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Foto do escritorLuiz Fernando Padulla

Síria: o último bastião que resistiu à Primavera Árabe

Sabemos que a geopolítica no Oriente Médio não é fácil e simples em seu entendimento. Sua complexidade e todo quebra-cabeça que envolve a região, requer análises mais aprofundadas e históricas.

Não irei aqui aprofundar especificamente no contexto histórico - até porque não me julgo capaz de tal análise - mas quero apenas tecer breves comentários e modestas avaliações a respeito da queda do governo sírio, até porque temos visto várias posturas distintas – e até incoerentes – dentro da própria esquerda e de grupos pró-palestina.

O primeiro ponto que chamo atenção é justamente a visão deturpada – propositadamente – que a mídia ocidental, sempre alinhada e aliada ao imperialismo estadunidense, faz a respeito da Síria e, especialmente, de Bashar Al-Assad. Tratado como ditador, para imputar isso na mentalidade das pessoas e obviamente causar repúdio ao governante, essas corporações fazem o serviço da propaganda imperialista. Lembre-se que todos aqueles governos que se puseram contra os interesses estadunidenses foram (e são) tratados como ditadores. Foi assim como Sadam Hussein (Iraque), Muammar Gaddafi (Líbia), Hosni Mubarak (Egito), Fidel Castro (Cuba) e é assim que tratam Putin (Federação da Rússia), Nicolás Maduro (Venezuela) e Kin Jong-un (República Popular Democrática da Coréia), Ali Khamenei (República Islâmica do Irã) para citar alguns exemplos.

Curiosamente, não levantam uma única indagação e crítica à longevidade de governos quando esses servem ao imperialismo. Ou alguém já viu alguma crítica aos 16 anos de Angela Merkel na Alemanha? Alguma crítica ao tempo que Bibi Satãnyahu está no poder do estado pária de IsraHELL?

Já dizia o saudoso Leonel Brizola: quando vocês tiverem dúvidas quanto a que posição tomar diante de qualquer situação, atentem: Se a Rede Globo for a favor, somos contra. Uma maneira didática de entender exatamente a quem servem os meios de comunicação oligárquicos. Sendo assim, tenha muito cuidado ao tomar posição através da opinião que essas redes corporativas divulgam.

Além disso, temos que lembrar o que foi a tal Primavera Árabe, ocorrida em 2010 em grande parte dos países árabes. Tais movimentos avançaram do norte da África e no Oriente Médio, caracterizando-se pela insatisfação popular contra regimes autoritários e opressivos, e que lutavam por liberdade e contra a corrupção, mas que hoje sabe-se ter sido um movimento para atacar o pan-arabismo.

E com isso governos foram desestabilizados e até derrubados, como no caso da Tunísia, Líbia e Egito. Lembro até hoje o linchamento covarde que Gaddafi sofreu nas ruas, sendo chutado e arrastado por pessoas.

Lembremos que não foi a única vez que tentaram desestabilizar a região. Antes das famigeradas revoluções, nos anos 90, com a Guerra do Golfo (sempre com dedos e garras do imperialismo), teve como alvo o Iraque. Posteriormente, já em 2003, os EUA inventaram armas de destruição em massa para justificarem sua invasão neste país e derrubarem o governo de Saddam Hussein. Toda perseguição culminou com seu enforcamento em 2006.

Poderíamos ainda citar a invasão estadunidense – apoiada por aliados do Ocidente – ao Afeganistão em 2001, sob a propaganda de combate ao terrorismo e caçada aos membros da Al-Qaeda (aquela mesma que outrora foi financiada pelos EUA para combater a URSS, promovendo até o treinamento de seus integrantes pela CIA – o mais famoso sendo Osama Bin-Laden), mas que na verdade trouxe destruição e novo roubo de recursos naturais, promovendo lacunas que permitiram o surgimento de novos grupos extremistas como o DAESH/ISIS de onde proliferam braços como o HTS (grupo que agora não é mais considerado como terrorista pelo imperialismo, mas viraram os rebeldes que libertaram a Síria da ditadura).

Percebam que esse discurso mentiroso de levar a democracia cai por terra quando se observam os verdadeiros interesses: áreas petrolíferas, apoio ao estado genocida de IsraHELL e controle da região para evitar a expansão e domínio de Rússia e China, em especial à Nova Rota da Seda, assim como conter a ameaça do BRICS (bloco econômico real que enfraquece cada vez mais a hegemonia estadunidense).

É notável que aqueles que comemoram a queda de Bashar Al-Assad são países que têm seus interesses apoio aos EUA. Não podemos negar também que parte da população também está apoiando, mas servem como massa de manobra – tal como fizeram engajando o povo durante a Primavera Árabe, sabidamente apoiada e financiada pelas redes sociais estadunidenses, catalisando os protestos.

O curioso é que esses países eram prósperos em suas economias, e apresentavam estabilidade política na região. Ou seja, o imperialismo estadunidense, além de roubar recursos, levou instabilidade e influenciou na soberania dos países.

Passados alguns anos, qual o resultado e frutos que esses países colhem? Pobreza, instabilidade política e governos subservientes aos interesses dos EUA e Ocidente, promovendo a perda da soberania. E no rastro do enfraquecimento do Oriente Médio, o regime nazisionista de IsraHELL também se aproveita, ampliando suas fronteiras e domínio territorial, promovendo o genocídio e limpeza étnica.

Assim, ainda que podemos ter críticas ao governo de Bashar Al-Assad, é incoerente por parte daqueles que se dizem internacionalistas/esquerdistas e até mesmo defensores da Palestina que comemorem a queda da Síria. Os dias que virão pela frente dirão por si só, e ainda que não sejamos videntes, temos uma visão histórica do que está por vir para a Síria, Palestina e toda região.


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