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Foto do escritorSiqka

Dia da Consciência Negra? "Será o Benedito?"

Hoje, 20 de novembro, celebramos o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra no Brasil. Um dia que, ao invés de ser um momento de festa e de discursos melosos sobre superação, deveria ser uma oportunidade para confrontarmos de frente a realidade cruel e inegável da nossa sociedade. Mas não vou escrever um texto bonito sobre as superação e blá, blá blá... Não! Não é sobre isso que precisamos refletir neste momento. Em vez disso, vou usar esse dia para lembrar a todos do racismo que ainda permeia nossa sociedade e que, em 2024, segue matando, segregando e excluindo os negros do Brasil.


O Brasil, um país que se diz "livre" de sua herança escravocrata, ainda apresenta números aterradores quando se trata da violência contra a população negra. O Atlas da Violência de 2024 revela que 73% dos homicídios no país, entre 2012 e 2022, foram cometidos contra negros, e a taxa de mortalidade para esses indivíduos é quase três vezes maior que para os não negros. Isso não é uma estatística isolada, é a expressão do racismo sistemático que ainda está enraizado em todos os níveis da nossa sociedade.


Além disso, o sistema penal brasileiro segue sendo um verdadeiro aparato de repressão contra os negros. A política de "guerra às drogas", tem sido uma das principais responsáveis por essa criminalização desproporcional. O que vemos é a população negra sendo cada vez mais encarcerada, muitas vezes por delitos mínimos, enquanto os brancos, principalmente os de classe média e alta, conseguem escapar de quaisquer condenações. Não é exagero afirmar que o sistema penal é um dos maiores cúmplices na perpetuação do racismo no Brasil.


E as mulheres negras? Elas são as maiores vítimas da violência de gênero. A taxa de homicídios de mulheres negras costuma variar – nos últimos anos de – 50 à 67% maior do que a de mulheres brancas. Não são apenas números frios, são vidas perdidas, histórias interrompidas, famílias destruídas. Meninas negras, especialmente nas periferias, continuam sendo as maiores vítimas de abusos sexuais, violência doméstica e todo tipo de opressão. Então, me pergunto: o que estamos celebrando hoje?


Será que somos realmente conscientes da situação dos negros no Brasil? Não, não somos. Ou melhor, somos conscientes, mas nossa consciência está anestesiada. Continuamos vivendo no lugar comum do "reconhecimento", como se isso fosse o suficiente para mudar algo. Mas hoje, ao invés de apenas lamentarmos, ou apenas "termos consciência" dos dados e estatísticas, deveríamos nos perguntar: o que estamos fazendo para combater essa realidade?


Eu, pessoalmente, não posso mais me conformar. Quero que o 20 de Novembro seja um dia de verdade, um dia de conscientização que não se limita a hipocrisia das postagens em redes sociais. Quero que seja o dia em que, como sociedade, decidimos agir de fato.


Vamos olhar para a figura histórica de Benedito Sete-Léguas, um guerreiro quilombola, e perguntar: O que ele faria hoje? Nascido em 1805, no Espírito Santo, Benedito foi um símbolo de resistência contra a escravidão. Ele organizava fugas, destruía senzalas e liderava quilombos com um único propósito: libertar aqueles que ainda estavam na escravidão. Quando capturado e dado como morto, sua lenda só cresceu. Suas ações não eram apenas de sobrevivência, mas de luta ativa contra o sistema escravagista.


Benedito Sete-Léguas era tão temido pelos escravagistas que, praticamente qualquer infortúnio na região—como incêndios, colheitas ruins ou outros acidentes—era atribuído a ele, quase como se fosse uma figura mitológica. Esse medo e a fama de sua resistência fizeram com que a expressão “Será o Benedito?” se popularizasse, sendo usada para apontar um culpado misterioso ou para explicar eventos inesperados. Ele se tornou um símbolo de resistência tão poderoso que sua imagem ultrapassou a de um simples homem, transformando-se em um quase mito entre os racistas.


Será que, hoje, estamos prontos para ser como Benedito Sete-Léguas? Não basta mais ter "consciência" do racismo, é hora de nos engajarmos ativamente na luta. O que a sociedade brasileira precisa não é de mais conselhos ou ponderações. Precisamos de ação, de combate feroz contra os racistas de hoje, contra o sistema que ainda opera para manter os negros no lugar de subalternidade.


Como Benedito, é hora de questionar, de destruir as senzalas modernas, sejam elas econômicas, culturais ou políticas. O racismo não será erradicado com boas intenções, mas com um compromisso de luta constante. O "Benedito" está chegando. E ele não virá para ser apenas lembrado, ele virá para transformar a realidade.


Portanto, ao invés de celebrarmos passivamente o 20 de Novembro, devemos nos perguntar: O que estamos fazendo para que, daqui a algum tempo, as futuras gerações celebrem uma sociedade realmente antirracista? Vamos agir. Vamos lutar. O Benedito Sete-Léguas está chegando, e ele exige ação, não discurso.

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