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Quem dera se o irmão fosse bastardo! É muito pior!

Jeanderson Mafra


Para toda conversa sobre a questão Palestina, dificilmente não se insurge aquele lugar-comum, um "argumento" clichê que põe a pedra de silêncio sobre a carnificina em curso, num tom solene:


"Querido, aquilo é uma guerra entre irmãos! Está na Bíblia que eles iam guerrear!"


Ora, esta é uma das barragens retóricas soberanas que mais fortalecem a Ocupação no imaginário popular. Utilizada para legitimar a continuidade dos massacres e da limpeza étnica contra os irmãos deserdados. "Esta terra é minha, eu sou o primogênito. Você vendeu sua primogenitura por um prato de guisado!"


E se tudo se explica assim nas milhões de cabeças cristãs ao redor do mundo que fazem lobby pró-Israel, assim é. Parece bobagem isso, mas é assim que a banda toca. Se eles são irmãos ou primos, o genocídio está determinado por "Deus" e pela sua profecia bíblica. Estava escrito! Maktub!


É este o enredo prescrito nas escrituras e observado na agenda geopolítica, que o digam os "Acordos de Abraão" consturado pelo antes e atual Presidente dos EUA, Donald Trump. Mas ninguém repara nisso: na falsidade ideológica e científica deste "argumento".


"Deixemos as lágrimas, o sangue e as pedras rolarem!"

"Nada pode ser feito contra os desígnios divinos!"


Na mentalidade geral do Ocidente, a indiferença ao sofrimento palestino e aos crimes contra a humanidade cometidos por Isaac são legítimos.


Esta assertiva e consenso sobre os herdeiros é tão inocente - aceita como verdade incontestável até em alguns círculos da solidariedade internacional - que coloca o sionismo no páreo, em pé de igualdade por um "direito" inalienável à terra; justifica o sionismo em seu papel de opressão e "defesa" contra seus primos árabes. O mundo todo torce agora, não pelo fim dos massacres - verdadeiros espetáculos de derramamento de sangue a granel, substituindo o fetiche voyeurista obtido no Coliseu (hoje todos gratificam seu sadismo da poltrona assistindo TV) - mas para que Isaac e Ismael, Esaú e Jacó se entendam na partilha de sua herança (maldita?) como dois irmãos que precisam entender que o ódio descomunal em razão de uma terra arrasada, não leva à paz apregoada pelos profetas.


Mesmo não possuindo qualquer vínculo com o lendário Abraão, os sionistas do Cáucaso, vindos da Europa e de outras localidades do mundo, se aproveitam da "boa-fé" cristã para nutrir sua doutrina assassina e grilar terras com um falso documento de posse da Palestina histórica. Não são primos dos árabes e nem sobrinhos de Ismael como a própria história, genética e arqueologia já demonstraram. Tudo não passa de mito!


O mito é a grande força que rege as relações internacionais na tragédia dos palestinos. É uma espiritualidade política - para utilizar o conceito foucaultiano - que sustenta o pano de fundo da poderosa mística sionista. Uma espiritualidade que embota a resolução e sabota os palestinos em sua política externa.


Miseravelmente, milhares de árabes acreditam nessa mística, e vivem a apregoar a qualidade de um irmão, sequer, bastardo.



Jeanderson Mafra, membro-fundador da Aliança Palestina-Maranhão; Mestre em Letras. Autor do livro "Discurso, Sujeito e Verdade: um arquivo judeu na historiografia do Maranhão"

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