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Foto do escritorSiqka

Os véus e o preconceito "velado" do ocidente em relação à cultura, religião e à mulher no oriente

Mulheres são mulheres em qualquer parte do mundo. Seja no Brasil, Afeganistão ou Austrália, todas carregamos o peso das culturas e costumes de nossas próprias sociedades; isso sem contar o peso de nossas próprias histórias. Antes de vir para Palestina, eu e o Lu conversamos muito sobre a posição da mulher nas sociedades do Oriente Médio e principalmente nas comunidades islâmicas. Eu tinha uma visão muito diferente. Quando estivemos no Egito, vi uma cena muito impactante para mim, uma mulher de burkini na praia e ao lado uma jovem europeia fazendo topless – isso sem falar no camelo. Fiquei pensando o quão a vida daquelas mulheres é diferente da minha. Desde que passei por essa cena, o uso ou não do véu é algo que tem me intrigado. Apesar de Turquia, Egito e Palestina estarem no Oriente Médio e todos serem países predominantemente islâmicos, o uso do véu, hijab, xador, niqab ou burca são bem diferentes: na Palestina usa-se bastante; no Egito bem menos; na Turquia menos ainda. Isso porque em todos esses países cobrir a cabeça é, ou deveria ser uma escolha.

 

Costumamos pensar – eu pensei um dia – que o véu havia sido uma criação islâmica. A religião teve papel fundamental na adoção dessa prática, mas longe de ter sido inventada por ela, menos ainda da maneira como vemos. O uso do véu vem bem antes do surgimento do islã. Você já parou para pensar que Maria, mãe de Jesus, usava véu? Ela não era muçulmana.

 



O véu se originou nos seios de antigas culturas indo-europeias[1]. Em um texto assírio datado do século anterior a Era Comum, a prática do véu é mencionada como reservada às mulheres de famílias ricas e proibido para mulheres pobres. Além de proibidas de usar o véu, se fossem pegas, essas mulheres eram castigadas; e olha que naquela época o apedrejamento estava na moda. – Mas não está fazendo sentido, né! Vou chegar lá. – O véu era destinado somente para as mulheres ricas para evitar que as filhas ou esposas de alguém “importante” fosse molestada, violentada ou sofresse qualquer outro tipo de agressão, “comum” às mulheres de todas as épocas. As mulheres ricas eram vistas como joias preciosas e intocáveis. Por isso as mulheres pobres eram proibidas de usar; essas sim podiam ser estupradas ou agredidas na rua sem ninguém se importar ou apedrejar um homem por isso.

 

Com a revelação da palavra de Deus ao profeta Muhammad, para evitar que as mulheres muçulmanas fossem tocadas pelos homens – principalmente os bizantinos e cruzados cristãos – o véu foi designado para todas as mulheres muçulmanas; ricas, pobres, brancas ou negras, absolutamente todas! Aos olhos do islamismo, e do profeta, todas as mulheres eram intocáveis.

 

Ficou fácil para mulheres cristãs questionar o uso ou proibição de um país com outra cultura e outra religião. Comecei a perceber os olhares das pessoas nas ruas do Brasil quando veem uma mulher de véu ou hijab; eu mesma já usei e uso. Os olhares não são só de curiosidade, são de preconceito e discriminação, dessa maneira me pergunto: – Não seria o preconceito, o machismo, a misoginia, e a discriminação uma prática mais velada e comum de nossa sociedade?



 

[1] Originários das estepes da Ásia central ou dos planaltos iranianos que se expandiram para a Europa, Pérsia e península da Índia. Por volta do II milênio a.C., o grande movimento migratório de leste a oeste dos povos que falavam línguas da família indo-europeia terminou.

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