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Foto do escritorSiqka

Pare de impor sua verdade, pois ela pode ser válida para você, mas não necessariamente para os outros!

Normalmente, evito me envolver em discussões nas redes sociais, não por achar que sou superior, mas porque percebo que muitos estão mais interessados em impor suas próprias verdades do que em ter uma verdadeira troca de informações. — Mas não estou eu fazendo o mesmo com cada publicação ou argumento que faço? Talvez sim, talvez não, dependendo da interpretação de cada leitor.


Hoje, em uma dessas raras exceções em que decidi debater, percebi que o diálogo estava se desviando para algo que não tinha relação com o assunto inicial, simplesmente para afirmar que a verdade do outro se sobrepunha à minha. Pode ser que o outro estivesse certo, ou não; essa discussão já ficou para trás e não me incomoda mais. O que desejo destacar aqui é uma reflexão diferente sobre a imposição da verdade.


Na discussão que mencionei anteriormente, a “imposição da verdade” foi sustentada por citações de pensadores renomados. A partir disso, exploraremos o conceito sob essa perspectiva e, mais adiante, explicarei o motivo.


Sócrates, considerado o pai do pensamento ocidental, acreditava que a verdade é uma só, mesmo que não saibamos qual é. Ele é conhecido por dizer "só sei que nada sei", mas em um dos diálogos de Platão, ele parece contradizer isso ao afirmar que “se há algo que sei é sobre o amor”. Apesar disso, Sócrates não se via como possuidor da verdade absoluta, mas como alguém em busca constante dela.


Para Sócrates, a verdade estava intimamente ligada ao conheci-mento e à virtude. Ele acreditava que o verdadeiro conhecimento leva à virtude e que a ignorância é a raiz do mal. Em outras palavras, conhecer a verdade sobre o que é certo e justo leva a viver de acordo com essas verdades.


Platão, discípulo de Sócrates, tinha uma visão diferente. Ele via a verdade como algo absoluto e eterno, existente no mundo das Ideias ou Formas. Para Platão, o mundo sensível é uma cópia imperfeita do mundo das Ideias, e a verdade reside nas Formas puras e imutáveis, como a Forma do Belo e da Justiça.


Aristóteles, que continuou a tradição filosófica de Sócrates e Platão, adotou uma abordagem mais prática, definindo a verdade como a correspondência entre as afirmações e a realidade. Em sua obra Metafísica, ele expressa a famosa definição: "A verdade é dizer o que é o que é, e o que não é o que não é."


A discussão sobre a verdade se torna ainda mais complexa ao longo da história. São Agostinho via a verdade como uma realidade absoluta revelada por Deus, enquanto São Tomás de Aquino acreditava que a verdade pode ser conhecida tanto pela razão quanto pela revelação divina. René Descartes chegou à conclusão de que a única certeza é sua própria existência, resumida na máxima "Penso, logo existo," ligando a verdade à clareza e distinção das ideias. Immanuel Kant, um dos pensadores mais influentes, abordou a verdade criticamente, argumentando que conhecemos o mundo não diretamente, mas através das nossas estruturas cognitivas. Para Kant, a verdade é condicionada pela maneira como nossa mente organiza a experiência. Friedrich Nietzsche via a verdade como algo relativo, influenciado por forças de poder e interesses culturais, enquanto Michel Foucault investigou a relação entre poder e verdade, argumentando que o que é considerado verdadeiro é determinado por sistemas de poder e discursos dominantes.


Então, o que tudo isso significa, após 2.500 anos de pensamento humano? — Porra nenhuma!


Não estou desmerecendo a evolução do pensamento ocidental, mas acredito que precisamos de um choque para reavaliar nossa conversa. O que estou dizendo é que citar o que cada autor pensava sobre a “verdade” apenas revela que eu sei o que eles diziam, o que não quer dizer que eles estão absolutamente certos ou errados; isso é o que eles sabiam e não o que eu sei.


Ainda, se usamos apenas o pensamento ocidental para definir o que é verdade, estamos impondo essas "verdades" a outras realidades. Será que apenas os pensadores ocidentais têm algo relevante a dizer? Não estaríamos ignorando outros pensadores, como Sidarta Gautama, Confúcio ou Jesus Cristo, que também têm perspectivas valiosas e que, por sinal, são todos orientais?


Quando digo que precisamos parar de impor nossas verdades, é porque, se nem mesmo essas grandes mentes chegaram a um consenso sobre o conceito de verdade, é improvável que eu e você o façamos. O importante é entender o que a "verdade" significa para nós e respeitar o que representa para os outros, afinal, o mundo é grande pra caralho e as pessoas são bem diferentes umas das outras.


Talvez conceitos como liberdade e justiça não tenham o mesmo significado para os indianos, chineses e franceses. O que para nós, brasileiros, pode ser visto como patriarcado, pode ser interpretado em outras culturas como uma relação de amor e cuidado paternal. Isso não importa, assim como não importa se o meu conceito de “verdade” corresponde ou não ao seu. Vou repetir mais uma vez: este é o meu entendimento de verdade, e você não deve segui-lo, pois posso estar errado. No final das contas, o que realmente importa é que nenhum conceito de verdade — seja o meu, o seu ou de qualquer filósofo fodão — deve se sobrepor ao que as outras pessoas acreditam para si mesmas. Pare de discutir o que é verdade; você pode estar apenas repetindo o que alguém disse antes. Seria mais interessante se, ao invés de impor a verdade que o outro disse, você buscasse por si mesmo o que a verdade significa para você!

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