Sudão à Beira do Colapso: Guerra, Fome e Deslocamento em Massa em uma Crise Humanitária sem Precedentes
- Clandestino
- 16 de fev.
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O Sudão enfrenta uma guerra civil devastadora que se aproxima de seu terceiro ano, deixando um rastro de desnutrição, deslocamento em massa e insegurança crônica. Enquanto a ONU se prepara para lançar um apelo recorde de US$ 4,2 bilhões para financiar operações de ajuda no país, destacamos alguns dos principais aspectos dessa que é considerada a maior e mais grave crise humanitária e de deslocamento do mundo atualmente.

O Conflito: A Ruptura do Processo de Paz
Até o final de 2022, havia esperanças de que um processo de paz mediado pela ONU pudesse levar a uma transição para um governo civil no Sudão, após a queda do ditador Omar al-Bashir em um golpe militar e a subsequente repressão violenta de protestos pró-democracia. No entanto, tensões entre as Forças Armadas Sudanesas (SAF) e as Forças de Apoio Rápido (RSF) — grupos que haviam colaborado para derrubar al-Bashir — aumentaram no início de 2023. O conflito eclodiu em 15 de abril, quando a RSF atacou a capital, Cartum, forçando a ONU a realocar suas operações para Port Sudan, no Mar Vermelho.
O Secretário-Geral da ONU descreveu a situação como uma catástrofe de "escala e brutalidade impressionantes", alertando que o conflito está se espalhando para a região. A organização continua a apoiar esforços de paz em colaboração com a União Africana (UA) e outras entidades regionais.
A Crise Humanitária: Mais de 30 Milhões de Pessoas em Necessidade
A guerra teve um impacto catastrófico sobre a população civil. Cerca de 30,4 milhões de pessoas — mais de dois terços da população — precisam de assistência humanitária, incluindo alimentos, saúde e outros apoios básicos. A economia entrou em colapso, com preços de alimentos e combustíveis disparando, tornando-os inacessíveis para muitas famílias.
A fome aguda é uma ameaça crescente, com mais da metade da população enfrentando insegurança alimentar severa. Condições de fome já foram confirmadas em cinco regiões, e espera-se que se espalhem para outras áreas. A Coordenadora Humanitária da ONU no Sudão, Clementine Nkweta-Salami, alertou que a situação é crítica, com taxas de desnutrição aumentando drasticamente em áreas como Kordofan do Sul.
Apesar dos desafios de segurança, a ONU e seus parceiros continuam a fornecer ajuda. O Programa Mundial de Alimentos (PMA) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estão distribuindo alimentos e sementes, beneficiando milhões de pessoas. No entanto, o sistema de saúde está à beira do colapso, com unidades médicas atacadas e profissionais de saúde forçados a fugir.
Deslocamento em Massa: Uma Crise sem Precedentes
Mais de três milhões de pessoas foram forçadas a buscar refúgio em outros países, enquanto quase nove milhões estão deslocadas internamente. Esse número supera a população total da Suíça. O deslocamento contínuo, impulsionado pelas mudanças nas linhas de frente, complica os esforços de ajuda.
A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) descreveu a situação como "a maior e de crescimento mais rápido crise de deslocamento do mundo". Refugiados e deslocados internos enfrentam escassez de alimentos, recursos naturais limitados e surtos de doenças como cólera e sarampo. Países vizinhos, muitos já enfrentando crises econômicas e de segurança, lutam para acomodar os recém-chegados.
Insegurança: Vulnerabilidade de Mulheres e Crianças
Desde o início do conflito, mais de 18.800 civis foram mortos, e a violência continua a aumentar. Mulheres e meninas são particularmente vulneráveis, com relatos de estupros, casamentos forçados e sequestros. Crianças também são recrutadas por grupos armados, forçadas a lutar ou espionar.
A ONU documentou violações graves de direitos humanos cometidas por ambos os lados do conflito, incluindo ataques a civis e trabalhadores humanitários. Investigadores pedem que os responsáveis sejam levados à justiça.
Financiamento: Uma Necessidade Urgente
A falta de fundos está limitando severamente a capacidade da ONU de responder à crise. O ACNUR e seus parceiros têm lutado para fornecer assistência mínima, com cortes drásticos nas rações alimentares. Um apelo por US$ 4,2 bilhões foi lançado para cobrir as necessidades humanitárias no Sudão, com US$ 1,8 bilhão adicionais necessários para apoiar países vizinhos que acolhem refugiados.
Embora o valor pareça alto, ele representa apenas cerca de US$ 0,50 por dia por pessoa para os 21 milhões de sudaneses em extrema necessidade. A comunidade internacional é chamada a agir rapidamente para evitar uma catástrofe ainda maior.