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Alerta vermelho para o mundo: O que Trump quer na RD Congo?

  • Foto do escritor: Siqka
    Siqka
  • 15 de mar.
  • 4 min de leitura

Donald Trump, com sua habitual falta de sutileza, sugeriu uma intervenção militar na República Democrática do Congo (RDC) em troca de concessões para a extração de minérios. Nada de novo. Os EUA sempre disfarçaram suas pilhagens com discursos cínicos sobre "ajuda humanitária" e "estabilidade regional". Mas a questão aqui não é o que Trump diz, e sim o que ele não diz – e, de fato, deseja.


A República Democrática do Congo é o maior produtor mundial de cobalto, responsável por quase 60% da produção global. Esse minério é exportado para a fabricação de motores de carros e aviões, cerâmica e baterias para eletrodomésticos. O país também responde por 80% da produção mundial de coltan, essencial para telefones, computadores e outros dispositivos tecnológicos. Esses minérios são vitais para indústrias como a Tesla, do bilionário Elon Musk – que, não por acaso, também ocupa um cargo ministerial no governo Trump. E toda essa riqueza é extraída às custas de uma força de trabalho praticamente escravizada, com um número alarmante de crianças submetidas ao trabalho forçado.


Além disso, o Congo abriga a segunda maior reserva de diamantes do mundo e é o terceiro maior produtor global, atrás apenas da Rússia e de Botsuana. O país também está entre os maiores produtores de ouro, sendo a principal origem do ouro contrabandeado para fora da África, seguindo rotas que atravessam a Tanzânia, Ruanda e Uganda até chegar a Dubai.


A promessa de segurança em troca de acesso irrestrito ao cobalto, coltan, cobre e lítio soa tentadora para o governo congolês. Com o leste do país em chamas, tomado por milícias armadas como o M23 – financiado por Ruanda e, indiretamente, pelo ocidente – o presidente Félix Tshisekedi pode estar inclinado a aceitar o Cavalo de Tróia oferecido por Washington. Afinal, o Congo é um escândalo geológico, e essa sempre foi sua maldição. Seu solo, repleto de riquezas, paradoxalmente mantém sua população aprisionada na miséria.


Os EUA alegam preocupação com a "influência chinesa" na mineração congolesa, e há um fundo de verdade nisso, mas por trás desse discurso há um interesse ainda mais sombrio. O verdadeiro prêmio não é apenas o lítio para os carros e robôs da Tesla, nem o cobalto para as baterias dos celulares ocidentais. É o urânio.


Poucos se lembram, mas o urânio que incendiou Hiroshima e Nagasaki saiu do Congo. Os EUA utilizaram minério congolês para fabricar as únicas duas bombas atômicas já lançadas sobre populações civis na história. E não parou por aí: cerca de 80% do arsenal nuclear estadunidense foi abastecido pelo urânio extraído da mina de Shinkolobwe, na província de Katanga.


Oficialmente, essa mina foi "fechada" em 1961. Mas quem acredita que o jogo parou ali? Desde então, a exploração ilegal e o contrabando seguem a todo vapor, abastecendo redes que operam longe dos olhos da opinião pública. A CIA sabe disso. O Pentágono sabe disso. E agora, Trump quer garantir que esse fluxo continue sob controle direto dos EUA.


Para alimentar essa nova pilhagem, uma carta de um senador congolês ao governo dos EUA sugere um "acordo estratégico": os americanos treinariam e equipariam as forças armadas da RDC para "proteger" as rotas de suprimento mineral. Uma proteção conveniente, que em outras partes do mundo já resultou em bases militares permanentes, golpes de Estado e governos marionetes.


A sociedade civil congolesa já dá sinais de alerta. Jean Pierre Okenda, da ONG La Sentinelle des Ressources Naturelles, insiste que qualquer negociação desse porte deve passar pelo parlamento e ser debatida publicamente. Mas será que o governo ouvirá? Ou veremos, mais uma vez, o Estado congolês servindo aos interesses estrangeiros em nome de promessas vazias de "desenvolvimento"?


Enquanto Tshisekedi vislumbra a proposta de Washington, o Conselho de Segurança da ONU se limita a declarações protocolares sobre a retirada das tropas ruandesas. E enquanto as potências disputam a quem pertence o Congo, os congoleses seguem sem nada. Os mesmos minerais que movem os celulares e carros elétricos do mundo são extraídos em condições desumanas, alimentando redes de exploração e violência.


As elites ocidentais falam em "cooperação estratégica", mas a história ensina outra lição: onde os EUA tocam, fica um rastro de sangue, golpes e destruição. Quando prometem "proteger" algo, geralmente significa ocupação militar permanente, governos fantoches e pilhagem sem limites.


E a ONU? Assiste à pilhagem de Washington com declarações diplomáticas vazias, enquanto os congoleses seguem como peças descartáveis no jogo imperialista em que os EUA dão as cartas. Os mesmos minerais que abastecem a indústria de guerra estadunidense e a ilusão de um mundo "verde" continuam sendo extraídos às custas do suor e do sangue de trabalhadores forçados.


O governo congolês nega estar trocando mineração por apoio militar, mas sabemos que é exatamente isso que está fazendo. Trump não está oferecendo uma parceria, mas sim uma coleira. E se Tshisekedi aceitar, mais uma vez o destino da RDC será decidido fora de suas fronteiras – para o lucro de poucos e a desgraça de muitos. Trump pode até não ter mencionado o urânio em seu discurso "humanitário", mas seu silêncio diz mais do que suas palavras.

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