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Foto do escritorSiqka

Descobertas inesperadas em Istambul: atravessando o Bósforo e encontrando Kadiköy

Nos dias que passamos em Istambul vasculhamos cada centímetro da região europeia. Hoje foi o dia de atravessar o Bósforo e conhecer o lado asiático da cidade. Não tínhamos nenhum plano específico, somente perambular pelas calçadas e observar a vida em seu mais pleno funcionamento, quem sabe encontrar as diferenças e semelhanças entre um lado e o outro.

 



Embarcamos em um ferry boat ali mesmo no Pera; o barco cruzou para o outro lado da margem, depois passando por baixo da Ponte de Gálata em direção ao Üsküdar, local onde um turco chegou voando após se jogar da Torre de Gálata. Foi o dia mais frio de todos e, não estava para brincadeira; durante a travessia do Estreito do Bósforo o barco balançou bastante, o Lucas pareceu não se importar nem com o frio, muito menos com o balanço do mar. Fiquei pensando “como pode ele ter medo de avião e não ter medo do mar mesmo sem saber nadar direito?”

 

Caminhamos pela rua, mas parecia que não chegaríamos a lugar nenhum. Tentamos tomar um ônibus para a mesquita Çamlıca em Istambul, construída no pico mais alto da cidade, mas não deu certo. Hoje o Lucas estava com a cabeça na lua e não conseguia de jeito nenhum se organizar como navegador. Acho que é pelo fato de estar chegando a hora de ir para Palestina. Ele disse, até treinamos algumas vezes, respostas prontas para dar para o policial da fronteira israelense. Geralmente os policiais fazem muitas perguntas: se você conhece algum palestino; se você vai para Palestina; se você já ouviu falar de Palestina e por aí vai. Claro que o Lucas não pode dizer que é jornalista, muito menos para o jornal que escreve. Pior ainda é sobre o que escreve. – Pensando bem, é melhor não falar nada! A opção que escolhemos foi dizer que somos ambos tatuadores. Engraçado seria alguém pedir para que ele desenhasse, aí acabaria toda farsa. – Eu acho que é isso que anda rodeando a cabeça desse homem hoje!

 

Como não conseguimos pegar ônibus, tentamos embarcar no metrô. Aprendemos cedo a comprar o cartão nos totens eletrônicos, na vigésima ou trigésima tentativa já estávamos craques. O Lucas foi na máquina e voltou com um cartão. Em Istambul você pode optar por comprar um cartão com três passagens que te dá acesso a todos os meios de transporte, obter um desconto comprando um com mais passagens. Fizemos o cálculo e optamos por comprar o de três unidades, já usamos tanto esse que agora não compensava mais. Vindo com o cartão, passei pela catraca, e quando o Lu foi passar ela começou a apitar. Um guarda tentou nos ajudar, mas disse que aquela passagem era diferente e nós teríamos que comprar outra, e depois descer em outro lugar e embarcar em outro ônibus, barco, disco voador, sei lá. Acabamos desistindo, o Lucas ficou “putasso”, não que ele seja um cara tipo tranquilo, mas em viagem é difícil vê-lo assim estressado; mas hoje ele está, e para não brigarmos é melhor nem ficar perguntando.

 

Ficamos andando na rua sem rumo, adoramos fazer isso, mas no bairro onde estávamos não tinha nada de diferente, era um bairro típico de cidade grande, com eletrônicos, meias e os típicos coletes salva-vidas pendurados; sem contar as ruas movimentadas com pessoas, carros, ônibus e metro por todos os lados. Nosso primeiro dia chato! Eu estava começando a me irritar também. – Pô, estou de férias, vamos perder um dia de passeio por causa desse chato! Ficamos andando igual duas baratas tontas. Do nada, ao atravessar uma avenida o Lucas olhou para uma placa e disse: – Vamos? Respondi: – Bora. Eu não sabia para onde estávamos indo, ele disse que nem ele, já que não fala turco, mas completou dizendo que geralmente aquelas placas marrons indicam pontos turísticos.

 

Conversando e caminhando passaram-se uns quinze minutos e chegamos. – Não acredito, gritei!

 

No primeiro dia de viagem, tentamos chegar ao mercado de Kadiköy, não conseguimos. Esse mercado tem dia certo, só funciona nas quartas-feiras e, nem acredito, hoje é quarta-feira; eu já nem tinha mais esperança de encontrar esse paraíso das compras, agora do nada, aqui estamos nós. Perguntei se o Lucas sabia o que era aquilo que estávamos vendo, ele disse que não. Desconfiei, mas percebi que ele realmente não fazia ideia de que por acaso encontramos o bendito Kadiköy.

 

Aprendi que viajando tudo conta, não só o destino final, mas muitas vezes, ou todas elas, o caminho para um lugar é tão emocionante quanto chegar nele, mesmo quando passamos por certas frustrações ou acabamos o dia irritados. No fim das contas o que fica são boas histórias para contar.

 

Eu até contaria um pouco mais sobre o mercado de pulgas de Kadiköy, mas andamos tanto e fiz tantas compras hoje que vou deixar por conta da imaginação de cada um e vou dormir um pouco. 


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