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Foto do escritorSiqka

Terrorismo israelense em Nablus, na Palestina ocupada

A Palestina amanheceu em chamas! Nada novo por aqui! Acordamos com muitas mensagens no celular perguntando se estávamos vivos e bem. Já sabíamos o motivo para tamanha preocupação. Ontem à noite, em resposta ao massacre de Jenin, um palestino armado disparou contra israelenses que saíam de uma sinagoga, em Jerusalém. O ataque matou 9 israelenses e deixou outros 10 feridos. Na televisão, o Ministro de Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, anunciava, sem qualquer comprovação, que o atentado havia sido orquestrado pelo Hamas.




Antes de continuar, preciso dar um panorama de quem é Itamar Ben-Gvir. Para começar, lembra que falei sobre o massacre na Tumba dos Patriarcas em Hebron, cometido pelo americano naturalizado israelense Baruch Goldstein. Então, Goldstein era membro do Kach, um partido judaico-ortodoxo e nacionalista que prega, a expulsão de todos os árabes da Palestina. Dentre outras coisas, o movimento pedia ao governo medidas como: anexação de toda Palestina; soberania da Esplanada das Mesquitas e a construção de uma sinagoga no local; oferecer terras palestinas para todo judeu que se casar; autonomia de tiro aos soldados contra atiradores de pedras; e censura da imprensa e submissão aos Estado Judeu.

 

O Kach, era obviamente liderado por outro lunático fascista, Meir Kahane. Daí o nome kahanismo para aludir aos mais cruéis e lunáticos sionistas. Meir Kahane foi um Rabino ultranacionalista nascido nos EUA, onde chegou a ser consultor do FBI. Migrou para Palestina em 1971, no mesmo ano foi condenado por conspiração e fabricação de explosivos para fins terroristas. Kahane foi preso mais de 60 vezes pelas autoridades israelenses e proibido de entrar em diversos países. Sua principal ideologia era expulsão de todos os árabes da Palestina e troca da população por imigrantes judeus. Em 1984, o Comitê Eleitoral Central de Israel o proibiu de ser candidato alegando que Kach era um partido racista, mas a Suprema Corte de Israel anulou a proibição alegando que o comitê não estava autorizado a proibir a candidatura de Kahane. A Suprema Corte sugeriu que o Knesset aprovasse uma lei excluindo partidos racistas de futuras eleições. O Knesset respondeu em 1985 alterando a Lei Básica[1] para incluir uma proibição contra o registro de partidos que e incitam o racismo. – É claro que isso é puramente para fins de marketing, já que a maioria dos partidos fazem o mesmo.

 

O Kach pregava ideias tão boçais que nem mesmo os sionistas aguentaram, e declararam-no como uma organização terrorista. Não que chamar algum grupo de terrorista é algo novo para o Estado de Israel, mas dessa vez era um grupo político-judaico e israelense. Logo após o massacre na Tumba dos Patriarcas, as autoridades israelenses realizaram busca e apreensão em suas instalações. Os policiais apreenderam armas escondidas no local e colocaram alguns de seus integrantes em detenção administrativa.

Explicado quem é Meir Kahane, e o que prega o Kach, sua organização criminosa, vamos especificar o atual Ministro de Segurança de Israel. Itamar Ben-Gvir, é seguidor de Kahane e não esconde sua participação no Kach. Ben-Gvir já foi denunciado dezenas de vezes por discurso de ódio, enfrentando algumas poucas acusações que não deram em nada. Em outubro de 2021, Ben-Gvir foi visitar um prisioneiro que estava em greve de fome há mais de três semanas, um protesto contra sua detenção administrativa. O ministro declarou ironicamente que foi visitar o prisioneiro para “ver de perto esse milagre que uma pessoa permanece viva apesar de não comer por vários meses”.

 

Ben-Gvir foi investigado em 2021 depois aparecer puxando uma arma para seguranças árabes durante uma disputa de estacionamento na garagem subterrânea do centro de conferências Expo Tel-Aviv. Tudo foi filmado e distribuído em vídeo. Ben-Gvir aparece sacando uma pistola e apontando para os árabes desarmados. Também não deu em nada, afinal, as vítimas eram palestinas.

 

No ano passado, esse lixo a quem chamam de ministro participou de confrontos entre colonos judeus ilegais e moradores palestinos do bairro de Sheikh Jarrah. Há anos o governo de Israel vem expulsando os palestinos desse bairro de Jerusalém para construção de novos assentamentos ilegais. Nesse episódio Ben-Gvir participou empunhando uma arma contra palestinos, enquanto gritava “Nós somos os proprietários aqui, lembre-se disso, eu sou seu proprietário”.

 

Depois de tantos crimes e episódios deploráveis, advinha o que aconteceu com Itamar Ben-Gvir: Se uniu ao governo de outro lixo chamado Benjamin Netanyahu, tornando-se Ministro de Segurança Nacional em dezembro de 2022, mesmo sob muita pressão de israelenses e até mesmo da mídia internacional.

 

Conhecendo um pouquinho dessa figura ilustre do governo israelense, podemos entender que suas palavras não se apoiam em fatos, elas são motivadas pelo mesmo ódio e desumanidade que motivam todos os psicopatas.

 

Referente ao ataque em Jerusalém, o Hamas afirmou que nenhum de seus militantes estavam envolvidos e não assumiu autoria sobre o crime cometido contra os israelenses na rua da sinagoga. Fundado durante a Primeira Intifada em 1987, o Hamas é um partido palestino de posição nacionalista e islamista cujo objetivo é garantir a libertação do povo palestino e lutar pelo fim de Israel como um Estado. Em 2006, o Hamas ganhou a eleição para o Parlamento Palestino, mas sendo considerado mais radical que o Al-Fatah[2], o Hamas foi impedido de assumir sendo exilado na Faixa de Gaza. O Hamas passou a atingir alvos civis em Israel e orquestrar atentados terroristas depois do massacre de Baruch Goldstein na Tumba dos Patriarcas, antes disso, seus avos eram direcionados apenas contra os militares israelenses, assumindo autoria por todos seus ataques. Gostando ou não, concordando ou discordando das táticas operacionais; seja como for e chamando como preferir, seja de partido político ou de organização terrorista, uma coisa é certa: se o Hamas disse que não cometeu, é porque não cometeu.

 

Antes de ser acusado por essas linhas, quero esclarecer algumas coisas: eu não pertenço ao Hamas; nenhuma organização política paga meu salário; e não sou eu quem devo escolher qual partido é certo e qual é errado para o povo palestino. Meu objetivo com meu trabalho é ajudar à emancipação palestina, quem deve escolher o partido para seguir ou votar, é o povo palestino. Afinal, eu voto no Brasil!

 

Ontem fomos até às 3h da manhã, acompanhando as notícias, sabíamos que o que seguiria seria um banho de sangue. Durante a madrugada, o Estado de Israel bombardeou a Faixa de Gaza e colonos israelenses invadiram territórios palestinos para propagar o terror. Lembrando que tudo isso aconteceu em resposta ao massacre de Jenin do dia 26. Conhecendo o desserviço prestado por algumas das maiores mídias de informação no Brasil, as quais noticiaram superficialmente o ataque de Jenin, fomos dormir sabendo que depois do ataque em Jerusalém alguém ligaria. E ligou!

 

As notícias que circularam eram que Israel estava se defendendo de terroristas. Como previsto, passamos algumas horas convencendo familiares e amigos de que estávamos bem e seguros. Embora estivéssemos vivos, não estávamos nem bem, muito menos seguros. Próximo de Kobar, existe um assentamento ilegal chamado Halamish[3], esses colonos passaram a noite propagando o terror entre os palestinos. Mas nada disso, nem o massacre de Jenin, nem os bombardeios à Gaza, muito menos os ataques de colonos israelenses, tiveram ênfase na mídia brasileira; somente o “atentado terrorista contra judeus em Jerusalém”.

 

Não que eu concorde com o ataque contra civis, mas veja bem a história como, na verdade aconteceu. O atirador palestino que cometeu a chacina e depois foi morto pela polícia, foi identificado como Heiri Alkam, de 21 anos. Alkam é morador do bairro de A-Tor, em Jerusalém Oriental (na Palestina). Uma foto do atirador circulou na televisão, nela o jovem aparece na sala de casa, com um quadro de um senhor ao fundo. Aquele senhor era Hayeri Alkam, avô do atirador, assassinado a facadas em 1998 na rua Shmuel HaNavi em Jerusalém. Obviamente, nenhum israelense foi preso pelo crime. Não que uma coisa justifique a outra, mas naquela noite Heiri Alkam, que não possuía antecedentes criminais, saiu de casa sabendo que iria morrer. Como disse, um ataque não justifica outro, mas a pergunta a se fazer é: como uma pessoa que cresce convivendo com tamanha violência consegue tomar outro rumo que não a própria violência?

 

O mundo consegue intitular o povo árabe, em especial os palestinos, como “terrorista”, mas não é capaz de intitular de terrorista os presidentes americanos que invadiram os países árabes e perpetraram tantos massacres; não é capaz de chamar de terrorista o sistema de genocídio permanente ostentado pelo sionismo. O mundo não se cansa de dizer que a Ucrânia e os ucranianos têm todo o direito de se defender contra Vladimir Putin e os soldados russos. Mas um palestino não tem esse direito, e quando se levanta, seja com uma pedra contra a ocupação israelense, eles são chamados de terroristas. Se nada justifica uma agressão, como pode a agressão contra os palestinos ser justificada por nada?

 

Depois de responder às mensagens e publicar alguns vídeos e informações sobre o que realmente estava acontecendo na Palestina; e já que não poderíamos sair para lugar nenhum, fomos novamente com Abu Khaled, Ruayda e Ayman cuidar das oliveiras.



 

[1]  As Leis Básicas de Israel são um componente essencial do direito constitucional de Israel. Essas leis tratam da formação e do papel das principais instituições do Estado e as relações entre as autoridades do Estado. Algumas delas também protegem os direitos civis.

[2] Al-Fatah, é um partido política, fundada em 1959 pelo engenheiro Yasser Arafat e Khalil al-Wazir, e outros membros da diáspora palestina, como Salah Khalaf e Khaled Yashruti. É o maior partido dentro da Organização para a Libertação da Palestina.

[3] Halamish, (ou Neveh Tzuf), é um assentamento israelense judaico ortodoxo na Cisjordânia Ocupada, estabelecido em 1977.

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