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Foto do escritorSiqka

A guerra no Sudão, que já se arrasta por mais de um ano, pode terminar sem que muitos sequer saibam que ela ocorreu

Desde abril de 2023, o Sudão enfrenta um conflito devastador pelo poder, que já resultou na morte de milhares de pessoas. Atualmente, dezoito milhões de sudaneses enfrentam fome aguda, e quase dez milhões foram forçados a abandonar suas casas, criando a maior crise de deslocamento interno do mundo. O Cenário incluí sarampo, cólera e outras doenças preveníveis que se espalharam rapidamente. Apesar da gravi­dade, a “mídia da desinformação” permanece em sua maioria, silenciosa.

 

Hoje, 14 de agosto de 2024, começa em Genebra as negoci­ações para um cessar-fogo no Sudão. Embora essas media­ções tragam esperança, existe o temor de que, mesmo que o conflito termine, as vítimas sejam enterradas em silêncio, enquanto a vida no “ocidente” segue como se nada tivesse ocorrido. Para impedir que isso aconteça, precisamos falar sobre o que está aconte­cendo no Sudão.

 

O que está acontecendo no Sudão?

 

Atualmente, dois grupos militares estão em conflito pelo poder, a disputa começou após o golpe militar no final de 2021. De um lado, estão as Forças Armadas Sudanesas (FAS) [1], que formam o exército regular com cerca de 200.000 soldados. Do outro lado, estão as Forças de Apoio Rápido (FAR) [2], uma milícia paramilitar composta por 70.000 a 100.000 membros.

 

Linda Thomas-Greenfield, embaixadora dos Estados Unidos na ONU, escreveu um artigo no The New York Times intitulado "O silêncio imperdoável sobre o Sudão" para explicar a gravidade da situação.


“Silêncio. Em setembro passado, quando visitei um hospital improvisado em Adré, Chade, onde jovens re­fugiados sudaneses estavam sendo tratados por des­nutrição aguda, foi tudo o que ouvi: um silêncio assus­tador.” (Thomas-Greenfield, 2024)

 

Segundo Greenfield, mesmo depois que o conflito foi desig­nado como uma das piores crises humanitárias do mundo, pouca atenção ou ajuda foi dada ao povo sudanês.

 

“O silêncio e a inação do mundo precisam acabar, e acabar agora.” (Thomas-Greenfield, 2024)

 

O artigo de Greenfield denuncia que as Forças Armadas Sudanesas bloquearam a principal rota de ajuda humanitária entre o Chade e Darfur, enquanto os membros das Forças de Apoio Rápido saquearam armazéns de suprimentos. Em um relatório das Nações Unidas de 2023, os investigadores revelaram que mulheres e meninas, algumas com apenas 14 anos, foram brutalmente estupradas por milicianos das Forças de Apoio Rápido, que também têm atirado indiscriminada­mente em civis e queimado vilarejos inteiros.

 

 

O Silêncio

 

Diante de uma situação tão grave, por que sabemos tão pouco sobre ela? Melissa Fleming, subsecretária-geral da ONU para Comunicações Globais, atribui essa falta de atenção ao que chama de "amortecimento psíquico". Segundo Fleming, o termo descreve a apatia crescente das pessoas em relação às tragédias, à medida que o número de vítimas aumenta. Fleming acredita que o alto número de vítimas como nos con­flitos como em Gaza ou na Ucrânia, assim como desastres climáticos, podem reduzir a percepção do impacto de crises como a do Sudão, embora outros fatores também precisem ser levados em consideração. (Schaer, 2024 )

 

Roman Deckert, especialista independente em Sudão, sugere que a complexidade do conflito – em que nenhum dos lados é claramente bom ou mau – contribui para a falta de visibilidade. Ele também aponta para o racismo ou eurocentrismo profun­damente enraizado, que pode levar a uma compreensão errô­nea do conflito como algo "não civilizado" ou "típico" da região. Deckert relembra que, quando começou a estudar o Sudão, a guerra nos países da antiga Iugoslávia recebia muito mais atenção do que a fome em Darfur. "As pessoas se parecem conosco; as casas se parecem com as nossas. Isso nos faz sentir mais próximos e facilita a identificação", obser­vou ele, comparando a situação atual à Ucrânia. (Schaer, 2024 )


 

Cessar-Fogo

 

Hoje, Suíça e Arábia Saudita serão os anfitriões das negocia­ções para um cessar-fogo no Sudão, mediadas pelos EUA. Representantes da União Africana, Egito, ONU e Emirados Árabes Unidos (EAU) foram convidados para observar. Embora conferências semelhantes tenham ocorrido no passado, elas não produziram resultados concretos. (Deutsche Welle, 2024)

 

Enquanto o Sudão continua a sofrer com um conflito devasta­dor, que resultou em uma crise humanitária de proporções alarmantes, o silêncio da comunidade internacional é um lembrete sombrio das desigualdades na forma como crises globais são tratadas. As negociações em Genebra oferecem uma esperança tênue para o fim das hostilidades, mas o mais importante é que o mundo preste mais atenção e se mobilize para apoiar a paz duradoura e a recuperação no Sudão. A indiferença, seja por "amortecimento psíquico" ou por precon­ceitos implícitos, só perpetua o ciclo de violência e sofrimento. É hora de romper esse silêncio e agir em solidariedade com o povo sudanês.

 

  

Referências

Deutsche Welle. (2024). Nova esperança para o Sudão: Conversações de paz em Genebra.

Schaer, C. (2024 ). Por que o mundo ignora a guerra civil no Sudão? Deutsche Welle.

Thomas-Greenfield, L. (2024). The Unforgivable Silence on Sudan. Nwe York: The New York Times.

 


Notas

[1] As Forças Armadas Sudanesas (FAS) são o principal ramo militar do Sudão, encarregado da defesa do país e da proteção de sua soberania. Além de atuar em conflitos internos e mudanças de governo, as FAS têm sido acusadas de violações de direitos humanos, especialmente em Darfur, onde foram associadas a repressões e ataques contra civis.


[2] As Forças Armadas Sudanesas (FAS) são o principal ramo militar do Sudão, encarregado da defesa do país e da proteção de sua soberania. Além de atuar em conflitos internos e mudanças de governo, as FAS têm sido acusadas de violações de direitos humanos, especialmente em Darfur, onde foram associadas a repressões e ataques contra civis.

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