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Foto do escritorClandestino

Encrenca no primeiro dia na Índia

Novembro de 2016


Dessa vez acho que abusei no diazepam. Me lembro vagamente da escala em Dubai e menos ainda de como chegamos até aqui. A Di me disse que passamos na imigração sem problemas - não lembro -, disse que fizemos o câmbio - também não lembro - e por fim pegamos um metrô - lembro menos ainda. Está tudo nublado na minha cabeça, sei que a viagem durou mais de 40 horas entre um voo, a escala e a chegada em Nova Délhi, mas para mim parece que durou apenas alguns minutos; me sentia como quando você cochila no sofá assistindo a um filme chato e quando acorda nem sabe onde parou.


A primeira recordação que tenho é de descer de um tuc-tuc e entrar em um escritório, no qual o atendente dizia que era uma agência de viagens. Aos poucos fui voltando ao normal e me liguei que o indiano estava tentando nos vender um tour por toda a Índia, com passagens, hospedagem e passeios. Foi como um balde de água fria na cara. Era golpe. Acordei. Estava de volta e não iria ser enrolado logo no primeiro dia.


Felizmente, temos uma sintonia muito boa. Às vezes, quando estou em estágio de coma, a Di vai me brecando de fazer cagadas, e às vezes… Não, não, na verdade eu sou o único a dar esse tipo de mancadas.


Agradecemos ao vendedor do tour dos sonhos e caminhamos em direção à porta. O cara ficou furioso, gritou e me empurrou, como querendo me intimidar. Cara, aquelas boas-vindas também me irritaram. Eu não vim para a Índia para arrumar encrenca, mas também não vim para ser enrolado. Ele começou a subir o tom e eu comecei a subir também. Ele gritou os palavrões dele em hindi e eu gritei os meus em português.


Saímos dali meio que desacreditando da tentativa de golpe com agravante de intimidação, mas ambos somos pobres criados em periferias, não chegamos à vida adulta com medo. Aprendi desde pivete que para ganhar uma luta sem precisar lutar é só gritar mais alto. E enquanto ele gritava algo que eu não compreendia, eu gritava “ não fode! sou brasileiro, seu arrombado!”

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