top of page
Foto do escritorSiqka

Outro jornalista da família Murtaja assassinado

Hoje, mais uma vez, é preciso parar para mandar uma mensagem de pêsames para um amigo em Gaza. Foi assassinado em um bombardeio Hamza Murtaja, jornalista e também irmão dos jornalistas Motassem Murtaja e Yasser Murtaja, também assassinado por um tiro de munição expansiva durante a Grande Marcha do Retorno em Gaza, em 2018.


Em 2019, li uma notícia sobre um fotojornalista baleado no olho por cobrir um assassinato na Cisjordânia. Quase não acreditei no que estava lendo. Aquele jornalista era Muath Amarneh, que posteriormente se tornaria um dos irmãos mais queridos que fiz durante toda a vida. Quando entrevistei Muath, ele me contou diversos outros casos de violência contra jornalistas. Desde então, essa se tornou minha porta de entrada para toda a violência na Palestina, uma porta que se abriu e à qual me dediquei a jamais fechá-la até que não precisemos mais enviar mensagens de pêsames para amigos que tiveram suas casas bombardeadas e suas famílias destroçadas por bombas, tiros e outras atrocidades.


Muath me passou o contato de vários outros jornalistas com histórias tão trágicas quanto a sua, e até piores. Um deles foi Motassem Murtaja. Motassem é um jovem jornalista que aprendeu tudo o que sabe sobre fotografia, vídeo e pós-produção com seu irmão Yasser, que foi baleado em 2018 e faleceu a caminho do hospital. A história de Yasser Murtaja é lamentável. Como fotógrafo, seu sonho era poder viajar de avião, fotografar e fazer vídeos de outros lugares que não fossem Gaza, da qual ele, desde seu nascimento, foi impedido de sair ou de conseguir comprar equipamentos novos legalmente.


Mas uma coisa leva a outra, e um crime, infelizmente, leva a milhares de outros. Motassem me passou o contato de outra dúzia de jornalistas com histórias semelhantes à de seu irmão assassinado. Foi aí que comecei a documentar e reportar especificamente sobre a violência cometida contra os jornalistas. Nesses poucos anos, já perdi a conta de quantas vezes tive que mandar mensagens para a Palestina após um bombardeio ou um ataque a um campo de refugiados para saber se os amigos estão vivos e bem; tive que criar uma lista de transmissão no WhatsApp para ter respostas mais rápidas. Mas hoje, eu não precisei dessa lista, o alvo foi específico e, mais uma vez, um jornalista da família Murtaja.


Escrevo essas palavras porque me faltam palavras para escrever para o amigo Motassem. O que posso dizer além de "sinto muito por sua perda"? É cada dia mais difícil conversar com alguém em Gaza, principalmente nessas condições... O que devo dizer? – Como você está? É claro que eles não estão bem, é claro que eles têm fome, é claro que eles têm medo, é claro que apenas esperam o momento da morte certa. Mas eles sempre respondem "estou bem, irmão" e, para piorar, nunca deixam de completar "e você e sua família, como estão?".


Eu queria ter a coragem de dizer que estou fudido mentalmente por causa da minha incapacidade de fazer qualquer coisa que possa ajudar, mas nem isso eu posso dizer, pois seria uma injustiça do caralho, eu, da segurança do meu lar, dizer isso para alguém que não sabe quando vai morrer e se morrerá de fome ou por uma bomba na cabeça. Então eu só respondo que estou bem também, e as conversas vão ficando cada vez mais curtas.


Mas esse texto não é apenas um desabafo pessoal; ele serve como um grito no escuro, o mesmo grito que sei que milhares de pessoas, que assim como eu, mesmo não estando na linha de frente desse massacre, estão gritando para dizer "parem com essa merda, não aguentamos mais".


Hoje, com o assassinato de Hamza Murtaja, encurta mais um pouco minha conversa com os amigos palestinos em Gaza e na Cisjordânia. Preciso dar tempo para que meu amigo Motassem possa enterrar seu irmão – se é que será possível – para dizer a ele que ainda estou aqui, e que, embora a vontade seja se trancar, desligar-se das notícias, ainda sigo no compromisso que me coloquei quando disse que jamais abandonaria meus irmãos enquanto eles não tiverem seu estado e a liberdade de me receber em suas casas para um café, ou que possam sair desse campo de extermínio para me visitar.


Ana ibn el-mukhayam!!!


Outras matérias sobre jornalistas palestinos:





Creative Commons (1).webp

ÚLTIMAS POSTAGENS

bottom of page