manifesto clandestino
Em 7 de outubro de 2023, Israel desencadeou mais um episódio de limpeza étnica contra o povo palestino. Para mim, Lucas Siqueira, e minha esposa, Diana Emidio, esse evento marcou uma virada radical.
Havíamos retornado da Palestina há poucos meses, após uma viagem que não só transformou nossas vidas pessoais, como também foi a base para minha pesquisa científica "Artigo 19: Violação da Liberdade de Opinião e Expressão na Palestina". Essa pesquisa, aceita pela universidade no mês anterior ao 7 de outubro, deveria ser apresentada publicamente no final daquele mês. No entanto, foi boicotada devido à "imparcialidade" da instituição, que preferiu não se comprometer com a opinião pública sionista. Esse boicote resultou na transformação da pesquisa para o livro de mesmo nome. Escrevi todo seu conteúdo em uma linguagem mais acessível a todos e disponibilizei gratuitamente para que mais pessoas pudessem entender o genocídio palestino e seu impacto devastador sobre os jornalistas.
Foi a frustrante experiência deste episódio que desencadeou a criação desta organização. Quando Diana me acordou com o vídeo de Benjamin Netanyahu declarando guerra em 7 de outubro, a urgência se tornou clara: eu precisava reativar a única rede social da qual havia me distanciado há quase um ano e compartilhar o que tinha onde as pessoas realmente estão. Por mais que eu odiasse a ideia, eu precisava retornar às redes sociais.
Mudei o nome do meu perfil pessoal para "Artigo.19", uma referência ao artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos e à pesquisa sobre liberdade de opinião e expressão, e comecei a usar as redes não mais como perfil pessoal, mas pura e exclusivamente para denunciar os crimes cometidos com a conivência e participação direta da grande "Indústria da Desinformação". Mas isso não era suficiente!
Em dezembro de 2023, estivemos em Cuba, onde fui convidado a visitar a sede do Prensa Latina em Havana. Foi lá que a verdade se revelou: toda revolução começa com um jornal clandestino. Essa compreensão foi a fagulha que eu precisava. Ao retornar, mergulhei na criação de um método para desafiar e reinventar a forma como jornais, jornalistas e o público se relacionam.
Originalmente, pretendia utilizar o nome "Artigo.19" para este projeto. No entanto, ao redigir o manifesto, surgiram dois problemas principais: primeiro, o nome já estava em uso; segundo, "Artigo.19" estava fortemente associado ao trabalho com a Palestina. Dado que nossa missão é lutar por justiça social sem fronteiras, o nome não se adequava mais ao novo escopo do projeto. Assim, para capturar a essência subversiva e revolucionária que buscamos, decidimos adotar um novo nome que refletisse melhor a nova abordagem. Portanto, o nome "Artigo.19" dá lugar a "Clandestino", que a partir deste momento será ampliado com a colaboração de outros camaradas tão subversivos e putos com esse sistema quanto eu.
Imparcialidade
Valores Fundamentais
Independência Editorial: Compromisso com a produção de conteúdo livre de interferências externas.
Transparência: Práticas claras e abertas sobre financiamento, processos editoriais e distribuição de recursos.
Responsabilidade Social: Compromisso com a verdade, justiça social, direitos humanos e sustentabilidade.
3. Modelo de Financiamento
Financiamento Público: Descreva como a mídia será financiada pelo público, garantindo independência de grandes anunciantes.
Transparência Financeira: Detalhe como as finanças serão geridas e como o público terá acesso a essas informações em tempo real.
4. Remuneração Justa
Pagamentos Proporcionais: Explicar o sistema de remuneração dos colaboradores baseado na visibilidade e impacto de suas contribuições.
Equidade e Justiça: Garantir que todos os colaboradores sejam remunerados de forma justa, sem favoritismos.
5. Governança e Participação
Estrutura de Governança: Detalhe a estrutura de governança da mídia, incluindo a participação do público e dos colaboradores nas decisões estratégicas.
Feedback e Melhoria Contínua: Mecanismos para receber e incorporar feedback do público e colaboradores.
6. Práticas Editoriais
Compromisso com a Verdade: Dedicação à precisão, verificabilidade e integridade jornalística.
Diversidade e Inclusão: Garantir a representatividade de vozes e perspectivas diversas.
Inovação e Qualidade: Promoção de formatos inovadores e de alta qualidade editorial.
7. Transparência Operacional
Acesso a Informações: Facilitar o acesso do público às informações sobre o funcionamento da mídia.
Relatórios Regulares: Publicação de relatórios periódicos sobre atividades, finanças e impactos.
8. Independência Política
Neutralidade: Compromisso em não se alinhar com partidos ou agendas políticas específicas.
Foco no Interesse Público: Priorizar questões de relevância pública e bem-estar social.
9. Engajamento Comunitário
Plataformas de Participação: Criar canais para que o público participe ativamente na criação e avaliação do conteúdo.
Educação e Capacitação: Oferecer programas de educação midiática para o público, fortalecendo a capacidade crítica e de produção de mídia independente.
10. Conclusão
Convite à Ação: Convidar o público a apoiar e participar do projeto, destacando a importância da colaboração coletiva para uma mídia verdadeiramente independente e transparente.
Compromisso Contínuo: Reafirmar o compromisso contínuo com os valores e princípios estabelecidos no manifesto.
Dicas para Redação
Clareza e Objetividade: Use uma linguagem clara e direta.
Paixão e Convicção: Transmita a paixão pelo projeto e a convicção nos valores defendidos.
Exemplos Concretos: Sempre que possível, inclua exemplos concretos que ilustrem os pontos abordados.
Chamadas para Ação: Incentive o público a se engajar e apoiar a iniciativa.
Em 7 de outubro de 2023, Israel deu início a mais um episódio de limpeza étnica contra o povo palestino. Havíamos (Lucas Siqueira e Diana Emidio) voltado da Palestina há poucos meses, uma viagem que serviu tanto como experiência pessoal quanto para a conclusão da pesquisa científica "Artigo.19: Violação da Liberdade de Opinião e Expressão na Palestina", que posteriormente se tornou um livro com o mesmo título. A pesquisa foi entregue à Universidade e aceita no mês anterior ao 7 de outubro, mas sua apresentação pública, prevista para o fim de outubro, foi boicotada devido à "parcialidade" da instituição que se recusou a se comprometer com a opinião pública. Diante disso, adaptei a pesquisa o mais rapidamente possível para transformá-la em livro, disponibilizando-o gratuitamente para que mais pessoas pudessem alcançar seus resultados e compreender o genocídio palestino – especialmente no caso dos jornalistas – que estava por vir. Este foi o pontapé inicial do que viria a se tornar esta organização clandestina.
Quando minha esposa, Diana Emidio, me acordou com o vídeo de Benjamin Netanyahu declarando guerra naquele 7 de outubro, reativei a única rede social da qual estava desintoxicado há quase um ano; sabia que, para disseminar o conhecimento adquirido estudando e reportando sobre o genocídio palestino desde 2020, precisava falar onde as pessoas realmente estão: nas redes sociais.
Converti o nome do meu perfil público para "Artigo.19", em referência ao artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos sobre a liberdade de opinião e expressão, e comecei a usar as redes com esse intuito. Não foi suficiente! Portanto, após visitar a sede do jornal Prensa Latina em Havana, Cuba, percebi, através de sua história, que poderia começar como todas as revoluções começam: através de um jornal.
No entanto, não concordava com os métodos e os preceitos técnicos com que o jornalismo circula – por isso escrevo este manifesto, no qual pretendo responder a todas as perguntas referentes à circulação desta organização. Optei por tentar corrigir o que o jornalismo corporativo não está disposto a mudar, principalmente nos quesitos:
Imparcialidade
Formatos editoriais
Transparência financeira
Propaganda
Consumidor
Dessa forma, do caos da comunicação em conluio com o caos humanitário que estamos vivendo, surge a ideia de oficializar um projeto de comunicação. Reunindo ideias com um time multidisciplinar que envolve jornalistas, artistas e ativistas – os mais vulneráveis às violações do Artigo 19 da DUDH – pensamos em formatos editoriais que não estejam rendidos às corporações capitalistas e que remunerem todos os colaboradores por suas contribuições. Sim, pagar pelas contribuições de comunicação, o que pode soar estranho – caso você não seja de uma dessas áreas da comunicação – mas é algo inédito para muitos profissionais com anos de experiência em suas profissões. No entanto, se a ideia é audaciosa e serve como esperança para uma nova forma de jornalismo e comunicação, precisamos colocá-la em prática. E para isso, para continuarmos trabalhando e remunerar os profissionais que colaboram, precisamos também da sua colaboração. Toda a receita financeira deste site é dividida entre os colaboradores conforme nossa política de remuneração. Em resumo: recebemos diretamente do público, quebrando assim o ciclo de corrupção que obriga os profissionais a tomarem tendências ou posicionamentos em favor dos burgueses e contra a classe trabalhadora.
Remuneração de Profissionais
Pode soar um absurdo, mas a maioria das postagens em sites de notícias que você lê internet foram escritas ou por autores que não foram pagos ou, no pior dos casos, por inteligência artificial.
Esses autores, sejam eles jornalistas ou profissionais de outras áreas convidados a dar um parecer técnico de determinado assunto, são chamados de colaboradores, o que não passa de um eufemismo para "contribuição gratuita involuntária". Porém, se um site está no ar é porque de alguma forma ele está sendo financiado, seja por via de anúncios, propagandas ou financiamento político, dessa forma, por mais que aqueles profissionais que contribuem com artigos não estejam sendo beneficiados financeiramente, alguém está!
Se tais profissionais não são pagos, por que continuam contribuindo?
Existem muitos motivos que respondem essa pergunta. Em primeiro lugar, aqueles que optam pelo jornalismo, ativismo ou artes como profissão, possuem uma necessidade de que seu trabalho seja visto, pois só assim poderá continuar praticando-o. Um artista precisa que sua arte seja vendida para que ele possa financiar sua próxima produção, um ativista ambiental precisa que sua voz seja ouvida para que ele possa conseguir financiamento para projetos de preservação e no caso do jornalismo, um jornalista precisa ser lido e remunerado por isso para poder continuar suas investigações e continuar atuando como vigilante da democracia e da ordem social. Mas existe ainda outra resposta ainda mais inata para a pergunta. Um artista pode acumular suas obras em sua casa e por mais que não seja remunerado, ele continua produzindo, porque essa é sua natureza; o ativista, por mais que não seja remunerado, não desiste de lutar por aquilo que acredita; e o jornalista, por mais que não seja remunerado, continua escrevendo, pois sabe o poder que suas palavras tem e para alcançar alguém que delas necessite, ele escreve.
Essa situação alimenta um ciclo que não beneficiará – há exceções – os profissionais cujo maior desejo é que sua voz seja ouvida, pelo contrário. Existem leis que garantem que músicos que toquem em um bar recebam o "cover", mas não temos as mesmas leis para as empresas de comunicação e, mesmo para os músicos, tal lei não garante que o dono do estabelecimento não queira trocar seu trabalho em cerveja, isso se o músico tiver sorte.
"Clandestino" nasceu exatamente da necessidade de um jornalista em ser ouvido e ser remunerado para que pudesse continuar sua colaboração, portanto, se compromete em remunerar todas as contribuições de agentes externos.
Como são feitas as remunerações?
Todo valor arrecadado de financiamento público é distribuído entre todos os colaboradores com base no percentual de visualizações de suas publicações. Por exemplo, se arrecadarmos R$ 1.000 e tivermos 10 publicações de diferentes colaboradores, somamos as visualizações de cada publicação para calcular a porcentagem de visualizações que cada um teve em relação ao total. Em seguida, pagamos a cada colaborador proporcionalmente a essa porcentagem. Vamos detalhar com um exemplo:
Financiamento Publico
Uma forma eficaz de romper com o ciclo corporativo da informação é conceder à sociedade o direito de ser a financiadora de projetos de comunicação, em vez de permitir que empresas imponham suas linhas editoriais de acordo com suas demandas e agendas políticas. Quando a mídia é financiada por grandes corporações, os interesses dos anunciantes muitas vezes prevalecem sobre os interesses do público, resultando em uma cobertura jornalística tendenciosa e alinhada aos objetivos dessas empresas.
Ao permitir que o público seja o principal financiador, criamos um modelo de comunicação mais transparente e responsável. Nesse sistema, os jornalistas são incentivados a produzir conteúdo que realmente interesse e beneficie a sociedade, ao invés de focarem em temas que atendam às prioridades dos anunciantes. Essa abordagem não só democratiza a informação, mas também fortalece a confiança entre o público e os meios de comunicação.
Imagine um cenário onde os jornalistas são diretamente remunerados pelo público. Isso significa que eles se dedicarão a investigar, reportar e escrever sobre questões que realmente importam para a comunidade, proporcionando uma cobertura mais honesta, diversificada e alinhada com os interesses reais da sociedade. O público, por sua vez, tem o poder de apoiar financeiramente os jornalistas e projetos que julgam ser de maior relevância e qualidade, criando um ciclo virtuoso de valorização da informação verdadeira e significativa.
Esse modelo de financiamento público também promove a independência editorial. Sem a pressão de agradar a grandes anunciantes, os jornalistas podem trabalhar com maior liberdade, explorando temas muitas vezes negligenciados ou evitados pelos meios tradicionais. Temas como direitos humanos, justiça social, meio ambiente, entre outros, podem receber a atenção merecida, contribuindo para uma sociedade mais informada e consciente.
Portanto, ao redefinir quem financia a informação, passamos a dar voz ao verdadeiro interesse público e rompemos com a lógica corporativa que muitas vezes distorce e manipula a realidade. A sociedade, ao se tornar a principal financiadora, assume um papel ativo na construção de uma comunicação mais ética, plural e democrática.
Como funciona o nosso financiamento público?
Nosso modelo de financiamento público é projetado para garantir transparência, responsabilidade e equidade tanto para os jornalistas e colaboradores quanto para os financiadores. As contribuições são feitas por meio de um canal externo, acessível a todos os envolvidos em tempo real.
Aqui está como funciona:
Plataforma de Financiamento: Utilizamos uma plataforma de financiamento externa e segura, onde todos os detalhes das contribuições são registrados e disponibilizados em tempo real. Isso significa que qualquer pessoa – seja jornalista, colaborador ou financiador – pode acompanhar o fluxo de recursos de forma transparente.
Acesso em Tempo Real: Todos os envolvidos têm acesso imediato às informações sobre as contribuições. Isso inclui o montante arrecadado, a origem dos fundos e a distribuição dos recursos. A transparência total é fundamental para garantir que todos saibam exatamente como os recursos estão sendo utilizados.
Distribuição dos Recursos: Os valores arrecadados são distribuídos entre os colaboradores com base na visibilidade e impacto de suas publicações. Cada colaborador recebe uma porcentagem dos fundos proporcional às visualizações de suas matérias. Isso incentiva a produção de conteúdo de alta qualidade que realmente ressoe com o público.
Transparência e Equidade: Ao utilizar uma plataforma externa e aberta, eliminamos qualquer possibilidade de manipulação ou favoritismo. Todos os colaboradores têm as mesmas oportunidades de receber financiamento, baseando-se exclusivamente na aceitação e relevância de seu trabalho pelo público.
Engajamento do Público: Ao financiar diretamente os jornalistas e colaboradores, o público tem um papel ativo na determinação dos temas e questões que são cobertos. Isso cria uma comunicação mais alinhada com os interesses e necessidades reais da sociedade, fortalecendo a conexão entre os produtores de conteúdo e seus consumidores.
Relatórios e Feedback: Regularmente, disponibilizamos relatórios detalhados sobre a arrecadação e distribuição de fundos. Também incentivamos o feedback dos financiadores para melhorar continuamente nosso sistema e garantir que ele atenda às expectativas de todos os envolvidos.