guerra e não o fazem, seja Biden, Trump, Macron, Keir Rodney Starmer ou Xi Jinping. Ao que parece, a questão central nunca é a defesa dos direitos humanos, mas a conveniência geopolítica e as alianças estratégicas. E quem paga o preço? – Claro que são os sudaneses, palestinos, congoleses, haitianos, e, até que chegue a nossa vez, pois, um dia, ela chegará.


A tragédia no Sudão é real e urgente, assim como o genocídio na Palestina e todas as outras. Todos merecem respostas consistentes da comunidade internacional. É lindo ouvir os discursos no G20 sobre paz, fome e inclusão, mas são apenas discursos vazios em um estúdio cinematográfico para produção de belas imagens publicitárias para postar nas redes sociais. A verdade é que, por trás dos bastidores, o que se fala, o que se vê e o que se faz são coisas completamente diferentes. Enquanto o discurso global continuar ditado por interesses econômicos e políticos, as vítimas seguirão sendo invisíveis, tratadas como meras peças de um jogo de poder.


Para que o Conselho de Segurança recupere sua credibilidade – se é que um dia teve –, é necessário romper com a lógica hipócrita e assegurar que os valores proclamados de paz e direitos humanos sejam aplicados de forma universal. Caso contrário, os vetos seguirão sendo instrumentos de manutenção do status quo, e os discursos inflamados, meras cortinas de fumaça para encobrir as verdadeiras prioridades das potências globais que brincam com nossas vidas.

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