top of page
Foto do escritorSiqka

Quem é Sayyed Hassan Nasrallah e o que realmente representa o Hezbollah, que enchem as fraldas de soldados israelenses?

Ontem, 27 de setembro de 2024, as forças de ocupação israelenses desencadearam um ataque contra a capital libanesa, Beirute, alegando que o alvo era o Hezbollah e seu líder, Hassan Nasrallah. A propaganda israelense se orgulhou de um suposto sucesso, afirmando que Nasrallah havia sido morto. Poucas horas após o ataque, fontes iranianas vinculadas ao grupo libanês desmentiram essa versão, revelando que o ataque servia, mais uma vez, como um pretexto para o massacre de civis libaneses, assegurando que Nasrallah estava vivo, bem e em segurança. Em um cenário de resistência contra os avanços sionistas nos territórios palestino e libanês, Nasrallah emergiu como um símbolo de luta, enquanto o Hezbollah se estabelece como uma força destemida a desafiar a tirania colonial e imperialista, representada por Israel e seu aliado, os Estados Unidos. Mas, afinal, quem é Hassan Nasrallah e o que representa o Hezbollah?

 


Sayyed Hassan Nasrallah nasceu em 1960 em uma família pobre de um campo nos arredores de Beirute. Desde cedo, destacou-se nos estudos, especialmente nas áreas religiosas. Seu pai, Abd al-Karim, era um comerciante que vendia frutas e legumes com ajuda de seus filhos nas vilas do sul do Líbano.

 

Com o início da guerra civil libanesa (1975 - 1990), sua família foi forçada a retornar à vila de Bazzouriyeh, no sul do país. Foi nesse contexto que, aos 15 anos, Nasrallah se uniu ao movimento Amal, uma organização política e paramilitar fundada por Mousa al-Sadr, o líder espiritual dos xiitas libaneses, por quem ele nutria uma profunda admiração.

 

Logo após, a família se mudou para Najaf, no Iraque, um importante centro religioso xiita. Lá, Nasrallah ingressou em um seminário xiita, onde foi orientado por Sayyed Muhammad Baqir al-Sadr, um dos clérigos xiitas mais proeminentes da época. Entretanto, em 1978, o regime iraquiano, que desconfiava dos clérigos e estudantes xiitas militantes, capturou Al-Sadr, torturou-o e o assassinou, forçando Nasrallah e outros militantes a deixarem o Iraque.

 

De volta ao Líbano, Nasrallah estudou e lecionou na escola de Abbas al-Musawi. Posteriormente foi selecionado como delegado político do movimento Amal, ao qual ainda fazia parte. Em 1982, após a invasão israelense do Líbano, Nasrallah decidiu seguir Abbas al-Musawi deixando o movimento Amal e se juntando ao recém-formado Hezbollah.

 

O Hezbollah, que se traduz como "Partido de Deus" em árabe, é uma organização política e militar libanesa, criada em 1982 durante a invasão israelense do Líbano. Com o apoio do governo da República Islâmica do Irã, o grupo surgiu em um contexto de resistência contra o domínio israelense e a ocupação do sul do Líbano. Composto principalmente por muçulmanos xiitas, o Hezbollah se define como um movimento de resistência contra Israel e um defensor dos direitos dos xiitas no Líbano.

 

Em 1992, após o assassinato de Abbas al-Musawi por forças israelenses — um ataque que também resultou na morte de sua esposa e três filhos — Nasrallah foi indicado pelo aiatolá Ali Khamenei, do Irã, para liderar o Hezbollah. Essa nomeação representou uma mudança estratégica para o movimento, que se fortaleceu e expandiu sua atuação como uma potência militar, política e de assistência social, sendo uma das principais fornecedoras de serviços básicos como saúde e educação na região.

 

Ideologicamente, a organização se inspira na Revolução Islâmica do Irã, defendendo uma visão política islâmica que se opõe à influência ocidental na região. Sob a liderança de Nasrallah, o Hezbollah consolidou uma ala militar robusta, reconhecida por suas táticas de guerrilha – qual o jornalista estadunidense Robin Wright descreveu Nasrallah como uma fusão entre Che Guevara e Khomeini. Fortalecendo não só a ala militar, o partido político do Hezbollah, atuante nas eleições no Líbano, vem ocupando cada vez mais assentos no parlamento.

 

As conquistas táticas e militares do Hezbollah, conforme afirmado pelo próprio Nasrallah, são fruto de sua curiosidade intelectual, especialmente em questões militares. Em entrevistas, ele revelou seu hábito de ler avidamente obras sobre a história e as táticas de seus inimigos, incluindo "Memórias de Ariel Sharon" e "Um Lugar sob o Sol", de Benjamin Netanyahu. Essa busca por compreender a lógica dos adversários moldou sua abordagem estratégica à frente do Hezbollah.

 

Sayyed Hassan Nasrallah é reconhecido por seu carisma e habilidade retórica, consolidando-se como um dos líderes mais influentes do Oriente Médio e, ao que tudo indica, conquistando a opinião pública ocidental de todos aqueles que se opõem ao genocídio palestino e ao avanço sionista sobre o Líbano.

 

De acordo com o perfil biográfico publicada pela Al Jazeera em 2006, Nasrallah é um homem de família que valoriza os momentos simples ao lado de sua esposa, Fatima Yassin, e de seus filhos, entre os quais se destaca seu primogênito, assassinado em um ataque israelense.

 

Na noite de 12 de setembro de 1997, quatro combatentes do Hezbollah foram mortos em uma emboscada israelense no sul do Líbano. Entre os mortos estava Muhammad Hadi, o filho mais velho de Nasrallah, que contava apenas dezoito anos. Em um ataque aéreo simultâneo, cinco soldados libaneses e uma mulher também foram assassinados ao norte da zona de segurança. Esses ataques foram interpretados como uma retaliação à operação realizada uma semana antes, que resultou na morte de doze soldados israelenses. Ao receber a trágica notícia da morte de seu filho, Nasrallah declarou: "Estou orgulhoso de ser o pai de um dos mártires."

 

Quando as forças de ocupação divulgaram fotos do corpo de seu filho e se ofereceram para trocá-lo por partes dos corpos dos combatentes mortos na emboscada anterior, Nasrallah respondeu: "Fiquem com ele. Temos muitos outros homens como Hadi prontos para se oferecer à luta." Em homenagem ao jovem, foi realizado um período de luto de sete dias no sul de Beirute, que atraiu cerca de duzentas mil pessoas.

 

Nasrallah e o Hezbollah mantém um posicionamento crítico quanto a outros grupos e líderes no Oriente Médio. Quando questionado em uma entrevista ao jornalista Robin Wright do Washington Post para o livro Dreams and Shadows: The Future of the Middle East, Nasrallah afirmou sobre o ataque contra o World Trade Center em 2001: "Bem, é claro, o método de Osama bin Laden, e a moda de bin Laden, nós não os endossamos. E muitas das operações que eles realizaram, nós os condenamos muito claramente." Quanto ao Talibã ele disse: "A pior, a coisa mais perigosa que esse renascimento islâmico encontrou... foi o Talibã." Essas e outras declarações refletem a oposição a Al-Qaeda, Talibã, Estado Islâmico (Daesh) e a outros movimentos fundamentalistas islâmicos, uma posição que resultou em tentativas de assassinato contra ele por células da Al-Qaeda no Líbano. A crítica de Nasrallah a esses grupos demonstra sua profunda compreensão das dinâmicas de poder no Oriente Médio.

 

Ao longo dos anos sob sua liderança, o Hezbollah passou de um pequeno grupo de resistência a uma força militar e política de grande presença na região. Ele guiou o movimento durante o conflito de 2006 contra Israel, conquistando uma vitória simbólica que forçou a retirada das forças israelenses do sul do Líbano.

 

Nasrallah é frequentemente rotulado pelos líderes ocidentais — que representam interesses imperialistas e colonialistas — como um terrorista, principalmente por criticar abertamente os Estados Unidos e Israel, acusando-os de imperialismo no Oriente Médio. Em uma entrevista à rede ABC, ele afirmou que Israel é um "corpo estranho na região, destinado a ser expulso, assim como os cruzados.” Essa situação nos leva a uma reflexão importante: Se qualquer um que empunhe armas contra um estado de ocupação é imediatamente classificado como terrorista, então, como devemos categorizar aqueles que bombardeiam civis em territórios ocupados, como a Palestina e o Líbano?

 

"O nosso problema com os israelenses não é que eles sejam judeus, mas que são ocupantes que estão a violar a nossa terra e os nossos lugares sagrados." [...] "Percebemos o que aconteceu na Palestina, na Cisjordânia, na Faixa de Gaza, no Golã, no Sinai. Chegamos à conclusão de que não podemos confiar nos estados da Liga Árabe, nem nas Nações Unidas. A única maneira que temos é pegar em armas e lutar contra as forças de ocupação." 30 de novembro de 2009, Hassan Nasrallah ao ler o novo manifesto político do partido

 

Em meio ao turbilhão de conflitos e desinformação, a figura de Hassan Nasrallah e a resistência do Hezbollah emergem como símbolos de um povo que se recusa a se submeter. O ataque israelense de 27 de setembro de 2024 não é apenas uma tentativa de silenciar um líder; é uma brutal manifestação de uma ocupação que, por décadas, tem ceifado vidas e sufocado a liberdade no Oriente Médio sem reconhecer suas fronteiras. Este ataque se insere em um contexto de genocídio que já perdura por 76 anos e que entra, agora, em uma “solução final” que visa eliminar qualquer forma de resistência a sua ocupação colonial. A mensagem é inequívoca: o espírito de resistência do Hezbollah permanece vivo e pronto para resistir ao próximo ataque; assim como seu líder Hassan Nasrallah.

 


 

Referências

Al Jazeera. (2006). Profile: Sayed Hassan Nasrallah. 

Al-Bawaba. (2003). Biographical sketch of Sayyed Hassan Nasrallah: “The Nasrallah Enigma”. 

Wright, R. (2006). Inside the Mind of Hezbollah. Beirut: Washington Post. Fonte: https://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2006/07/14/AR2006071401401_pf.html

Ynetnews. (2006). Hizbullah: No more clashes with Lebanese army. Fonte: https://www.ynetnews.com/articles/0,7340,L-3292752,00.html

 

Creative Commons (1).webp

ÚLTIMAS POSTAGENS

bottom of page