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Ruanda, Burundi e RD Congo: a tríade fronteira do inferno

  • Foto do escritor: Siqka
    Siqka
  • 22 de fev.
  • 3 min de leitura

Enquanto agentes do Wall Street financiam milícias no leste da República Democrática do Congo (RDC), em uma guerra que devora vidas e territórios, mais de 40.000 refugiados – esmagadoramente mulheres e crianças – já fugiram para o Burundi. Nessa semana, 9.000 pessoas atravessaram a fronteira em um único dia, empurradas pelo terror. Mas quantos chegaram? Quantos ficaram pelo caminho?

Os que tentam escapar pelo rio Rusizi, em embarcações improvisadas, jogam seus destinos à sorte. A travessia é uma roleta russa entre Burundi, RDC e Ruanda. Não há margens seguras, apenas a promessa de um alívio momentâneo antes da próxima calamidade.

“A escalada do conflito na RDC tem gerado um impacto sério também no Burundi. Nas últimas semanas, testemunhamos um número massivo de congoleses cruzando a fronteira”, declarou Brigitte Mukanga-Eno, do ACNUR. Palavras diplomáticas para descrever um genocídio que se desdobra diante de um mundo que finge não ver.

O pior ainda está por vir. Com os combates avançando rumo a Uvira, uma cidade estratégica perto do posto fronteiriço do Burundi, a pergunta não é se mais pessoas serão forçadas a fugir, mas quantas mais precisarão morrer antes que os verdadeiros responsáveis sejam cobrados.


O colapso humanitário

O ACNUR aplaudiu a decisão do governo do Burundi de conceder status de refugiado aos que fogem do conflito. Um gesto que soa como um triunfo humanitário, mas que na prática não passa de uma promessa. Proteção imediata? Para quem? Em que condições? A realidade é que a avalanche de deslocados está colapsando o que já era escasso: recursos, abrigo, comida e até esperança.

“É a primeira vez que o Burundi recebe tamanha quantidade de refugiados em tão pouco tempo. A última crise semelhante ocorreu no início dos anos 2000”, diz Mukanga-Eno. Mas a história se repete, enquanto os mesmos agentes continuam lucrando com a guerra e suas populações em estatísticas descartáveis.

Cerca de 6.000 refugiados entraram pelo posto de Bujumbura. Outros 36.000 escolheram atravessar o Rio Rusizi, exaustos, muitos deles desmaiando na margem depois de dias de fuga. Mas quem escapa? Quem sobrevive?

Mukanga-Eno conta que uma mulher chegou carregando seus filhos, sem perceber que já estavam mortos.

E quem carrega os mortos desse sistema?



O governo do Burundi "autorizou" que refugiados congolenses se empilhem no Estádio Rugombo, além de escolas e igrejas. Um gesto de suposta benevolência, mas que na prática joga milhares de pessoas para o limite da sobrevivência, em locais superlotados e perigosamente próximos à guerra que tentam deixar para trás; isso, sem contar as mortes por conta da proliferação de doenças que, no "mundo civilizado", são curáveis com algumas simples aspirinas.

“A estrutura para acolhimento é extremamente limitada”, admite Mukanga-Eno, representante do ACNUR. O governo até prometeu terras para assentamentos mais estáveis, mas, enquanto parece que a burocracia rasteja mais lentamente do que os refugiados feridos e mutilados.

As equipes humanitárias alertam para uma escassez brutal de alimentos, água potável e saneamento. O sarampo já se espalha entre as crianças, forçando uma campanha emergencial de vacinação. O UNICEF instalou tanques de água, enquanto o Programa Mundial de Alimentos (PMA) tenta distribuir refeições quentes aos que conseguem chegar vivos. O Médicos Sem Fronteiras (MSF) improvisa uma clínica móvel para socorrer corpos exaustos pela desnutrição, doenças e traumas. Ah o trauma!

O trauma é profundo: na República Democrática do Congo, duas mulheres ou meninas são estupradas a cada hora. A violência extrema que os refugiados carregam em suas memórias não tem espaço na comoção seletiva da mídia global, mas grita no olhar de quem atravessa rios e fronteiras na tentativa de continuar existindo.



Uma Crise sem Fronteiras, um Roubo sem Culpa

A fuga desesperada não para no Burundi. Uganda já recebeu mais de 13.000 refugiados desde janeiro. Na Tanzânia, as chegadas ainda são menores, mas crescentes: 53 congolenses pediram asilo em Kigoma em um único dia – o maior número deste ano. E tudo isso sem falar nos deslocados internos forçados, dos quais o ACNUR pede US$ 40,4 milhões para fornecer assistência na RDC e apoiar um fluxo projetado de 258.000 refugiados nos países vizinhos. Mas vamos ser honestos, a RDC não precisaria de caridade se Apple, Tesla e outras gigantes não saqueassem suas minas de coltan, cobalto, ouro e diamantes para alimentar a ilusão de um mundo tecnológico "sustentável". Enquanto CEOs enriquecem, milhões fogem do rastro de destruição que as mesmas empresas financiam.

Cansa repetir as estatísticas de assassinatos, estupros, deslocamentos forçados. Mas mais cansativo ainda é ter que nomear, outra vez, os mesmos culpados: corporações que financiam milícias, governos cúmplices e um mercado global viciado em extração e destruição.

Em resumo, o consumismo humano transformou a tríade fronteira entre RDC, Burundi e Ruanda em um verdadeiro inferno e, seja você indiferente ou não ao destino dessas pessoas, a verdade é que todos nós estamos alimentando as chamas desse fogo.

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